14 - Pelo olhar do cérebro

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Brian viu quando Claire e John sentaram-se juntos no almoço e deram o que falar enquanto trocavam olhares apaixonados. Brian também estava lá quando Andrew veio implorar pelo perdão de Allison e saiu no soco com um cara do time para defendê-la. Ele gostou de ver as duas situações se desenrolando, mas lá no fundo, sentia que ainda era apenas um observador da vida alheia. Assim como no sábado ele havia ficado responsável por escrever a redação enquanto os outros viviam seus momentos de casal, agora também era ele que observava grandes momentos acontecendo sem participar ativamente.

Por mais que agora soubesse que os outros quatro continuariam seus amigos e que isso tivesse acalmado muito seu coração (porque ele ainda tinha certo medo de ser ignorado naquela segunda-feira), não estava satisfeito. Nada havia mudado tanto assim para ele. Dentro dele, sim, muito havia mudado. Ele se impôs perante sua mãe pela primeira vez. Via a possibilidade clara de ser mais do que somente um cérebro e isso era libertador. Mas não o suficiente.

Enquanto fazia seu caminho até a primeira aula da tarde, um tanto desanimado, viu Lester vindo em sua direção. Seu amigo que teve a bunda colada por Andrew alguns dias antes. Só então ele percebeu que Lester não estava em sua mesa durante o almoço. O desenrolar de tantos acontecimentos o impedira de notar isso antes.

— Oi, Lester. Onde você almoçou? - Brian perguntou, preocupado.

— Fiquei lá fora, onde tem menos babacas. - Ele assentiu com um olhar cansado. — Cara, essa escola está virada de cabeça para baixo hoje. Só maluquice.

— O que você quer dizer?

— Casais disfuncionais, lutadores defendendo nerds... Nunca vi algo assim. - Disse, espantado.

— Você ficou sabendo quem foi esse lutador? - Brian jogou verde.

— Não.

— Foi Andrew Clark. Eu estava lá. Acho que o cara está mudado. - Brian falou vagamente, não querendo defender o garoto que havia humilhado seu amigo tão abertamente.

— Tá brincando? Ele que meteu a porrada em um dos outros caras que fez aquilo comigo? - Indagou, surpreso.

Brian apenas assentiu.

— É, existe certa justiça poética nisso. Só falta alguém meter a porrada nele agora, aí estarei satisfeito.

Brian não quis se prolongar no assunto. Lester finalmente estava frequentando a escola novamente e falando sobre aquilo com menos pavor. Não cabia a ele ser advogado do diabo. Andrew teria de provar que estava mudado com mais ações e essa tarefa cabia somente a ele.

Os dois caminharam até a sala de Marcenaria. Era a primeira aula extra da tarde.

Brian se sentia exausto só de pensar em entrar lá e ser confrontado com seu fracasso da luminária de elefante, porém quando viu John Bender lá dentro, pronto para começar um novo projeto, lembrou-se de tudo que haviam compartilhado no sábado. Lembrou-se de tudo que havia descoberto ser maior do que aquela única situação e sentiu um peso saindo dos ombros.

Bender lançou-lhe um aceno de cabeça e ele retribuiu, contente com a interação.

O garoto escolheu uma mesa mais ao fundo da sala, diferindo de seu hábito de sentar-se sempre à frente. Ele não sentia a necessidade de chamar atenção de seus mestres hoje. Queria ser conhecido por algo mais. Por ser um cara legal, engraçado, gente boa. Não só por sua inteligência.

— Turma. - O professor chamou em voz alta e todos se calaram. — Hoje iniciaremos um novo projeto. Faremos uma caixa de ferramentas em madeira. - Ele revelou enquanto anotava algumas instruções no quadro negro na parede.

Legal. Uma caixa de ferramentas parecia algo simples, até fácil. Ele daria conta daquela tarefa.

— Quem não recebeu uma boa nota pelo projeto anterior, pode recuperar parte dessa nota se fizer um bom trabalho dessa vez.

Os olhos de Brian se iluminaram. Era uma chance perfeita que estava recebendo! Poderia recuperar sua nota e manter seu padrão. Afinal, não precisava deixar de ser um cérebro por completo.

— Para aqueles que explodiram seu projeto anterior, sinto muito. - O professor falou com escárnio. — Apenas espero que não tentem atear fogo na caixa de ferramentas.

Brian abaixou a cabeça, chocado com o que estava ouvindo. Um erro em toda sua vida escolar e agora estava sendo humilhado daquela forma na frente de toda a turma? Afinal, a maior parte das pessoas ficou sabendo do garoto que levou uma arma para a escola, só não sabiam o real motivo para ela estar lá.

Ele não podia acreditar que era assim que seria recompensado por todo seu esforço. Um único erro. Então, percebeu que o único lugar no qual não foi cobrado e julgado daquela maneira foi durante aquela detenção.

— Entendeu, senhor Johnson? - O professor quis confirmar, como se seus comentários anteriores já não fossem humilhação suficiente.

Foi aí que ele se cansou. Cansou de esconder seus sentimentos verdadeiros o tempo inteiro para ser quem esperavam que ele fosse. Cansou de guardar tudo para si. Cansou de dar o seu melhor e não receber nem um mísero elogio em troca. Cansou da obrigação de ser perfeito. Cansou de não poder ser Brian Johnson.

— Ah, vai à merda! - Ele exclamou com os olhos fixos no professor.

Assim que as palavras saíram de sua boca, ele compreendeu o tamanho do que havia feito.

— O que disse? - O homem indagou, sem acreditar no que tinha ouvido.

Brian pensou por um segundo. Se fingisse não ter dito aquilo, seria punido de qualquer forma, pois o professor havia ouvido, sim. Então era melhor bancar sua opinião.

— Eu disse: vai à merda. Era só a porra de um elefante. - Brian esclareceu para si mesmo, pela primeira vez, a importância daquele fato em sua vida.

Era só a porra de um elefante. Não valia a sua vida.

A expressão do professor era pura fúria. Não esperava que aquele garoto em particular fosse capaz de falar daquela maneira.

— Pode sair da minha sala agora! E já pode passar na Diretoria para assinar a detenção de sábado, Johnson. Quer se tornar um delinquente, pois então que seja. - Esbravejou com o rosto se tornando vermelho.

Brian pegou seus materiais lentamente e caminhou com calma até a porta.

— A gente se vê no sábado, nerd! - A voz de John ecoou na sala silenciosa. Havia empolgação no tom de voz dele.

— Até lá, Bender. - Brian jogou um aceno de costas para ele e saiu pela porta.

Pelo menos agora ele tinha um programa para sábado. 

O que vem depois? - O Clube dos CincoOnde histórias criam vida. Descubra agora