Capítulo 9

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- E-eu não fiz nada! - Mirabel tentou se defender.
- Como não fez? Olhe para sua irmã! - Alma estava furiosa.
- Ela não estava feliz-...
- É CLARO QUE ELA NÃO ESTAVA FELIZ! - Abuela a cortou - VOCÊ ARRUINOU O CASAMENTO DELA!
- Não, você não entendeu! A Isa precisava que eu arruinasse o casamento dela. Ela não queria se casar e então ela se divertiu com os poderes dela uma vez na vida e a vela brilhou mais forte e talvez seja por isso que eu apareci na visão, eu vou salvar o milagre, eu-... - Mirabel começou a falar sem parar, mas Alma não estava gostando nada disso.
- VOCÊ TEM QUE PARAR MIRABEL! - a matriarca gritou, efetivamente fazendo com que o sorriso da menina desaparecesse e quase todos os membros da família viessem ver o que estava acontecendo - As rachaduras começaram com você! Bruno se rebelou por sua causa! Luísa está perdendo os poderes e Isabela está fora de controle por sua causa! Eu não sei porque você não ganhou um dom, mas não é uma desculpa para você destruir essa família!
Mirabel se sentiu como se o chão em baixo de seus pés fosse se abrir e ela fosse cair para as profundezas da terra. Uma vontade enorme de chorar a tomou, mas ela piscou freneticamente e disse com toda a força que lhe restava:
- Eu nunca vou ser boa o suficiente pra você? Não é? - algo mais apareceu dentro dela. Raiva, ela estava com raiva - Não importa o quanto eu tente, não importa o quanto nenhum de nós tente... Luísa nunca vai ser forte o suficiente, Isabela nunca vai ser perfeita o suficiente, Tio Bruno se rebelou, como você diz, porque ele tentou deixar essa família unida!
- O BRUNO NÃO LIGA PARA ESSA FAMÍLIA, SE LIGASSE ELE IRIA SE COMPORTAR! - Alma gritou.
- ELE AMA ESSA FAMÍLIA! EU AMO ESSA FAMÍLIA! TODOS NÓS AMAMOS ESSA FAMÍLIA, VOCÊ É QUEM NÃO SE IMPORTANTE!
- VOCÊ NÃO OUSE-....
- O MILAGRE ESTÁ MORRENDO POR SUA CAUSA!
E logo que essas palavras foram ditas os Madrigal caíram em um silêncio chocado, mas que não demorou muito para passar. Uma rachadura imensa, maior do que todas as outras dividiu o pátio da casa ao meio. Incontáveis outras se formaram e em poucos segundos tomaram toda a estrutura da casa, gritos vindo de todos os presentes se espalharam e Casita se agitou tentando empurrar as pessoas para fora. Mirabel, Camilo e Isabela repararam na vela do milagre que ameaçava apagar e iniciaram uma corrida desesperada para tentar alcançá-la, contudo, com a estrutura se partindo os poderes dos primos se dissiparam e eles acabaram sendo impedidos de alcançar a vela, a casa os empurrou rapidamente para fora. A única que continuava a escapar as ondas no piso era Mirabel, que agora subia pelo telhado e alcançava o que tinha restado da vela, ignorando os gritos desesperados de sua mãe.
Tudo aconteceu muito rápido depois disso, as paredes cederam devido as rachaduras e tudo implodiu, Casita conseguiu arrastar alguns objetos que serviram de escudo e salvaram a vida da garota. Em seu último suspiro de mágica, o que restou da casa pareceu se despedir e tudo ficou quieto. Mirabel não conseguia se mexer, o choque tinha sido grande, ela não estava ferida, pelo menos achava que não, e tudo que ela conseguiu fazer foi olhar para o resto do milagre em suas mãos, a chama tinha acabado de se apagar. Ela ouviu gritos a distância, poucos segundos depois sua mãe apareceu através da poeira e a abraçou desesperada.
- Você está bem? Se machucou? Está sentindo dor? - Julieta a bombardeou com perguntas para as quais ela apenas conseguiu acenar em resposta.
- JULIETA VEM AQUI! - Pepa havia gritado de longe e a mulher olhou em direção de onde o som tinha vindo.
- Não se mexa, volto logo - e com isso a mulher foi ver o que a irmã precisava.
Mirabel achava que a situação não poderia ficar pior e ela sentia que poderia desabar ali mesmo e nunca mais acordar. Alguns minutos de vazio se passaram em sua cabeça antes de um pânico extremo o preenchessem. Ela não tinha visto Bruno sendo arrastado para fora da casa, ele poderia ter sido pego pelos destroços. Ignorando a pequena dor de cabeça que começava a incomoda-la, Mirabel levantou correndo e foi em direção aos destroços da torre que era o quarto do tio.
Sem pensar, ela começou a pegar pedaços de pedra e os empurrar com uma força que não sabia que tinha. Seus dedos estavam quase sangrando de tanta força e velocidade com as quais ela afastava detritos, mas ela não parou até encontrar um pequeno amontoado de pedaços de madeira que se assemelhavam com a forma como Casota a protegeu. Talvez a casa tivesse percebido que Bruno não sairia a tempo e o protegeu, assim como tinha feito com ela? Mirabel conseguiu alcançar um dos pedaços de madeira e o puxou, para seu alívio o tio estava embaixo daquelas coisas, mas essa sensação não durou muito, para seu horror Bruno não se mexia.
Desesperada, ela empurrou mais coisas para longe do corpo do tio, abrindo um espaço para que ela pudesse se aproximar. Ao olhar mais de perto, ele tinha um corte profundo na têmpora, por onde estava perdendo muito sangue. Ela deixou que os instintos a guiassem e, assim, rasgou um pedaço do tecido de sua saia, o enrolou na mão e o colocou sobre o corte fazendo pressão. A segunda coisa que fez foi procurar um pulso, ela posicionou dois dedos no pescoço do homem e rezou para que ele estivesse vivo, alguns segundos se passaram e ela sentiu uma pulsação, era leve, quase imperceptível, mas ele estava vivo. O choque pareceu passar um pouco e ela tomou consciência do estado em que estava, sem parar de fazer pressão sobre o corte, ela começou a chorar, a mão livre foi em direção a uma das mãos do tio e a segurou firmemente.
- MÃE! - ela conseguiu forças para gritar - MAMÃE, É O TIO BRUNO! ME AJUDA!
Diversos passos foram ouvidos, logo Julieta e mais algumas pessoas encontram tio e sobrinha nos escombros. Vários ruídos de espanto surgiram e Julieta já gritava ordens para as pessoas ao seu redor. Mirabel continuava ali, segurando a mão do tio e fazendo pressão sobre o corte, o tecido agora já estava encharcado e um pouco de sangue escorria pelo braço da menina, mas ela não se importava mais. O vazio tinha voltado mais uma vez, ela deixou que lágrimas caíssem por suas bochechas e sua mente fosse para longe enquanto os adultos faziam o melhor que podiam para cuidar do homem desacordado.
Tudo que aconteceu depois disso passou como um borrão para Mirabel, ela não se lembrava de muita coisa, apenas de que a família havia sido dividia através das casas da vila enquanto não podiam ficar em sua própria casa, Bruno havia sido estabilizado, o corte limpo, suturado e devidamente enfaixado e, por fim, Mirabel sabia que tinha se recusado a ser hospedada em uma casa diferente da do tio. Agora ela estava em um quarto de hóspedes que tinha apenas uma cama encostada na parede, onde Bruno dormia, e um colchão no chão que era onde ela passaria as noites.
O cansaço do dia finalmente venceu a menina, que caiu em um sono leve, agitado por pesadelos. Demoraria um bom tempo para que ela pudesse dormir bem novamente.

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