Eu juro que, por meio segundo, até esqueci que estava indo fazer xixi no banheiro, para fugir daquela loucura, também chamada de pista de dança, do Boulevard Drink. A minha cabeça só conseguia pensar nas mãos, daquele safado, esfregando as duas gêmeas. Toda a irritação, que existia dentro de mim, exalando por cada poro do meu corpo.
Aquele canalha. Aquele galinha!
Tá, tudo bem... Eu sabia que eu não tinha moral para exigir nada. Nós não tínhamos a merda de um compromisso sério e real. Era tudo fachada. Mas... Argh! Por que o universo entregou nas minhas mãos justo o cara mais sem-vergonha da face da Terra para me casar? Não poderia ser um acompanhante de luxo menos depravado? Por que o Peter tinha que ser tão depravado? Eu odiava o Peter. Sério.
Bufei de exasperação, enquanto observava aquela ceninha medíocre, quando, de repente, senti alguém tocar o meu ombro.
— Elli, por que você está parado aí? — ouvi a voz da Sarah ao se aproximar de mim. — Você estava demorando no banheiro. Pensei que tivesse descido pela privada. Então, vim aqui ver o que aconteceu.
No instante que me virei para ela, entretanto, o meu rosto não escondia a indignação.
— Veja... — apontei com o queixo. — Ali... Sentado no sofá daquela mesa reservada, com duas gêmeas — e, para o meu completo aborrecimento, mirei novamente no infame. A cada vez que eu o olhava, meus punhos se fechavam ao ponto dos nós nos dedos ficarem brancos.
Sarah, por sua vez, me encarou boquiaberta.
— Não posso acreditar, Elli...! — Ela parecia estar em choque. Suas sobrancelhas arqueadas. — Que coincidência! Vocês dois, no mesmo bar, durante a despedida de solteiros!
Trinquei a mandíbula.
— Sim... Nós dois... No mesmo bar... — tentei manter a calma e o nível da voz ameno, mas... — E ele com duas gêmeas asiáticas, morenas e bonitas! — Foi impossível não explodir, mesmo sem querer. Meu tom aumentando gradativamente a cada adjetivo das garotas.
Por um milésimo, a voz da Kate, irmã do Peter, soou em meus ouvidos, ao me dizer que ele tinha parado de sair, depois do anúncio do casamento. Balancei a cabeça em negativo, decepcionado comigo mesmo e com a minha ingenuidade. Eu só podia ser muito iludido mesmo, para acreditar que isso fosse verdade. Ele jamais deixaria de fazer esse tipo de coisa.
Entretanto, em meio a um pensamento frustrante e outro, algo me trouxe de volta, e não foi da maneira como eu queria. Bom, eu apenas desejava paz, e não mais coisas que me tirassem do sério. Sarah, entretanto, parecia não pensar por esse lado, porque virando-se para mim com um pequeno sorrisinho, ela perguntou com sarcasmo:
— Você está com ciúmes do seu futuro marido às avessas?
Quê?
Que absurdo!
— Lógico que não, Sarah! — disparei, ainda mais indignado. Minha testa quase suando de irritação por ela ter insinuado isso. — Ficou louca? Por que eu sentiria ciúmes de alguém como o Peter? — Com desdém, mirei as orbes nele outra vez. — Alguém tão... — e o vi beijar na boca a gêmea da esquerda. Seus lábios dançando nos dela, sugando, chupando, lambendo. Em um segundo, minha memória me traiu e eu me lembrei de uma recordação bem recente. O final de semana. O momento que eu o senti tocar a minha boca com a sua. E, então, a sua língua tão gos... Merda. Não, não, não! Isso estava errado. Tudo errado! Eu precisava me esquecer disso! — Alguém tão pervertido quanto ele! — soltei, um tanto ofegante pelas lembranças e, ao mesmo, pelo meu aborrecimento comigo mesmo. Foi aí que me dei conta de algo muito mais importante e sensato do que um estúpido ciúme que nem era verdadeiro. — Você esqueceu que estamos aqui com a Adele, a Louise e a Naomi? Você já imaginou com que cara eu vou ficar, se elas verem que o meu futuro marido está se esfregando com duas gêmeas?!
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Marido às Avessas
Romance[Romance Gay] Elliot, um australiano, morava em Nova Iorque e tinha uma carreira bem sucedida como arquiteto. Entretanto, por um golpe do destino, teve o seu visto norte-americano vencido. Por escolha pessoal, Elliot nunca se casou e, no momento, es...