CAPÍTULO 13 ⸺ BECKETT

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A biblioteca abriu às seis horas da manhã como de costume. Ao entrar, a primeira coisa que fiz foi devolver o livro sobre venenos que eu estava lendo. Em seguida, peguei outro livro da mesma série do que livro que devolvi. Sentei-me numa mesa qualquer e, sem reparar, ela estava ali, na minha frente... Estava tão distraída com a leitura que nem me viu, assim como eu quase não a vi.

Preferi não atrapalhar sua leitura, que lhe parecia tão interessante. Ela estava focada, mal piscava seus olhos cor de chocolate amargo. Colocou uma mecha de seus cabelos castanhos e lindos atrás de sua orelha, pois uma mecha de seu cabelo caiu sob meu rosto, atrapalhando-a. Eu poderia ficar bem ali admirando sua beleza, mas me preocupei em não parecer bobo, ou até mesmo a distrair de seu foco. Especialmente pelo motivo de que ela mesma me contara de antemão: sua ansiedade a distrai. E eu não gostaria de ser esse gatilho.

Lua Armani lia um livro sobre feitiçaria branca e contra-feitiços para feitiçarias sombrias. A última vez que a vi foi na matéria da semana passada na qual somos da mesma classe. Poderia ser minha impressão, mas sempre parecia que ela estava ocupada. Talvez fosse apenas uma desculpa para me evitar, então preferi não tentar mais nada. No entanto, ela acabara de me ver e sorrir pra mim quando eu já tinha aberto meu livro.

– Como vai Beckett? – perguntou gentilmente com um sorriso largo no rosto.

– Eu vou bem e você? – retribuí com outro.

– Estou bem, na medida do possível. Estudando muito, na verdade. Não te vejo já faz alguns dias. É bom ver você... - o sorriso aberto se converteu para um de boca fechada.

– Eu também sinto prazer em ver você.

Nos olhamos por alguns segundos e o clima ficou sem graça. Voltei a ler meu livro, assim como ela fez com o dela. Foram algumas horas de estudo antes de eu sair da biblioteca direto para a aula. Lua saiu antes de mim, sorrindo ao me dar tchau. Eu ainda não tinha encontrado a resposta que eu procurava sobre uma certa poção. Estive estudando isso há meses... e meu tempo estava se esgotando. Eu estava tentando encontrar uma cura para o envenenamento que minha mãe sofreu. E depois que eu achar a cura, vou procurar o culpado e ele vai pagar. Minha mãe estava na UTI em coma há seis meses. Nesse tempo eu cuidei sozinho dos meus irmãos, enquanto fazia os cursos e trabalhava nas missões. Guardei isso pra mim o tempo todo. Há seis meses estou sofrendo com isso. E sozinho.

Após o término da última aula, fui até a casa da minha prima, Merlin, para ver como estava após o atentado na boate causado por Tormenta. O repouso dela fazia alguns dias, e com tudo que venho resolvendo não tive tempo antes. Os compromissos da família pesavam muito em minha cabeça e o caso da minha mãe me preocupava ainda mais. O incidente da minha prima não ajudou com tudo isso. Chegando na casa dela, toquei a campainha e fui atendido por Merlin, que aparentava estar melhor do que apareceu nos noticiários e de quando nos falamos pelo comunicador.

– Quem é vivo sempre aparece! – disse a moça com um sorriso de canto e mão na sua cintura fininha.

Eu sorri e nós entramos para dentro da sala dela. O cômodo era tão chique quanto o jardim daquela mansão, um fato já que faziam parte da família real de Néfus. Merlin trouxe um chá e eu permaneci sentado na mesa até ela chegar.

– Como você tem estado? Me parece muito melhor.

– Estou melhorando sim, já se passaram dez dias

– Me desculpe por não ter vindo te visitar antes, eu andei ocupado...

– Está tudo bem, Beckett, não precisa se explicar. Como vai minha tia?

– Então... é sobre isso mesmo que estou me mantendo ocupado.

– Aconteceu alguma coisa com ela? Nunca mais nos falamos... – e riu - Viu só! Eu também andei ocupada ultimamente.

O Despertar do AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora