Capítulo 17 - Tentativa frustrada

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Dessa vez, durante todo o percurso do Uber, não foram as meninas que pediram ao motorista para deixar o volume do som no máximo, fui eu mesmo. Cantamos e dançamos dentro daquele espaço cúbico do carro. Eu agia feito louco, isso era um fato. Mas, porra, no fundo, eu estava gostando. Não sabia como tinha passado tanto tempo sem fazer esse tipo de coisa. Talvez, eu estivesse dando vazão ao Elliot de anos atrás, que agora vivia escondido sob os blazers que eu vestia para ir ao escritório de arquitetura.

Naquele momento, eu ainda conseguia sentir o gosto da tequila, que bebi minutos atrás, subindo pela minha garganta, assim como os poros do meu corpo exalando suor misturado com álcool. Eu disse, eu avisei... Eu não podia beber álcool ou... Sim, eu nunca respondia pelos meus atos, quando estava embriagado, e eu sabia disso desde que eu era adolescente. Por isso, evitei até onde pude. Mas, depois de tomar conscientemente dez shots seguidos, era quase impossível pensar corretamente nas minhas ações.

Eu nem prestei atenção no caminho, a única coisa que eu conseguia notar era o quão rápido a bebida tinha pegado em mim. Ou, então, a loucura das minhas amigas foi transmitida a mim pelo ar, o que era bem pouco provável. Nós cinco poderíamos sair daquele carro direto para o hospício. Mas, quando eu menos esperei, a realidade me arremessou prontamente para a calçada de uma boate que eu nem fazia ideia do nome. O entra e sai de pessoas dali era caótico. Parecia lotada, pra variar.

Entretanto, as meninas e eu entramos sem demora. A primeira coisa que eu vi foi um imenso painel no palco com letras brilhantes e garrafais: "Noite LGBTQIA+, sejam bem-vindxs todxs da comunidade e simpatizantes". Arqueei as sobrancelhas e, então, olhei à minha volta. Cada centímetro estava ocupado por gays, lésbicas, travestis, transexuais, tudo. Casais se beijando por todos os lados. Alguns não eram nem mesmo casais, mas trios, grupos! E, para completar, Gogo Boys. Muitos Gogo Boys!

Isso ia ser bom... Muito bom!

Eu estava sentindo!

Quando volvi o rosto, para continuar observando, um garçom passou bem ao meu lado, segurando uma bandeja. Bom, eu sabia que não deveria confiar em bebidas sendo servidas, desse jeito, em festas: abertas e aleatórias. Podia só ter álcool, mas também existia a possibilidade de haver mais alguma coisinha. Não dava para confiar. Porém, eu já estava tão louco com a tequila e queria ficar ainda mais, que não me importei com o detalhe das bebidas batizadas. Apenas peguei dois drinques, deixando um em cada mão, e virando, de uma só vez, ambos quase ao mesmo tempo.

Jesus.

Fechei os olhos instantaneamente, sentindo o gosto esquisito das duas. Eu realmente não fazia ideia de que porra eu estava bebendo. Apenas me senti, automaticamente, mais zonzo do que eu já estava. Trinquei os dentes, sugando-os e tentando recuperar o meu equilíbrio. Quando consegui abrir os meus olhos de novo, entretanto, cada célula do meu corpo parecia muito mais energizada do que antes. Era como se eu estivesse soltando faíscas através da pele. Uma quentura subindo pelas minhas pernas e se propagando por cada centímetro meu.

Sorri, bêbado, louco.

Eu me sentia maravilhoso.

E, bem, os Gogo Boys que dançavam no palco já pareciam muito mais atraentes aos meus olhos embaralhados e vibrantes.

— Vai com calma, Elli... — Ainda ouvi Sarah falar.

Hipocrisia né?

Ela e as outras repetiram, diversas vezes, que eu deveria aproveitar a noite.

— Fiquei calmo durante muito tempo! — De pronto, repliquei. — Isso aqui é ou não é uma despedida de solteiro? — e logo puxei Sarah e as outras para a pista de dança.

Marido às AvessasOnde histórias criam vida. Descubra agora