Capítulo 6 - Que a verdade seja dita

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Eu estava há exatos trinta minutos encarando o telefone do meu escritório. Precisava ligar para a minha mãe e informar sobre o casamento, mas me faltava um precioso sentimento chamado de coragem. Afinal, como eu iria explicá-la que estava prestes a me casar, quando ela pensava que nem namorado eu tinha?

Bom, talvez, ela até gostasse, já que era uma típica mãe casamenteira. Tinha feito o casório dos meus dois irmãos mais velhos e agora restavam somente o caçula e eu. Entretanto, ela ainda podia questionar, e era disso que eu tinha medo.

Só que eu precisava seguir. Coragem, Elliot! Eu não podia passar o resto do dia olhando estupidamente para um telefone e fazer absolutamente nada. Assim, segurei-o em minhas mãos, ainda receoso, e disquei seu número. Alguns poucos toques se sucederam, até que ela me atendeu. Rápida no gatilho, como sempre.

Foco, força e fé, Elliot!

— Bom dia, mamãe! — tentei falar com o máximo de entusiasmo possível. O máximo de empolgação que eu conseguia transparecer, naquele momento de pura tensão para mim.

— Querido, que surpresa! Há quanto tempo você não me liga!

— É verdade, mamãe... — suspirei, já imaginando o provável sermão que me daria por passar tanto tempo sem dar notícias. Eu morava em Nova Iorque e minha família morava em Massachusetts, por isso nos víamos pouco. — Mas, sabe como é, né? Muitos trabalhos a fazer — disse com franqueza.

— Eu sei, filho. Eu entendo — Milagrosamente, em vez de me dar um sermão, falou com compaixão. — Está tudo bem com você?

— Sim, mamãe, está tudo bem — Exceto pelo fato de que eu estava prestes a me casar com um acompanhante de luxo. Um pequeno e básico fato quase imperceptível na minha vida. — Tudo bem com você também?

— Sim, filho, tudo bem — replicou, mas, logo em seguida, seu lado Sherlock Holmes aflorou. Ela não perdia uma, até porque eu não tinha muito costume de ligar. — Eu adoro receber suas ligações, mas sei que, quando me liga, sempre é por algum motivo específico. É o caso desta ligação?

Ela tinha um sexto sentido muito apurado. Parecia que sentia algo estranho de longe.

— Você acertou, mãe — disse um tanto quanto encabulado. O que eu estava fazendo da minha vida, Jesus? — Na verdade, eu tenho uma notícia para lhe dar.

— É mesmo? — se empolgou e... — Sou toda ouvidos, querido — falou como se estivesse se aprumando em um sofá para me dar ainda mais atenção.

Céus, esse era o momento.

Que vergonha, medo, e sei lá o que mais!

Apenas respirei fundo, fechei os olhos e soltei as benditas palavras:

— Mamãe... E-eu vou me casar.

Ainda de olhos ainda fechados, permaneci apreensivo, até que, em questão de segundos, um berro invadiu os meus tímpanos.

— Casar?! — gritou. Sim, ela era bem espontânea. — Mas isso é uma maravilha!

O quê? Como assim? Ela gostou? Meu Deus do Céu, ela gostou!

Abri os olhos e permiti que os meus pulmões voltassem a respirar normalmente.

— Sim, mamãe, vou me casar — reiterei um pouco menos apreensivo. — Gostou de saber disso? — Não pude me conter em perguntar. Eu precisava ter certeza.

— Filho, eu adorei a notícia! Você sabe o quanto eu amo ver os meus filhos casando! Mas me conte como isso aconteceu! — Ela realmente estava entusiasmada.

Marido às AvessasOnde histórias criam vida. Descubra agora