10 - Pelo olhar do atleta

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Enquanto observava Allison sumir no horizonte depois da discussão que tiveram, Andrew sentia uma vontade crescente de bater em alguma coisa. De gritar. De arrancar os próprios cabelos e socar a própria face por ter feito a menina chorar. Havia passado o domingo inteiro sonhando com o momento em que a veria novamente, o que diria, em quais circunstâncias a beijaria. E agora? Agora o que lhe restava era o casaco azul jogado ao chão que até o sábado lhe pertencia, mas agora era somente um lembrete do perfume da garota e da chance que um dia tiveram de fazer aquilo dar certo.

Era óbvio que não pertenciam ao mesmo mundo. Não conversavam com as mesmas pessoas ou falavam sobre os mesmos assuntos. Não tinham a mesma trajetória escolar e social e jamais teriam se esbarrado se não fosse por aquela detenção de sábado. Mas então, já que eram tão incompatíveis, por que Andrew não conseguia parar de pensar nela? Por que repassava cada palavra das histórias malucas de Allison diversas vezes durante o dia? Por que tinha uma curiosidade quase incontrolável sobre como era, de fato, a vida dela, e do que ela gostava? Por que queria tanto vê-la focada em seus bonitos desenhos novamente? Sua cabeça estava girando e seu peito doía.

— O que o palhaço fazendo aí, encarando o chão? - A voz cheia de deboche quebrou a corrente imparável de pensamentos que enevoava sua mente, e ele quase seria grato por isso caso a voz não pertencesse ao cara mais insuportável de todos.

— Não enche, Bender.

— Eu ficando maluco ou realmente vi a Allison sair chorando daqui? - Perguntou, ignorando o pedido de Andrew.

— Cara, se você veio aqui só para acabar com a minha paciência, te aviso que ela já acabou. - Andrew já podia sentir os punhos se cerrando enquanto dizia aquilo.

— Relaxa, lutador, somos amiguinhos agora. - Bender garantiu com toda a ironia que poderia oferecer em seu sorrisinho de canto. — Não vim aqui para te lembrar do fato de que você é um imbecil. Na verdade eu sabia que não devia vir, mas fiquei com medo de que você estivesse dando aos outros imbecis exatamente o que eles querem. - John disse, carregando mais seriedade do que costumava possuir em qualquer um de seus discursos.

falando do quê? - Andrew franziu o rosto, balançando a cabeça, confuso.

— Um show, Clark. Você deu um banquete pro bando de urubus. - Ele disse se escorando em uma das pilastras da arquibancada, com as mãos casualmente nos bolsos da calça jeans.

— Eu não sabia que aquilo ia acabar tão mal. - Andrew se defendeu, presumindo que àquele ponto toda a escola tinha ouvido sua discussão com Alli.

— Ah, é. Justo. Quem iria imaginar que a esquisita da escola se sentiria mal em frequentar um ambiente cheio de gente que acha ela uma esquisita? Mandou bem, lutador. - John falou, oferecendo a mão para um soquinho.

Andrew detestava como aquele maldito delinquente era capaz de dizer as coisas mais verdadeiras de uma maneira tão crua e irônica. Ele era detestável porque era muito consciente do que acontecia ao seu redor e ninguém gostava de pessoas assim. Mas era impossível dizer que estava errado e isso era enfurecedor.

— Essa coisa toda não vem com manual, Bender. - Andrew disse, bufando em seguida. — Eu não sabia o que dizer ou como dizer que queria passar um tempo com ela. Foi a primeira coisa que pensei. - Ele voltou a se defender, passando as mãos nos cabelos loiros rapidamente, nervoso.

— Eu não sou nenhum conselheiro amoroso e nem quero ser, mas a coisa menos idiota nesse caso seria só convidar ela para almoçar com você. Isso se você não estiver se cagando de medo de ser julgado pelos babacas com que anda. - Falou, dando de ombros e olhando pro horizonte como se não fosse nada demais ofender um bilhão de pessoas a cada comentário.

Aquele dia estava sendo insuportavelmente difícil. Ele era obrigado a concordar com John Bender. Fazia sentido começar com algo mais simples, algo que não ferisse a fobia social de Allison de maneira tão abrupta. Assim poderiam passar algum tempo juntos e se conhecer melhor. Mas o questionamento de John tinha seu fundo de verdade no fim das contas. Andrew estava pronto para confrontar o pessoal do time? Estava certo de suas escolhas o suficiente para assumir seu interesse em Allison? Largar a luta e os caras da luta ao mesmo tempo, para namorar a famigerada esquisita e se aproximar de um grupo disfuncional como a galera da detenção era realmente o que ele queria?

— Desde quando você tem moral para me dar conselhos, cara? - Andrew perguntou, cruzando os braços em frente ao peito. Precisava depositar em alguém aquela raiva e confusão que sentia.

— Desde que eu e Claire nos beijamos na frente da escola toda e marcamos de almoçar juntos hoje, apesar de ter uma bela lista de motivos para jamais fazer uma coisa dessas. - John deu alguns passos na direção de Andrew, com os olhos franzidos em desprezo. — Desde então acho que tenho mais moral do que você, bonitão. Não fui eu que fiz uma garota chorar essa manhã. - O garoto alto deu-lhe um tapinha no ombro e foi embora, deixando para trás um Andrew ainda mais transtornado.

Se Claire Standish, a garota mais popular e admirada da escola, podia amar publicamente John Bender, o delinquente mais detestado da escola, e encontrar um meio-termo no qual os dois pudessem funcionar, ele precisava fazer o mesmo com Allison Reynolds.

Sua resposta estava ali, em sua frente. Ele queria, sim, tentar. Ele achava que valia a pena. Afinal, quando tudo deu errado naquela segunda-feira de manhã, a primeira pessoa estender-lhe a mão e ajudá-lo foi ninguém mais, ninguém menos do que John Bender. E ainda que fosse à sua maneira sarcástica e presunçosa de sempre, ele havia trazido clareza para o garoto confuso. Isso era mais ajuda do que qualquer cara do time jamais havia lhe oferecido.

Aquelas pessoas valiam a pena. E se tudo desse errado no final, ao menos teria sido uma escolha puramente sua, sem influências do seu pai ou do pessoal que ele tentava agradar. Teria sido algo que apenas ele tinha feito. Era libertador pensar assim.

Allison valia a pena. E ele precisava encontrá-la antes que fosse tarde demais.

O que vem depois? - O Clube dos CincoOnde histórias criam vida. Descubra agora