Hannah3 Meses depois - Março
Quanto tempo dura um luto? Duas semanas? Três meses? Um ano? Impossível dizer. Quanto mais o tempo passa, mais doí. Não serei hipócrita a ponto de ficar se lamentando como se estivesse prestes a morrer também, afinal, já não via minha mãe há um ano, e mesmo que estivéssemos separadas, nunca teve uma semana em que não conversamos, seja por vídeo chamada ou mensagens. Tinhamos uma relação saudavél de mãe e filha e eu a amava muito. Sinto falta de tudo isso. Vejo seu contato no meu aplicativo de mensagens e simplesmente converso com ela, como se ela ainda estivesse aqui, como se a qualquer momento pudesse me responder. Eu sei que não deveria fazer isso, mas é tão... difícil.
Tirei uma licença no trabalho por tempo indeterminado, sei que estarei meio por fora ou fora de forma enquanto isso, mas era necessário, eu teria que estar ao menos cem por cento pra entrar em campo, ou cometerei erros, e não é somente eu a ser prejudicada, mas um time, uma torcida inteira. Deste modo, consegui minha licença, não foi tão complicado afinal, já que era quase uma autônoma.
Semana passada Camille veio passar uns dias aqui comigo, com uma desculpa esfarapada que precisava de férias, mas sei que no fundo, apenas veio me ver, conferir se estava definhando ou não. Em um desses dias aqui, estavamos jogando conversa fora quando um e-mail havia chegado pra mim. Estranhando o remetente, abri e vi que era um convite para a cerimônia de premiação futebolística. Se fosse antes, estaria saltitante, mas dessa vez, só queria apagar e esquecer as coisas responsavéis e de interesse ao meu trabalho, além do mais, não era apenas um convite, eu estava sendo nomiada para um prêmio e acreditem ou não, foi a partida que desclassificou o Brasil. Bem a maldita partida ao qual fiquei me martirizando por dias. Vou ser sincera e dizer que não foi minha melhor arbitragem, mas se eles acham, fazer o que? Quase estavam estampando 'obrigada por ser a juíza responsável pela desclassificação do Brasil' e esta nomeação deixa bem explícito isso, visto que esta era a opinião popular. Acreditem, foram grandes as mensagens com ofensas, xingamentos e emojis no final.
Pensar no Brasil me lembra Antony, não o vejo desde aquela partida e irei mentir se dizer que não procurei saber a seu respeito. Claro que ele continuou a ir a festas e baladas, fofocas de que pegou mais de três mulheres na mesma noite e coisas do tipo. Também não vou dizer que não me decepcionei, mas afinal esperava o que de um mulherengo? Um homem assim, dificilmente perde seus costumes e hábitos. Não poderia ser melhor que isso. Camille sempre que pode me repreende, não aprova minha estranha obsessão, mas nem eu sei explicar, o que posso fazer?
Uma das razões ao qual estou vestindo meu vestido azul marinho neste momento é porque sei que ele estará lá também, e eu não irei perder a oportunidade. Puxava o tecido colado de cetim pelo meu corpo com um pouco de esforço, possivelmente engordei de novo, pra variar. Ele era longo com alçinhas finas, e em minha perna direita, havia uma fenda que vinha até quase minha virilha, mostrando minha coxa ao que andava. O salto preto simples completava o look básico, mas elegante. Meus cabelos estavam esticados até o começo do meu cocix, jogado de lado, mostrando minha orelha repleta de brincos e piercings. Estava confiante, e uma mulher confiante consegue tudo o que quer.
Peguei uma bolsinha preta de mão para colocar meu celular, gloss e uma camisinha, afinal tenho que estar precavida, apenas o necessário para uma noite que promete. Saindo do táxi, vejo uma montueira de repórteres, amuntuados em volta de um tapete vermelho. Diversas celebridades do mundo do futebol passavam por ali, fazendo um enxame de luzes piscar sequencialmente. E eu como participante oficial do evento deveria passar por ali, calmamente, meus saltos batiam no cimento da calçada, estava nervosa, mas como sempre, não iria demonstrar. Já para pisar no tapete, senti uma mão em meu ombro, virei ligeiramente minha cabeça para o lado descobrindo sua aparência.
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Entrando no jogo • Antony
FanfictionHannah, uma juíza marrenta, não suporta pessoas mimadas, pessoas que se acham superiores e muito menos daqueles que se achavam os pegadores. Antony se encaixava no papel de galinha, sem vergonha, bravinho e pilantra. Jogava um futebol sensacional e...