Capitulo 7

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A família estava toda reunida na sala de jantar, Mariano e sua mãe estavam presentes e conversavam com Alma alegremente. Augustin e Mirabel pareciam estar tentando hipnotizar Dolores com o olhar, os três nem sequer piscavam. Eles estavam tão perdidos na competição de quem ficava sem piscar por mais tempo que não ouviram quando Abuela pediu que um deles lhe passassem o purê de batatas, foi preciso que Isabela cutucasse o braço de Mirabel para que ela voltasse a realidade e pegasse o pote para a avó. A essa altura outras pessoas já tinham notado o clima estranho presente ente os três, mas ninguém disse nada não querendo atrapalhar a conversa da matriarca com a Sra. Guzman. Mais alguns segundos se passaram até que o contato visual entre Mirabel e a prima fosse quebrado novamente, mas dessa vez Dolores aproveitou a deixa para contar o que havia descoberto à Camilo que se engasgou com sua bebida enquanto seu rosto mudava do dele para o de Mirabel e brevemente para o de Bruno antes que voltasse ao próprio. Depois disso foi tudo ladeira abaixo, Camilo contou para Félix, que contou para Pepa (uma nuvem com trovões apareceu em cima dela imediatamente), que contou para Julieta que olhou para Mirabel com preocupação antes de se virar para Bruno e dizer a ele que a filha havia encontrado o que ele tentou esconder dela por tanto tempo. Finalmente Bruno olhou para a Mirabel com tristeza dançando nos olhos antes de baixar o olhar para o próprio prato e não falar mais nada a ninguém.
O desastre não tinha acabado ali no entanto, nesse meio tempo a mãe de Mariano havia pedido que Luísa buscasse o piano, mas com seus poderes falhando, ela não foi capaz de carregar o enorme instrumento e agora chorava no chão, a chuva que Pepa tentou segurar finalmente tinha começado a cair e para ajudar mais rachaduras começaram a aparecer. Com todo o barulho e a magia oscilando, Isabela se assustou e quebrou o nariz de Mariano com uma flor, Camilo perdeu o controle sobre suas transformações e agora estava com a cabeça de um bebê de bigode no lugar da sua. Mariano e sua mãe saíram correndo da cozinha para procurar alguma forma de estancar o sangramento do nariz quebrado, Alma saiu logo atrás tentando se desculpar, Luísa foi a próxima a sair, chorando em direção ao próprio quarto, sendo seguida por Augustin e Julieta. Mirabel foi a próxima a sair da cozinha tentando se desculpar quando Isabela passou falando que a odiava e Pepa passou por ela perguntando o que ela tinha feito de uma maneira não muito amigável, Félix, Camilo e Dolores foram atrás dela para tentar fazer com que a chuva diminuísse um pouco. Assim só restou Bruno na cozinha e Mirabel na entrada sem saber o que fazer, o homem se levantou e começou a andar para o próprio quarto em silêncio sem nem olhar muito para a sobrinha.
- Tio Bruno... - Mirabel disse quase desesperada - eu sinto muito.
Ela ouviu o suspiro que Bruno deu, como se ele quisesse falar alguma coisa mas tivesse pensado melhor, tudo que ele fez foi olhar pra ela e balançar a cabeça de um lado para o outro minimamente antes de continuar em direção ao próprio quarto sem dizer nem uma palavra. A menina soltou um suspiro próprio e voltou ao quarto dela mais uma vez, ela tinha que devolver a visão ao tio e pedir desculpas direito. Depois de pegar a placa de esmeralda e a esconder na bolsa mais uma vez, Mirabel esperou alguns minutos para se acalmar antes de ir para o quarto do tio pela segunda vez no dia, ela também podia jurar que tinha ouvido a voz de Abuela e de Bruno como se os dois estivessem discutindo. A menina chegou ao seu destino pouco tempo depois, bateu na porta e esperou que o tio viesse atende-la.
- Alma, eu já disse que não sei como el-... - Bruno se interrompeu quando percebeu que não era a mãe que tinha ido até ele de novo - Mirabel?
- Abuela ficou brava com você não foi? - foi o que ela disse como cumprimento, ela também notou que o tio estava tentando esconder o rosto dela - Posso ficar com você um pouco?
Ele apenas acenou e abriu a porta para ela passar, ainda tentando evitar que ela visse seu rosto e o tremor presente em suas mãos. Era por esse exato motivo que ele odiava brigar com Alma Madrigal, ele sempre acabava a discussão escondendo as lágrimas, mas assim que a mãe o deixava sozinho ele desmoronava, fosse por culpa, tristeza ou raiva. Bruno saiu caminhando na frente da sobrinha em um ritmo mais acelerado tentando se acalmar o melhor que podia, eles desativaram a cascata de areia e passaram pelo portal rapidamente, o homem liderou o caminho até o cômodo onde ele dormia. Assim que eles entraram, Bruno se sentou na cama e apoiou a testa nas mãos, ele sabia que seus olhos provavelmente ainda estariam vermelhos por conta de ter chorado e ele não queria preocupar a sobrinha.
- Ah titio... - Mirabel sabia que ele estava chorando, sempre quando ele brigava com Alma, ela ia tentar acalma-lo em seguida. Ela o abraçou e ele se recostou completamente nos braços dela, finalmente tirando as mãos da frente do rosto e revelando os olhos avermelhados - Se quiser conversar sobre o que aconteceu, eu vou estar aqui para te ouvir.
      Ao dizer isso ela beijou o topo da cabeça dele da mesma maneira que ele tinha feito com ela quando era ela quem estava triste. Algum tempo se passou e eles deitaram, permanecendo em silêncio, com Mirabel afagando os cabelos do tio, foi apenas meia hora depois que Bruno se sentiu calmo o suficiente para falar sem voltar a chorar.
      - Você encontrou a visão que eu tive aquele dia não encontrou? - ele não soava bravo nem magoado, apenas cansado.
      - Foi por isso que ela brigou com você não foi? - ela respondeu com outra pergunta, para qual a resposta foi um aceno curto vindo de Bruno - Hoje de manhã, fui conversar com a Luísa para tentar ver se ela sabia mais alguma coisa sobre as rachaduras na casita... Ela disse que não sabia, mas me contou sobre a sua visão, como eu sei que você não gosta muito de falar sobre esse assunto achei que ficaria tudo bem se eu desse uma olhada nela por conta própria - ela explicou, se sentindo extremamente culpada pelo estado em que o tio estava agora.
      - Sua avó veio até aqui colocando a culpa do fiasco de hoje a noite em nós dois, mas principalmente em mim - Bruno comentou num tom chateado - Disse que eu tinha sido um irresponsável por deixar que você encontrasse a visão, que ela devia ter te expulsado todos aqueles anos atrás, que nós tínhamos arruinado a vida de Isabela e a lista continua...
      - Eu sinto muito titio - ela sabia que o apelido carinhoso o deixava feliz e normalmente deixava para usar em momentos como esse. Ela se sentia péssima com a situação e tudo que ela queria era deixar o tio contente mais uma vez - A culpa disso tudo foi minha, não sua... Fui eu quem foi procurar o que não devia, eu quem deixou que Dolores ouvisse sobre a visão e por fim, sou eu que apareço na frente da casa destruída, você foi apenas quem Abuela escolheu para descontar a raiva e isso também não está nada certo.
      Bruno se encolheu mais uma vez nos braços da sobrinha, pensando no que dizer em seguida, ela merecia uma explicação para aquela visão e ele não a culpava por ter ido procurar respostas sozinha já que ele próprio se negou a esclarecer isso antes.
      - olha... - ele falou num tom mais baixo - eu não estou bravo por você ter encontrado a visão... eu só queria não ter escondido isso de você por tanto tempo, iria chegar uma hora que você precisaria saber o que aconteceu.
      - Se você não quiser conversar sobre isso agora não tem problema, tio, nós podemos esperar até você se sentir melhor.
      - Só de você estar aqui já me sinto melhor - ele disse esboçando um sorriso para a menina que retribuiu alegremente - Mas, de verdade, acho que já empurrei esse assunto por tempo de mais.... Você está com a visão ai?
      Mirabel acenou e sentiu um rubor se espalhar pelas bochechas, ela ainda iria pedir desculpas várias vezes por roubar a profecia, mas colocou a mão na bolsa e removeu a placa de esmeralda com cuidado, deixando-a no colo do tio. Ele apenas acenou para ela antes de continuar a falar:
      - No dia em que você não recebeu seu dom, Alma pediu para que eu tivesse essa visão para tentar entender o que poderia estar acontecendo. Mas essa visão estava estranha, ela continuava mudando, diferentemente das outras, nesta daqui não havia uma resposta única, nem uma indicação de um futuro claro. Lógico que com a minha reputação de fazer coisas ruins acontecerem minha mãe optou por tentar por uma criança de 5 anos de idade na rua...
      - Mas tio, o que a visão significa? Qual das duas opções vai acontecer? Eu estou prejudicando a família? - a cabeça de Mirabel estava funcionando rápido de mais para ela perceber que estava bombardeando o coitado do tio com perguntas e  tristeza tinha se formado mais uma vez na face dele.
      - Todas essas são boas perguntas, Mira, mas a verdade é que eu não sei qual das duas coisas vão acontecer, como eu disse, com essa visão não existe uma resposta única. Sinto muito, eu queria ter visto mais...
A fala de Bruno deu uma ideia a Mirabel, ela se animou e chacoalhou os ombros do tio delicadamente enquanto dizia:
- É isso titio! Você é um gênio!

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