Murilo adormeceu assim que tomou seus medicamentos, nunca vi esse menino ser tão dopado quanto agora, seus braços chegam a estar roxos de tantas agulhas o espetarem. Trouxe comigo algumas almofadas e algumas barras de chocolates favoritas dele, vê-lo comer pouco me mata por dentro que tive que trazer lanches escondidos.
— Podemos ir? — Sara indaga.
— Mas eu acabei de chegar, não quero deixar meu amigo aqui sozinho. - digo me aconchegando na poltrona ao lado - Se você quer ir, fique à vontade.
— Mas amanhã tu tens aula, te esqueceu?
Não percebi o tempo correr que para mim, eu retornaria só depois de amanhã. Fiquei em transe por uns minutos tentando resolver esse enigma em mente enquanto Sara me observava parado a encarando.
Assim que vi que não tinha escolha, comecei a andar em direção a porta e desligando uma das luzes do quarto para que Murilo pudesse descansar. Certamente eu ouvi murmuro mas ignorei e segui caminhando, Sara já um pouco mais a frente me repreende pela demora e corre até a saída do hospital, que o nosso uber já havia chegado.
Quando entramos no carro às pressas, Sara já entrou conversando com o motorista e informando o nosso atraso enquanto eu permaneci preso em meus pensamentos que supostamente eu ouvi algo, mas o que era?
— Benji, vamos para a minha casa que é mais perto e depois eu dou um oi para os seus pais. - ela retruca com seu celular em mãos -
— Tanto faz.... - dou de ombros enquanto ponho meus fones e escuto uma melodia calma de complemento -
...
Fiquei surpreso em ver James, Félix, Patty e o Freed em sua sala jogando um jogo qualquer. Nossa chegada causou uma pausa do silêncio e por aí ficamos, um olhando para o outro.
— Benji, não é o que parece....
— Eu vou para o seu quarto. - a interrompi de repente -
— Fique aí cara, nós não mordemos. - Freed brinca com seu sorriso desfalcado -
— Olha, Benjamin. Você pode vir se juntar conosco. - Félix arruma um espaço em seu lado - estamos jogando Call of Duty, o que acha?
— Relaxa mano, aqui nós todos somos bons amigos, como antigamente. - James me aconchega entre seu braço e me conduz até eles -
Esse fim de tarde foi um dos piores que tive, os quatro idiotas me perturbaram até que eu fosse embora de lá. Tive que fingir estar incluído entre eles e jogar em harmonia enquanto os pensamentos vagavam lentamente por mim.
James e Patty continuaram a jogar e Freed decidiu então ir para a casa de sua namorada, que nós nunca conhecemos. Notei que Félix não estava entre nós e então recuei meu olhar aos arredores, logo em seguida o vejo sentado ao lado de Sara conversando sobre
algo.Não contive minha vontade de ir lá e saber o que tanto trovavam que dei passos lentos e cautelosos até uma escadaria próximo deles. Me escorei um pouco nela e tentei me inclinar um pouco para ouvir melhor do que se tratava, pois o barulho dos meninos estava incomodando um pouco.
— O circulo está se fechando, eu acho que ele contou tudo para ele.... - Sara dita com um pouco de nervosismo -
— Se ele realmente falou, não achas que o Benji tiraria satisfação? Provavelmente as coisas não estariam tão calma assim, você sabe como ele é. - ele a rebate -
— Se não fosse por mim, ele abriria a boca e tudo iria pro ralo. Temos que pensar em algo que pare aquela língua lazarenta.
— Ele recebe alta há dois dias, antes disso, teremos que pensar em algo. A Samantha não irá gostar de saber desse acontecido, nossa matrícula será cancelada e os nossos estudos serão em vão, eu não quero ser expulso agora.
— Não te preocupe, eu já sei o que fazer. Antes de qualquer coisa, temos que ter calma, ok?
— Vamos indo então antes que eles percebem a nossa demora, o Benji deve estar com ciúmes em saber que estamos aqui juntos.
— Nem louca eu iria trair ele com você! Se toca, sinceramente.
Sara se retira anojada até a cozinha e resmunga o caminho todo. Félix em seguida se levanta e caminha em direção a sala, que infelizmente eu estava a vista nesta direção.
Antes dele chegar um pouco até a escadaria, corri de uma forma discreta e rápida para qualquer canto que fosse. Cheguei até o pátio e fingi estar fazendo qualquer ação até que ele percebesse minha ausência na sala, Sara por outro lado, notou o quão ofegante eu estava que por via das dúvidas ela tirou suas satisfações.
Eu como um belo mentiroso, montei um roteiro de fala que desse um bom sentido para o fato que fizesse ela a acreditar. Minhas palavras foram bem articuladas e convincentes que ela caiu na mentira assim fácil, me trazendo um grande alívio.
[...]
No dia seguinte, já acordei desanimado em saber que eu voltaria para Santmant e minha vida voltasse a ser patética de novo. Desci as escadas e tomei meu café ignorando meus pais, que por sinal, diziam alguma coisa para mim.
Pus minha mochila nas costas e peguei minha bike para já partir e eventualmente, minha mãe me depositou um beijo na testa e falou:
— Eu te amo, Benji!
Sem reação, apenas dei um sorriso meigo e pedalei até a escola. Meus pais raramente mostravam afeto a mim que é estranho receber o seu carinho, já faz tanto tempo em que isso não acontecia.
O sinal tocou e eu pude escutar as vozes de alguns alunos se aproximando, em seguida estaciono minha bike e caminho em direção ao portão principal para não perder a primeira aula de Geografia que provavelmente teria uma prova surpresa.
Bia e o restante do grupo já estavam sentados em suas classes até que quando cheguei a porta, seus olhares se pararam a mim. Recebi muitos olhares tortos e risadas baixas mas isso não me afetou em nada, pois já estava me sentindo um merda mesmo.
— Olha só quem está aí, nosso amado Benji! - o professor exagera nas boas-vindas - Que bom que voltou, estamos felizes em recebê-lo de volta.
Pois é, eu voltei.
I'm so naive as to avoid the facts on the table
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The Price of a Life
Genç KurguMurilo é o mais novo estudante da escola Santmant, transmitindo altas impressões ao público. Mas consequentemente ele acaba com a hierarquia que havia lá, provocando muitos problemas entre os alunos; principalmente a Benjamin.