Ouvindo-a repetir a mesma frase que dissera a ela no sábado, ele soube que não conseguiria evitar o sentimento que crescia pela ruiva. Podia tentar negar, brigar com ela, se embebedar e ir atrás de outra garota, mas quando chegasse nos finalmentes, imploraria aos céus pelos lábios macios e comentários inteligentes da patricinha de Shermer, Claire Standish.
Ela definitivamente não era qualquer uma e sabia disso pela maneira como mexia com seu corpo, sua mente, seu humor, suas decisões...Seria possível sentir algo assim em tão pouco tempo? E seria isso algo bom? Bender já tinha problemas demais para deixar uma patricinha tomar o controle. Ele sabia que os prós e contras não parariam de dançar em sua cabeça, mas por enquanto o melhor a fazer era aproveitar a oportunidade imperdível que o maldito destino estava ofertando.
Abraçando Standish com mais força, John Bender sorriu abertamente e gritou:
— Esperamos que tenham apreciado nossa performance. Obrigado pela atenção! - E distribuiu tchauzinhos sarcásticos para os colegas curiosos que ainda os fitavam, ao que Claire ria baixinho, escondendo o rosto em seu peito. — E aí, para onde vamos agora? - Perguntou em um sussurro, arqueando a sobrancelha.
— Eu vou para a aula e acho que você deveria ir também. - Claire respondeu, tendo sua fala seguida pelo som da sineta. As aulas estavam começando.
— Existem maneiras mais interessantes de estragar uma segunda-feira do que aula de trigonometria, minha cara. - John disse com uma expressão, mas sempre mantendo seu eterno tom de deboche.
— Nos vemos no almoço? - Claire questionou, um tanto incerta, mas tentando ser corajosa acima de tudo.
— Tá falando sério? Quer almoçar comigo, na frente de todo mundo? - Ele indagou, quase incrédulo.
— Como se um almoço pudesse ser mais polêmico do que um beijo a céu aberto. - Claire retrucou, revirando os olhos e rindo. — Nos vemos no almoço então. - Ela reafirmou, deu-lhe um selinho e rumou para sua primeira aula do dia, deixando um chocado e apaixonado John Bender para trás.
Com Claire fora de sua vista, ele começou a racionalizar tudo que estava acontecendo. Como tinha chegado àquilo? O marginal Bender com a maior patricinha da escola? A senhora-vida-perfeita querendo almoçar com um fracassado como ele? Sua intuição lhe dizia que aquela história tinha potencial para ser uma grande aposta feita entre Claire e Andrew, ou suas amiguinhas fúteis.
"Aposto uma bolsa Chanel que você não consegue convencer aquele imbecil do Bender de que está apaixonada por ele, para abandoná-lo com cara de tacho depois".
Pensando bem, fazia todo sentido algo assim acontecer com ele. Bender já tinha estado com diversas garotas - algumas até muito gostosas, diga-se de passagem -, mas aquela era a primeira vez na qual se sentia de fato vulnerável, como se estivesse sob perigo de morte o tempo todo. Juntando todas aquelas informações, John decidiu ser mais cauteloso perante seus sentimentos por Standish, mas ainda assim estava resoluto em sua decisão de almoçar com ela.
Um pouquinho de caos não faz mal a ninguém, afinal; e seria incrível ver as expressões de horror do pessoal no refeitório.
Absolutamente sem disposição para ir à aula de trigonometria, Bender desviou dos portões da escola e seguiu até o campo de futebol, onde esticou-se em um cantinho discreto, debaixo das arquibancadas, tirou um cigarro do bolso e começou a escrever uma nova letra. A ideia estava-lhe perseguindo desde sábado, quando saiu da detenção, e sabia que quando terminasse, a melodia perfeita viria pelos acordes da sua guitarra. Seria bom ter uma nova música para apresentar aos caras da banda durante a semana, pois teriam um show em breve e um novo repertório sempre caía bem. John & the Criminals ainda era uma banda adolescente de rock de garagem, tocando por aí em alguns bares de Chicago quando recebiam propostas e tinham dinheiro para abastecer a van de Connor, o único que tinha carteira de motorista no grupo. Mas lá no fundo, Bender acreditava que um dia seriam capa da Rolling Stones e encheriam o Shea Stadium como os Beatles. Precisava se agarrar nessa esperança porque, sem ela, o que lhe restava? Apenas a perspectiva de ser um zero à esquerda para sempre, como o diretor Vernon adorava ressaltar.
Enquanto discutia consigo mesmo qual a melhor maneira de terminar a ponte da música, John ouviu o som abafado e distante de gritos e choro. Focou os olhos no outro lado do campo apenas para ver Andrew e Allison tendo o maior dos conflitos.
— O que diabos aconteceu com esses imbecis? - Perguntou em voz alta para ninguém em especial, se aproximando lenta e discretamente.
— Eu nunca vou ser o que você espera que eu seja, Andrew! - Allison dizia exasperadamente, com a voz embargada, e por aquela fala John entendeu que o melhor movimento era dar as costas e fingir que não viu nada. Sua presença não seria bem-vinda.
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O que vem depois? - O Clube dos Cinco
FanficQuando um criminoso, um cérebro, um atleta, uma princesa e um caso perdido são obrigados a passar um sábado inteiro juntos, não é de se admirar que grandes coisas acontençam. Entretanto, na segunda-feira todos são confrontados com a mesma dúvida: fi...