Razão de Ser

19 0 0
                                    

       Durante o processo de pesquisa para a construção do corpo do livro, eu tive que durante o ânimo inicial com a causa dos trabalhadores, ao mesmo tempo, ter que encarar um tremendo de um pavor, pois afinal, quanto mais eu pesquisava e encontrava retratações, fossem históricas ou ficcionais de comunistas, mais eu me assustava com o futuro desgraçado de quem luta pelo certo. Certo pelo certo.

        No filme Marighella de Wagner Moura, só dor, sofrimento e mortes violentas. O guerrilheiro é metralhado pelas forças policiais, mesmo que numa visão "realista", pode-se notar algum sadismo tarantinesco nas produções em matar comunistas. E olha que eu adoro Tarantino. Em "O Que é Isso, Companheiro?" Temos tortura, afastamento da família e exílio. Eram jovens de vinte e alguns poucos anos. "Os 7 de Chicago", jovens de esquerda sendo condenados devido aos efeitos de uma manifestação. Em "Judas e O Messias Negro", Fred Hampton morto pela polícia estadunidense enquanto dormia. Estados Unidos, aliás, é um país que nunca necessitou de uma ditadura militar para reprimir lideranças populares em operações oficiais de governo. Marx na produção cinematográfica "O Jovem Marx", é preso devido suas matérias de opinião, depois disso, o filósofo teve uma vida em fuga, pulando de país em país. Pelo visto, era um cara amado.

        Eu poderia passar o dia inteiro fazendo isso, citando produções artísticas em que comunistas se fodem, e se fodem gostoso. Entretanto, esse livro tem outra intenção. Ele não quer assustar a juventude que ousa lutar contra a carga do passado sofrido, de manter a luta dos que antes vieram e que nos foi entregue aos troncos e barrancos. Não precisam passar pelo mesmo, não precisam passar pelo o que pessoas como Chico Mendes, Angela Davis e Marielle Franco passaram. Pagu... ai, Pagu! Qual o preço de ser uma engrenagem da história?

        Esse livro foi feito para se declamar baixinho, onde você estiver, se ainda estiver com medo, como também foi feito para ser declamado por aqueles que têm coragem de seguir. Redigido para ser um lugar confortável para aqueles que têm medo do que homens são capazes de fazer. Esse livro, primeiramente, foi concebido no ano de 2020, primeiro ano de pandemia, e a intenção que perpassa toda a sua criação e conclusão foi a de assumir-se enquanto um ser pelo coletivo e não ter medo de dizer com todas as palavras "Sou um comunista". Também foi um treinamento para mim, que estava entrando numa nova realidade política, muito mais calcada na ciência e com enorme aprofundamento teórico. O livro também foi feito com a intenção de se tornar um local comum e confortável para comunistas, seja qual for o tipo de comunista que tu sejas. Dessa forma, este é um livro que apresenta alguns conceitos básicos da luta anticapitalista e de algumas das facetas da luta, para que não fique somente em um ciclo fechado, presos dentro de uma bolha.

        Ao mesmo tempo, temo que minha contribuição para o debate da representação de figuras perseguidas historicamente acabe sendo só mais uma dentro desse tsunami de conteúdo da cultura pop que a Netflix produz, que tanto exagera em seu simulacro de realidade, que até mesmo chega a iludir toda uma nova leva de pessoas da comunidade LGBTQIA+. Não me interessa um debate saturado de Twitter. Não pretendo iludir com flores, nem pretendo aterrorizar com armas. São palavras, tire alguma coisa de boa delas e isso já me fará feliz. Por isso, acredito que mostrar a realidade fatídica é necessário, porém dar um grito de esperança e sonhar novamente é essencial.

        Diante disso, posso assim dizer que esse livro foi escrito durante o enfrentamento da depressão-ansiedade, em um momento em que tive de lidar com frustrações amorosas, acadêmicas, políticas, artísticas e profissionais. Apesar de tudo isso, acredito que ainda consegui fazer uma obra de amor à humanidade, que por sua vez nunca será um amor abstrato.

        Em nenhum momento me coloco como um autor principal de determinadas causas sociais, mas me vejo como alguém capaz de dar alguma contribuição.

Ninguém foi exilado no final deste livroOnde histórias criam vida. Descubra agora