6 - Pelo olhar do caso perdido

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Treze dias.

Allison abriu os olhos, encarou o teto de seu quarto e atualizou sua contagem: fazia treze dias desde a última vez em que seus pais entraram em contato com ela. Ambos viajavam muito a trabalho, visto que seu pai era um grande advogado que se envolvia apenas com grandes empresas, e sua mãe uma estilista muito bem conceituada, presente constantemente nos maiores desfiles do mundo.

Mas por que não podiam mandar notícias? Por que não podiam demonstrar que se importavam minimamente com a filha? Durante treze dias, tantas tragédias poderiam ter acontecido a ela. Poderia muito bem estar morta e seus pais seriam os últimos a saber. Pelo menos não faltaria dinheiro para um belo e emocionante funeral.

A garota se levantou e foi direto para debaixo do chuveiro. Quando pensamentos ruins começavam a surgir em turbilhões, gostava de tomar uma ducha quente e deixar a dor escorrer com a água. Ainda no banho, observou os pulsos severamente marcados por cortes, alguns antigos, outros recentes... A dor que sentia quando cortava a própria pele sempre abafava a dor de estar completamente sozinha no mundo, deixada aos cuidados de estranhos por dois outros estranhos que deveriam querer ser seus pais, mas não queriam.

Depois de algum tempo, sentiu que já era capaz de sair e enfrentar o mundo, nem que fosse bem quietinha na fileira de trás, apenas assistindo a vida passar como sempre fizera. Quando abriu seu guarda-roupas, vestida apenas com seu roupão, ela se recordou de que se aquela fosse mais uma semana de invisibilidade, ao menos estaria vestida com belas roupas. No dia anterior, domingo, ela alarmou seu motorista particular com um pedido inédito: "Me leve ao shopping.". A assistência de Claire Standish no sábado provocara o despertar do autocuidado que estava adormecido dentro de Allison há tanto tempo. Depois de se olhar no espelho e gostar do que via, ela percebeu que gostaria de sentir a quilo mais vezes e seguiu na tentativa de melhorar seu visual. Em suas compras, descobriu que jamais seguiria o estilo princesinha de Claire, mas que na verdade nunca quisera se esconder por trás de trapos pretos como fazia antes também. Seu estilo era certamente alternativo, recheado de muito jeans, cores mais escuras, listras e couro, e vendo por esse lado, até era bem próximo ao que John Bender costumava usar, apenas um pouco mais discreto.

Allison se vestiu com suas novas roupas, arrumou o cabelo (sem esconder o rosto, como Claire a aconselhara) e se maquiou levemente, sem carregar o rímel demais. Estava bonita assim como se sentira no sábado e, por mais que na detenção aquela fosse a aparência perfeita para alguém como Claire e não ela, Reynolds jamais deixaria de ser grata àquela garota. Ela lhe mostrou que ainda havia brilho naqueles olhos sem esperança e agora estava ali, bonita à sua maneira. Allison pegou seus materiais e saiu escondida, sem que seu motorista a visse, e caminhou até a escola, ainda assustada, mas confiante pela primeira vez na vida.

 Allison pegou seus materiais e saiu escondida, sem que seu motorista a visse, e caminhou até a escola, ainda assustada, mas confiante pela primeira vez na vida

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