A pergunta que ele me fez ainda estava sem resposta.
Sem reação, sem saber o que pensar direito e sem me lembrar do que era correto ou errado, eu permaneci ali, parado, tão próximo ao seu rosto. O cheiro do seu perfume entrando intensamente pelas minhas narinas. Isso me deixava inebriado. Peter me deixava meio desorientado, quando me encarava daquele jeito. E, não, isso não era legal. Parecia uma espécie de feitiço. Sim, ele só podia ter pacto com alguma coisa, para ter olhos tão ardilosos.
Eu não deveria me sentir assim.
Mas... Como eu poderia ter um juízo perfeito quando a sua respiração se misturava com a minha? Era exatamente isso o que estava acontecendo. Por alguns minutos, ele conseguia ser mais atraente do que já era. Sim, mesmo que eu sempre fizesse questão de não admitir isso, ele era atraente. Muito. Eu não podia me cegar, embora eu não me permitisse dizer isso em voz alta. Percebi essa qualidade, desde o primeiro dia que o vi, naquele restaurante. O cara era bonito.
— Você quer? — ele tornou a perguntar.
Pelo amor de Deus...
Quando eu estava prestes a responder alguma merda, que, provavelmente, faria eu me arrepender cinco minutos depois, o toque do meu celular me interrompeu. Salvo pelo gongo! Aquilo me arrastou, sem pena, de volta à realidade. E, bom, eu não achei nem um pouco ruim. Na verdade, respirei em puro alívio. Todo o meu contato visual com Peter se quebrou, como em um passe de mágica, assim como aquela atmosfera de atração também.
Me afastei dele poucos centímetros e tirei o celular do bolso da calça. Franzi o cenho, entretanto, quando vi o nome da Sarah. Já eram onze da noite, e ela não costumava me ligar a essa hora, se não fosse por algum motivo muito importante. Suspirei. Naquela altura, mais um problema era tudo o que não precisava.
— Sarah? — atendi. — Aconteceu alguma coisa?
— Sim! — De pronto, ela respondeu, entusiasmada. — Eu e nossas amigas de Nova Iorque! — Quando se calou, ouvi uma longa gritaria de mulheres do outro lado da linha, a ponto de me fazer enrugar a testa e afastar um pouco o celular do ouvido. Foi tão alto que até o Peter escutou e, confuso, me encarou.
A Sarah só podia estar com Adele, Louise e Naomi.
— O que vocês estão aprontando, heim? — questionei.
Boa coisa, eu sabia que não era.
— Nós estamos planejando algo in-crí-vel!
E lá vinha bomba!
— Eu posso saber o que é? — Com certo receio, perguntei.
— Deve! — respondeu de imediato. — Você está sendo convocado para comparecer à sua despedida de solteiro amanhã! — e mais gritinhos histéricos das meninas soaram, através do celular.
Quê?
— Você tá ficando louca, Sarah? — Formando um vinco profundo com a testa, eu disse. Meu coração já queria disparar em pura irritação.
— Nunca estive mais lúcida!
— Sarah...! — exclamei, mesmo que eu ainda estivesse tentando me controlar. — Saia de perto das meninas, porque eu preciso falar algo sigiloso. Se é que você me entende!
Ainda consegui ouvir um suspiro de desânimo seu, do outro lado da linha.
— Certo — Em tom de tédio, respondeu. Com certeza, ela já sabia o que eu ia falar. — Pronto.
Não esperei nem meio segundo.
— Sarah, eu não sei se você lembra, mas eu vou continuar solteiro! — disparei. — Ou você esqueceu que isso vai ser um casamento de fachada? Por favor, não queira transformar essa situação em uma palhaçada maior do que já está sendo.
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Marido às Avessas
Storie d'amore[Romance Gay] Elliot, um australiano, morava em Nova Iorque e tinha uma carreira bem sucedida como arquiteto. Entretanto, por um golpe do destino, teve o seu visto norte-americano vencido. Por escolha pessoal, Elliot nunca se casou e, no momento, es...