O que vem depois? - O Clube dos Cinco

1 - Pelo olhar do criminoso

Naquela manhã, em plena segunda-feira, John Bender acordou em um salto e caiu do sofá (duro e repleto de rasgos) no qual costumava dormir pós-noites de bebedeira. Em algum lugar, nas profundezas de sua mente, ele pensou ter ouvido um despertador que causou seu despertar súbito. Mas, agora pensando bem, era estranho ter ouvido um som como aquele. John não costumava programar o despertador para o horário da escola nem nada do tipo. Despertadores deveriam ser utilizados para avisar sobre eventos importantes e ele duvidava que as aulas entediantes e repetitivas, às quais era obrigado a atender, podiam ser consideradas importantes, que dirá um evento!

Sendo assim, por que diabos seu corpo estava todo dolorido por conta de um tombo agora? Com as ideias ainda enevoadas por conta da ingestão exagerada de álcool da noite passada, ele decidiu tratar o tal som como um daqueles pesados dos quais se é forçado a acordar, e rumou para a cozinha a fim de algo mais sólido e saboroso do que vodka.

Deixando a garagem bagunçada e fétida para trás, Bender se encontrou em um estado de espírito muito mais agradável quando sentiu a crocância do seu cereal favorito, Froot Loops, misturada a leveza do leite que o acompanhava. "Vivendo o sonho americano", era o que dizia a si mesmo sarcasticamente, quando imaginava se algum dia teria outra opção de café da manhã naquela casa; se seu pai traria dinheiro para casa invés de gastá-lo em bares, apostas e prostitutas, ou se sua mãe compraria comida e o ajudaria a cozinhar um dia desses. Nos últimos anos, tudo que ela fazia era se esquivar do marido violento e fingir que não tinha cometido o erro de ter um filho com ele. A melhor maneira de fazer isto era ignorando a existência do garoto, é claro. Deixava-lhe dinheiro na bancada da cozinha para que se virasse durante o mês, ia ao supermercado uma ou duas vezes e lhe ofertava riquíssimas interações como "Tem cigarro aí, Johnny?", ou "Seu pai já foi?".

Não querendo perder mais tempo com pensamentos de autopiedade, John foi até o banheiro, escovou os dentes e lançou um olhar breve ao espelho, meio arrumando e meio bagunçando os cabelos grossos e castanhos, fazendo com que algumas mechas lhe caíssem em volta do rosto. Foi, entretanto, nesta olhadela que um brilho em seu reflexo chamou a atenção do garoto. Focando novamente no espelho, John Bender finalmente se lembrou do motivo para ter ouvido um despertador mais cedo: o brilho vinha do brinco de diamante que ninguém mais que Claire Standish havia lhe dado no entardecer do último sábado. Foi como se aquela minúscula joia cintilante lhe atingisse como um raio, a sensação repentina da entorpecência abandonando seu corpo e abrindo espaço para uma ansiedade avassaladora. Ele havia, de fato, programado o despertador para aquela segunda-feira porque tinha, sim, um evento o esperando na escola Shermer.

John Bender queria saber se Claire Standish ainda lembrava do que tinham vivido na detenção.