Capítulo 6

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Mirabel voltou correndo para casa, só diminuindo a velocidade quando chegou até a porta principal para evitar que alguém a visse. Após verificar que o caminho até o quarto do tio estava livre, ela subiu a escadaria e encarou o desenho brilhante na entrada do cômodo. A porta se abriu sem dificuldades e a garota passou para o interior do enorme corredor que levava a cascata de areia.
Para muitos, o quarto de Bruno era considerado um lugar muito árido e não muito interessante de se estar, a maioria dos membros da família até evitavam entrar lá pela quantidade de areia presente, mas para Mirabel aquele lugar guardava muitas das melhores lembranças da infância dela. Ela perdera a conta de quantas vezes tinha ido até ali quando pequena para fazer castelinhos de areia ou para brincar de tobogã nas dunas que se formavam. A garota seguiu até a cascata de areia com um sorriso no rosto, procurou pelo botão que permitiria sua passagem e o apertou rapidamente. Após ter cruzado o portal, Mirabel encarou a enorme escadaria que levava para a caverna de visões do tio.
Como ela não fazia a menor ideia de onde Bruno poderia ter as visões guardadas, começou a procurar pelo parte de baixo da câmara, onde ficavam uma espécie de sala de estar e o quarto propriamente dito, com uma cama e outras peças de mobília. Na sala de estar não poderia ser, não havia nenhum tipo de armário no qual placas de esmeralda relativamente grandes poderiam estar guardadas. Já no quarto havia um armário que parecia promissor, mas assim que ela o abriu, encontrou o guarda roupas do tio, Mirabel o fechou rapidamente. "Bom, nada aqui em baixo... Vou ter que subir então" a garota pensou enquanto se dirigia à enorme escadaria.
Apesar de ter passado bastante tempo no quarto de Bruno, foram raras as vezes que ela de fato tinha feito todo o caminho até a caverna de visões, já que a subida era extremamente cansativa pra alguém que não estivesse acostumado. O começo era sempre a parte fácil, mas conforme a garota ia perdendo o fôlego, os degraus pareciam passar cada vez mais devagar, quando ela estava quase no topo da escadaria, estava praticamente se arrastando. O corredor que levava até a caverna de visões entrou no campo de visão de Mirabel e isso a deixou animada mais uma vez, ela correu pelos últimos degraus e atravessou a ponte de corda e madeira sem olhar para trás. É verdade que ela tinha esquecido o quanto aquele lugar a dava calafrios, essa era uma das outras razões pelas quais ela não tinha subido ali muitas vezes.
Ela diminuiu o ritmo e alcançou a pesada porta de ferro que separava a caverna do corredor, uma olhada rápida pelo interior do cômodo não revelou muita coisa, ali não havia nenhum tipo de armário ou prateleira onde as visões poderiam ser armazenaras. A garota procurou também por qualquer tipo de botão ou alavanca que pudesse abrir algum cômodo secreto, mas também não teve sorte. "Onde essas malditas visões poderiam estar guardadas???" pensou consigo mesma. Ela estava pronta para desistir e começou a fazer o caminho de volta pelo corredor cheio de estátuas de uma versão mais assustadora do tio, foi então que ela viu um pequeno rato correndo dela, escalando por uma estátua e entrando em uma de suas narinas. "Estranho... Se esse rato entrou ali é capaz de ter alguma coisa atrás" e assim, ela começou a procurar por algum tipo de botão novamente. Mais 15 minutos se passaram antes que ela conseguisse encontrar (completamente por acidente, já que ela só se segurou na mão de uma das estátuas para não cair) a alavanca que abriria uma porta secreta, assim que a mão da estátua foi puxada, uma outra foi arrastada para o lado revelando um enorme corredor com prateleiras repletas de tabletes de esmeralda brilhante. "FINALMENTE!" Mirabel queria gritar, mas achou melhor não fazer isso para evitar que Dolores soubesse que ela estivera ail, se ela já não soubesse é claro.
A menina adentrou o cômodo iluminado pelas próprias visões que eram armazenaras ali, agora só faltava encontrar a certa... Tarefa essa que não foi muito difícil, pois assim que Mirabel caminhou um pouco mais para dentro lá estava, em cima de uma mesa, uma visão que a mostrava em frente a Casita que estava com as paredes rachadas, como se alguém estivesse estudando o objeto mais cedo. Ela pegou a visão nas mãos tentando ignorar o choque que sentia e notou que a imagem de fato mudava conforme a posição em que se olhava, isso só levantou mais dúvidas em sua cabeça. A garota acabou decidindo que perguntaria mais ao tio sobre isso, mas só para garantir que ele não se esquivaria de suas perguntas, ela pegou a visão e a escondeu em sua bolsa, levando-a para baixo consigo.
A descida era consideravelmente mais rápida do que a subida, em cerca de 20 minutos Mirabel estava de volta a porta do quarto de Bruno, pronta para sair dali e pensar no que perguntaria ao tio mais tarde. Mas seus planos foram interrompidos quando estava prestes a abrir a porta, alguém fez isso primeiro e a menina teve que dar dois passos para trás para não ser derrubada pelo objeto. Bruno encarou a sobrinha com confusão novamente tomando suas feições.
- Mira, que surpresa... - ele disse ainda espantado - O que está fazendo aqui?
- Eu ahhhh - ela precisou pensar em uma desculpa - Achei que tinha esquecido uma coisa aqui no seu quarto haha...
- Uhum - ele não pareceu acreditar muito na desculpa - E achou o que procurava?
- Não... - um sorriso nervoso surgiu no rosto da menina - Deve estar no meu quarto em algum lugar, vou procurar melhor. Tchau!
E assim, Mirabel saiu correndo antes que Bruno pudesse perguntar mais alguma coisa. O homem achou estranho o comportamento da sobrinha, mas decidiu acreditar nela mesmo assim. A menina, por sua vez, conseguiu chegar em seu quarto sem ser parada por mais ninguém, entrou no pequeno cômodo, tirou a placa brilhante de dentro da bolsa e a colocou em cima da mesa. Mirabel ainda examinava a visão quando batidas animadas soaram na porta seguidas pela voz de seu pai, ela não teve tempo de esconder o pedaço de esmeralda.
- Mirabuu - Augustin a chamou animado - está se ajeitando para receber os...
Ele parou de falar assim que viu o brilho esverdeado atrás da filha, choque tomou as feições dele e ele apenas encarou Mirabel esperando por uma explicação.
- Euu... - ela pensou no que dizer ao pai e respirou fundo, era melhor dizer a verdade - Entrei no quarto do tio Bruno e encontrei a visão que ele teve no dia da minha cerimônia, acho que a magia está morrendo, a casa está com problemas e o dom da Luísa está sumindo por minha causa... - ela despejou a informação quase sem parar para respirar.
A expressão de Augustin se suavizou um pouco, ele fechou a porta e colocou a mão no ombro de Mirabel enquanto olhava para o desenho feito na pedra brilhante. A princípio a menina estava com medo de um sermão, mas agora ela não sabia qual seria a resposta do pai diante aquilo.
- Então foi isso que ele viu aquele dia - foi o que ele falou, uma expressão de compreensão apareceu no rosto dele - Não se você se lembra, mas Alma teve um chilique quando viu essa visão, ela queria ter posto você para fora de casa por causa disso.
- Mas, então porque ela mudou de ideia? - a menina perguntou um pouco chateada.
- Seu tio Bruno não deixou que ela fizesse isso, disse que teria ido embora junto com você se ela continuasse com o que estava fazendo.
Nesse momento Mirabel passou a gostar mais ainda do tio se é que isso era possível, mas também se sentiu culpada por ter mentido para ele para pegar a visão... Tudo que ele queria era protege-lá, talvez por isso não tenha lhe contado nada a respeito do assunto quando percebeu que ela não se lembrava dos acontecimentos daquele dia.
- Acha mesmo que tudo que está acontecendo é culpa minha? - Mirabel perguntou depois de um tempo.
- Não sei dizer Mirabu, não acho que seja sua culpa, mas talvez você esteja envolvida na razão pela qual tudo isso está acontecendo... É uma boa coisa para perguntar para seu tio mais tarde, ele foi quem teve a visão afinal.
- Acho que vou fazer isso...
- Sim, sim, mas por agora, tente deixar esse assunto de lado, os Guzmans estão pra chegar e Abuela quer que tudo esteja perfeito. Até que eles vão embora nenhum desses problemas está acontecendo, ninguém precisa ficar sabendo dessa conversa.
E exatamente nesse instante, Dolores passou pela porta e soltou um de seus suspiros característicos antes de anunciar que ela sabia. Augustin e Mirabel se entreolharam preocupados, eles sabiam que antes do final da noite toda a família ficaria sabendo do conteúdo misterioso da visão sobre a qual Bruno se recusava a falar.

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