Bem-vindos ao caos!

27 8 0
                                    


      Sento-me em minha classe já colocando meus materiais à mesa, escrevendo o restante dos conteúdos que perdi. Enquanto o professor organiza a turma para a atividade avaliativa, Bianca se senta em uma carteira atrás da minha e cutuca meus pés sem parar até eu atender ao seu chamado.

      Fico irritado por um momento e me afasto mais para frente onde ela não possa me incomodar, Bianca então acompanha meu ato e desta vez, ela cochicha algo para mim:

       — Seu besta, estou te chamando!

      Viro-me um pouco para conseguir enxerga-la e encontrar seu rosto fechado. Depois de um momento, percebi que sua expressão estava tensa e com um ar de medo.

      Antes de conseguir falar uma frase, ela me interrompe e mostra o celular, indicando um mensagem escrita no meu privado. Não demorei muito para dar uma olhada nas minhas conversas e abrir a mensagem duvidosa assim que a vi, fiquei incrédulo com o que estava posto que tive que ler de novo o anunciado.

      " Me ajude Benji, eu imploro! "

      Tive que olhar em seu rosto e refletir um sinal de resposta, na qual ela me responda com clareza. Bia apenas chacoalha a cabeça e digita uma outra mensagem antes que o professor tomasse posse de nossos celulares.

      " Tenho que te contar algo sério, mas preciso que tu não conte para ninguém sobre isso. "

      Respondo com um acenar positivo do polegar e tento digitar qualquer coisa que a deixasse calma, por obra do azar, o professor passa e recolhe nossos eletrônicos e põe sobre a mesa nosso exame. A ansiedade me tomou ali no instante que senti meu coração bater mais forte e minha respiração se alterar, o que causou falta de ar, fui enxergando tudo preto aos poucos que eventualmente caí sobre o chão.

...

       — Oi meu filho, que bom que acordou! - mamãe me abraça forte ao ver meu despertar -

       — Não é de hoje que essas crises atacam de repente, você está tomando seus remédios como te ensinamos? - papai me repreende -

      Deixei de tomar essas drogas a muito tempo que joguei tudo fora, seus efeitos colaterais me deixavam estranho.

       — Sim pai, estou. - respondo -

       — Eu não sei o que houve mas que bom que ele está bem, foi um susto enorme para todos. Com a prova não se preocupe, vou deixar você realizá-la em outro momento. - ele se retira rapidamente -

       — Eu vou voltar para a aula, já estou melhor. - me levanto devagar pelo tombo que levei e me alongo brevemente -

       — Seu pai e eu achamos melhor que você voltasse para casa e...

       — Eu não irei voltar, foi só um susto.

       — Filho! - meu pai dita com a voz firme e grave - Nós já decidimos e é isso, pegue suas coisas e vá para o carro.

       — Mas eu acabei de voltar para a escola, não quero perder mais conteúdos.

       — Tudo bem, querido. Nós já resolvemos isso, não se preocupe. Obedeça seu pai.

      No caminho todo até em casa foi um silêncio total, fiquei frustrado com o ocorrido e por não ter dado suporte à Bia, algo estava rolando, e não podia negar.

      Pego meu celular e começo a digitar textos breves a Bia, tentando capturar mais informações do possível possível perigo que ela mencionou. Não demoro, tento ser o mais direto possível para aliviar minhas preocupações.

       — Eu vou pedir uns Sashimis, o que acha? - mamãe pergunta -

      Respondo com um acenar mas não paro o que estou fazendo, meus dedos chegaram a estarem doloridos de tanto digitar.

      Bia ignorou metade dos textos que enviei que só disse o necessário, talvez seu tempo era curto para responder a todas. Assim como eu, ela também foi bem breve, poucas palavras conseguiram responder a todas as perguntas que tive.

      " Eu não sei como começar esse assunto mas peço que seja discreto. Rolou um evento chato comigo esses dias mas não fiz por querer, não tive outra saída além daquela. Desde então, estou sendo chantageada por ser descoberta mas não sei o que fazer.... porque eu sei de tudo o que aconteceu com Murilo, desde o início. "

      " Murilo também quer te contar isso, mas não sabe como.... pois ele também está sendo chantageado. Benji, eu sei que tu és um guri do bem, então peço que encontre um jeito de nos ajudar e resolver isso de uma vez por todas. Não ignore os fatos a sua volta, a verdade está mais perto do que imagina! "

      Suspiro ao terminar de ler seus textos e fico pasmo com cada frase posta, me senti tão inútil na hora que não tive ideia de onde começar. A responsabilidade caiu sobre mim e a pressão estava batendo na porta sem parar. O que quer que esteja acontecendo, suas vidas estavam contando comigo.... eu era sua salvação.

       — Algum problema, Benjamin? - meu pai percebe meu comportamento anormal -

       — S-sim pai, não é nada não. É apenas uns conteúdos de mal gosto do pessoal da internet. - invento qualquer desculpa em mente -

       — Benji, eu e seu pai temos algo a te falar. - ela confisca meu celular e o coloca de lado -

      Pelas suas caras, não é algo bom.

       — Nós achamos melhor que tu faça terapias com a doutora Marília, ela é uma ótima profissional! - ele tenta parecer convincente -

       — Marília nós ajudou muito a reatar nosso casamento. - os dois começam com sua melação constrangedora - Espero que ela te ajude também, percebemos que a adolescência é algo complicado e nessas horas tu precisa de alguém que te dê suporte para tudo.

      Não consigo induzir nenhuma palavra na boca que congelo com tantas informações que tenho que absorver, meus pais me observam de longe na espera de alguma resposta ou reação para que possam se satisfazerem de prazer.

      No calor do momento, concordei com a cabeça e continuei calado, eram muitas sensações na hora que não pude conceituar qual se encaixaria de acordo.

      Cansado do dia que estava ao meio, subi às escadas e me tranquei no quarto e fiquei por horas lá, apenas deitado olhando para o forro esbranquiçado. Olhei para o lado e me deparo com uma das lâminas de gilete solta e bem a vista, fiquei a observando de perto até que meu corpo desse sinal de fazer um alívio a minha alma.

      Qual a sua sugestão?

Don't be stupid, the solution is close at hand.

The Price of a LifeOnde histórias criam vida. Descubra agora