Capítulo 1 - Deportado? Eu?

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A bela e ousada Nova Iorque era um lugar fantástico à noite ou à plena luz do dia, mas nada ofuscava a maneira como eu estava me sentindo naquele fatídico momento. Nem mesmo a beleza da cidade a qual eu residia há exatos dois anos ou a imponência do luxuoso restaurante onde jantávamos eram capazes de mascarar o meu completo desconforto com a situação que se desenhava frente aos meus olhos.

— Elliot, meu doce e amado Elliot... — Porra... Aquele jeitinho meloso que ele tinha... Por favor, eu não era um amargurado com a vida ou com o "amor", mas demonstrações de afeto em público, definitivamente, estavam fora de cogitação, mesmo que eu estivesse em um relacionamento de dois anos. — Você aceita se casar comigo?

O quê? Pera aí, eu estava ouvindo certo? Não...

Meu mundo parou. E não, não foi de um jeito legal e romântico como acontece entre casais de livros ou de filmes. Tipo com um milhão de coraçõezinhos saltando dos meus olhos e de borboletas voando por todos os lados. Não foi assim.

Ele se ajoelhou mesmo na minha frente e na frente de todo mundo do restaurante? Meu Deus. Isso ia além de qualquer uma das minhas expectativas quando ele falou que tinha uma surpresa para me fazer. E eu odiava surpresas.

Não, eu não estava preparado para me casar. Alguém poderia me socorrer? Tantas conversas sobre isso, tantas vezes em que eu disse que não concordava com essa ideia que sociedade impunha de que as pessoas tinham que se casar. Mas, ele simplesmente não ligou para isso e estava, naquele instante, me pedindo para fazer algo que sabia que eu não queria.

Claro que eu não condenava pessoas que sonhavam em se casar. Afinal, cada um tinha a liberdade de idealizar o que quisesse. Mas, eu não era esse tipo pessoa. Eu queria trabalhar e ter a minha independência. Saí da Austrália para os Estados Unidos com um único e exclusivo pensamento: construir a minha vida sem ter que depender de alguém.

Era lógico que eu adorava o Christopher. Ele era um ótimo cara e sempre me apoiava e me ajudava quando eu precisava. Afinal, ninguém era autossuficiente. Mas, eu estava muito bem em ser somente seu namorado. E, por que nós não poderíamos continuar assim? Para me ter, eu não precisava ser seu noivo ou marido. Eu continuaria com ele, mesmo sendo somente seu namorado ou amigo.

— É... Chris... — segurei seu braço, puxando-o um pouco para cima, em um claro gesto que o pedia para que se levantasse. Mas, apesar da vontade de querer acabar, o quanto antes, com aquela situação, o que mais me inquietava era: como eu falaria a ele, de um jeito educado, que não queria me casar? Por mais ogro que eu fosse com sentimentos, não estava nos meus planos lhe dar um fora colossal.

Esperei apenas o momento de se levantar e se sentar na cadeira à minha frente, para que eu pudesse observar em voltar e dar de cara com todos os tipos de olhares possíveis. Os outros clientes do restaurante, que aparentemente já tinham entendido o que eu iria fazer, carregavam em seus rostos expressões de surpresa, pena e revolta. Ora essa, será que uma pessoa simplesmente não poderia negar um pedido de casamento sem ser crucificada?

No entanto, embora alguns clientes já tivessem compreendido a gravidade da situação, Christopher ainda mantinha um sorriso esperançoso no rosto e um olhar cheio das melhores expectativas. Coitado... Eu era um homem tão desprezível assim por não querer me casar? Não, eu não era. Por favor, estávamos no século XXI e, felizmente, o mundo mudou e continuava mudando.

— Chris, eu não sei como te falar isso... — De início, hesitei um pouco, principalmente porque caí na besteira de olhar de relance para todos os que estavam nos observando. — Na verdade, nesses segundos que acabaram de passar, tentei pensar em milhares de maneiras, mas só vem à minha cabeça o jeito mais direto — disse, enquanto observava seu sorriso lentamente desaparecer. — Chris, eu não estou preparado para me casar. Eu te adoro, você é incrível, mas sinto que ainda não é o momento certo de me casar.

Marido às AvessasOnde histórias criam vida. Descubra agora