13 - Pelo olhar do atleta

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ANDREW CLARK

O refeitório estava lotado de gente, como de costume, e Andrew estava tenso. Precisava encontrar Allison e se desculpar o quanto antes. A cena daquela discussão não parava de girar em sua cabeça. A expressão dolorosa da garota, seus olhos lacrimejando, o ódio em sua voz... Tudo causado por ele. Era essa pessoa que ele estava se tornando? Alguém que faz garotas chorarem? Não era quem ele queria ser.

No caminho até ali, havia passado pelo casal apaixonado, Claire e John, e ficara ainda mais indignado consigo mesmo. Aqueles dois estavam ali, contra todas as probabilidades, enquanto ele estragava tudo. Se fosse sincero, admitiria que julgara mal os recentes amigos. Tinha certeza de que Bender e Standish fariam um barraco e nunca mais olhariam um na cara do outro, ou apenas se ignorariam, e que ele e Allison formariam o novo casal sensação do momento. Poderiam até disputar para rei e rainha do baile e todos os desejariam ou desejariam ser como eles.

Foi só ali, no horário do almoço, procurando loucamente por ela, que ele percebeu que todas aqueles pensamentos não eram seus. Andrew não se importava com a merda do baile ou com ser rei. Não queria ser desejado ou invejado. Isso era o que seu pai queria para ele, e Andrew já estava tão bem doutrinado que agora pensava igual. Havia julgado Allison por si mesmo, como se ela quisesse aquele tipo de atenção, como se quisesse ser como ele. Agora via que, na verdade, ele queria ser como ela. Só queria ser quem era. Por que isso lhe era tão difícil?

Quase entrando em desespero, ele caminhou por entre as mesas, procurando o rosto de Reynolds sem sucesso, até o momento em que seus olhos fisgaram Brian sentado com mais alguns garotos e, ao seu lado, Allison. Ele soltou o ar que nem sabia estar segurando e foi até ela.

— Alli. - Ele chamou, envergonhado. — Posso falar com você?

— Eu estou almoçando agora, Andy. - Ela disse com uma voz triste, sem olhar para ele.

Brian acenou para ele com um meio-sorriso e Andrew retribuiu.

— Por favor, Alli, só alguns minutos. Preciso te pedir desculpas, preciso conversar com você.

Allison não disse nada. Andrew estava prestes a se ajoelhar, pedindo perdão, quando alguns caras do time vieram até ele, barulhentos e presunçosos como sempre.

— Ei, Clark, fazendo o quê aí com os esquisitos? - Um deles perguntou com certo desprezo.

— Não é da sua conta, cara. - Andrew respondeu, nervoso.

— Relaxa, mano. Foi só uma pergunta. - O outro se justificou, levantando as mãos em rendição. — Se bem que essa esquisitinha aí rende um bom caldo. - Ele sorriu maliciosamente para Allison.

Andrew estava sentindo muitas coisas naquele momento. Medo. Tensão. Nervosismo. Culpa. Paixão. Raiva. E agora sentia, acima de tudo, nojo.

— O que você disse? - Seus olhos azuis estavam cerrados de uma maneira assustadora.

— Relaxa. - Ele repetiu. — Entendi que você veio até aqui para tirar essa gostosinha do grupo dos perdedores. Só cuida pra não se contaminar. - Ele riu alto ao dizer aquele absurdo.

As expressões de Allison e Brian fisgaram sua atenção. Ambos pareciam entristecidos e, acima de tudo, nada surpresos. Isso o irritava mais do que qualquer coisa. Quer dizer que eles estavam tão habituados a ouvir comentários horríveis sobre si mesmos que nem ao menos se impressionavam mais? Eles já não tinham forças para se defender, porém Andrew nunca se sentiu tão forte na vida. Aquele misto de sentimentos apagou sua visão por um instante e quando se deu por conta, seu punho estava coberto de sangue e o garoto estava deitado no chão, segurando o nariz ensanguentado.

Sua respiração estava descompassada, seu rosto contorcido em ódio. Todos esperariam aquilo de John Bender, mas Andrew estava lá para provar que as expectativas dos outros estavam todas erradas. Era ele que vivia cheio de sentimentos reprimidos e agora todos eles estavam estampados em sua face psicótica, e não era o suficiente. Ele já se preparava para disparar mais um soco no rosto do garoto quando sentiu alguém segurando seu braço.

— Para, Andy! - A voz de Allison ecoou em sua mente confusa.

Ele se virou, esbaforido, confuso, e viu os olhos escuros arregalados e preocupados com ele. Então seu braço relaxou e caiu ao lado de seu corpo, ainda segurado pelas mãos quentes dela.

— Chega. Vamos sair daqui. - Ela disse e ele apenas assentiu, sendo guiado pela garota.

Allison os levou até as arquibancadas, onde não havia ninguém para bisbilhotar. Lá, ela secou o rosto suado do garoto com um lenço e o encarou, respirando fundo.

— Obrigada por aquilo que você fez. - Ela agradeceu, pousando sua mão na dele. — Ninguém nunca me defendeu antes.

— Nem você nem ninguém merece ouvir aquelas coisas. Eu não sei como nunca percebi a maneira como tratam vocês. - Ele confessou com raiva.

— Você só escolhia não nos ver. Mas agora está aqui, me enxergando, e tenho certeza de que conseguiu enxergar seus amigos também. - Disse com certo pesar pela revelação tardia do garoto.

— Eu sinto muito, Alli. Sinto muito pelo que te disse mais cedo. Eu fui tão babaca quanto eles. Sinto muito. - A voz de Andrew estava embargada e seus olhos embaçados.

— Foi, sim. Mas eu sei que sente muito. Agora eu sei.

— Não quero mais fazer parte disso. Quero ser uma boa pessoa. E quero ficar com você, se você quiser. - Ele a olhou nos olhos, com um tom de súplica.

— Acho que podemos tentar, sim. - Ela sorriu timidamente. Ele apertou sua mão delicadamente.

— Vou levar mais uma detenção pelo que fiz, mas ele bem que mereceu. - Disse, abrindo e fechando a mão dolorida.

— Eu sinto muito por isso, mas creio que você precisava botar isso pra fora, Andy. E, se serve de consolo, eu estarei lá com você. Vai ser uma bela detenção, como a última. - Ela sorriu gentilmente. Ele acabou rindo também.

— Eu vou abandonar a luta hoje mesmo. Não quero mais fazer parte disso. Lido com meu pai mais tarde. - Disse, resoluto. — E depois vamos tomar um sorvete no parque juntos. Sem ninguém. Só nós dois. Você topa?

— Acho que é um ótimo plano, Andy. - Ela sorriu mais abertamente.

— Que bom. - Assentiu, aliviado. — Bom mesmo. - Deitou a cabeça no ombro da garota e deixou que ela acariciasse seu cabelo. Pela primeira vez sentia que ser vulnerável não era uma fraqueza.

O que vem depois? - O Clube dos CincoOnde histórias criam vida. Descubra agora