Depois que meus pais nos mostraram o meu purgatório, quero dizer, o quarto em que eu e o Peter ficaríamos, descemos em direção ao jardim, onde estava acontecendo o bendito churrasco. Enquanto meus pais caminhavam um pouco a nossa frente, nós íamos alguns passos mais atrás, com Peter segurando o tempo todo em minha cintura e, claro, se aproveitando da situação.
Era um verdadeiro cafajeste.
Quando chegamos à porta de acesso ao jardim, meus pais saíram propositalmente da nossa frente e as atenções de todos se voltaram para nós. Meu Deus. Era realmente uma situação bem constrangedora, porque enquanto alguns nos olhavam com expectativa, outros nos observavam como se dissessem em silêncio "own, olha só como eles são um casal fofo!".
Seria uma pena se... Não fosse real.
Aquelas vizinhas descaradas, lógico, continuaram admirando o Peter do mesmo modo, suspirando em graça pela maneira educada e gentil como ele agia. Parecia que estavam vendo uma obra de arte ou sei lá o que. Óbvio que não perdi a oportunidade de virar o rosto rapidamente para o calhorda e ver como ele estava reagindo a isso tudo.
Não foi difícil perceber o seu semblante de satisfação. Devia estar adorando ser apreciado como o centro das atenções. Eu tinha verdadeira aversão por seu ar de convencimento, mas o show precisava seguir. Por isso, como se eu estivesse adorando tudo, caminhei normalmente até uma grande mesa, embaixo da sombra de uma árvore. Lá estava toda a minha família.
Mesmo que nós quiséssemos nos atirar um penhasco, pois sabíamos que seríamos bombardeados por inúmeras perguntas e insinuações, Peter e eu nos sentamos. Como já era de se esperar, mamãe logo se pronunciou, trazendo os pratos para nossa direção.
— Filho, vou servir vocês com o almoço.
Em silêncio, começamos a comer, até o que o primeiro questionamento surgiu, como já era de se esperar.
— Então, maninho, conte para nós um pouco sobre o Peter — Thomas, meu irmão do meio, pediu.
Realmente tinha começado.
Bem que ele podia ter ficado calado, mas isso seria muito utópico.
— O que você gostaria de saber sobre ele? — perguntei.
Era lógico que eu não ia cometer a gafe de falar algo logo de cara, principalmente porque eu ainda não sabia tantas informações sobre o Peter. Não queria correr o risco de dizer algo errado.
— O que você faz da vida, Peter? — Dessa vez, Thomas apontou seu questionamento diretamente para o dito cujo, sem ao menos olhar para mim. Curiosidade deveria ser o seu nome do meio. Mas, ainda assim, era compreensível. Afinal, eu estava prestes a me casar com um cara que eles não conheciam.
— Eu sou sócio da Hamilton 's — replicou, arrancando, de imediato, olhares surpreendidos de todos que estavam sentados à mesa.
Credo, eles nem mesmo sabiam disfarçar. Certamente estavam pensando no quão rico ele era. Graças aos céus não tinham conhecimento sobre o seu outro trabalho.
— Aquela grife de calçados da 5ª Avenida de Nova Iorque? — Eloisa, esposa de Benjamin, perguntou, admirada, agindo da mesma maneira que eu, quando descobri isso no dia em que ele foi à minha casa.
— Sim, essa mesma — respondeu com naturalidade, e, então, um silêncio embaraçoso se instalou na mesa por alguns segundos que pareceram uma eternidade. Todos foram pegues de surpresa tanto quanto eu.
No entanto, para quebrar o clima...
— Então, meu irmão é um sortudo. Vai ganhar vários sapatos caros de graça — Arthur, o caçula, falou, divertido. Todos riram. Felizmente, parecia que sua pequena brincadeirinha tinha conseguido dissipar um pouco do clima meio constrangedor de alguns minutos atrás.
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Marido às Avessas
Roman d'amour[Romance Gay] Elliot, um australiano, morava em Nova Iorque e tinha uma carreira bem sucedida como arquiteto. Entretanto, por um golpe do destino, teve o seu visto norte-americano vencido. Por escolha pessoal, Elliot nunca se casou e, no momento, es...