Capítulo 14 - Verdade ou fingimento?

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Depois de ter enfrentado a minha família no fim de semana, aquele era o momento de enfrentar a família do Peter. Confesso que eu estava apreensivo. Não tanto quanto no final de semana, mas, ainda assim, estava um pouco nervoso. Tinha certeza que novos questionamentos iriam surgir e que eu precisava estar preparado. Porém, acima de tudo, o que mais me deixava tenso era saber que esse jantar faria com que eu me tornasse, ainda mais, parte da vida do Peter.

Eu tinha consciência de que me tornar parte da vida dele era uma condição necessária para o contrato, o casamento falso e o green card. Porém eu ainda não estava suficientemente preparado para encarar essa realidade. Era estranho estar solteiro e, de repente, dentro de uma semana, ter que me casar com alguém que eu tinha conhecido há sete dias. Um alguém que, para completar, era um acompanhante de luxo.

Enfim...

Eu não tinha escolha. O plano precisava seguir.

Optei por usar um dos meus melhores blazers, já que estava indo jantar na casa do dono de uma das maiores grifes de calçados do país. Embora fosse um casamento de fachada, eu não queria fazer feio na frente da família do Peter. Inclusive, sentia um leve frio na barriga, quando imaginava o que pensariam de mim ou a forma como iriam me tratar. No final de semana, eu estava, digamos, em certa zona de conforto, já que tinha ido para a casa da minha família. Entretanto, agora, eu iria adentrar em um campo desconhecido.

No instante em que terminei de me aprontar, notei meu celular vibrar no bolso. Era uma mensagem do Peter, avisando que estava em frente à minha casa. Passei mais um pouco de perfume e desci as escadas. Logo que entrei em sua BMW, entretanto, percebi algo estranho. Peter estava diferente. Eu, que desde o primeiro dia tive que me acostumar a lidar com um cara divertido, relaxado e brincalhão até demais, agora não encontrava isso em seu semblante, nem em seus trejeitos. Bastou eu sentar no banco do carro e fechar a porta para sentir, de imediato, uma energia esquisita. Havia uma mistura de preocupação e ansiedade por ali.

Definitivamente, eu nunca tinha o visto assim.

— Boa noite, Peter.

— Boa noite, Elliot — sorriu de leve e me observou com admiração, mas não conseguiu disfarçar as feições de certo nervosismo. — Está lindo.

Agradeci, mas o nosso diálogo parou por aí. Permanecemos em um silêncio que, para mim, estava um tanto desconfortável, enquanto percorríamos as ruas e avenidas de Nova Iorque. Não que eu, de fato, gostasse das suas piadinhas que sempre me tiravam do sério, ou da sua matraca que quase não conseguia ficar quieta. Mas, uma mudança tão repentina me deixava um tanto... Incomodado.

O moreno estava muito pensativo, enquanto seu olhar se mantinha longe, por mais atento ao trânsito que ele estivesse. Nem quando tivemos a reunião com o chefe do Departamento de Imigração, o Peter ficou desse jeito. Ele era sempre calmo e tranquilo, mesmo que tudo estivesse saindo do controle. Entretanto, naquela noite, Peter não estava tão relaxado quanto parecia ser.

— Aconteceu alguma coisa? — tomei coragem para perguntar.

— Ah, não — De pronto, replicou, como se estivesse falando sobre algo sem importância, banal. — Não aconteceu nada, Elliot — e me deu um pequeno sorriso, tentando disfarçar o seu cenho, que estava há longos minutos franzido.

Acenei um breve sim com a cabeça, porque também não queria insistir para que ele dissesse o que estava o incomodando. Talvez não fosse adequado da minha parte. Apenas agi como se tivesse realmente acreditado. Ao contrário da resposta que me deu, no entanto, seu rosto voltou a ficar sério e pensativo.

Onde estava o Peter brincalhão e divertido?

Não que eu estivesse sentindo falta... Eu só... Eu só achei estranho.

Marido às AvessasOnde histórias criam vida. Descubra agora