Capítulo 8

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      - O-o que? Porquê? - Bruno perguntou confuso com a fala animada da sobrinha.
      - Você disse que queria ter visto mais, então veja mais! Tenha mais uma visão, pode ser que ajude a esclarecer as coisas.
      - e-eu não sei não, Mira... A primeira vez que eu mexi com esse assunto não acabou bem e...
      - Mas e se você tentar de novo e acabar encontrando alguma coisa que possa indicar pra qual caminho o futuro vai?
Bruno respirou fundo, ainda inseguro sobre o que deveria fazer, mas acabou concordando com Mirabel.
- Está bem, posso tentar de novo...
- Se você quiser, participo da visão com você - A menina falou quando percebeu a insegurança do tio - como a visão provavelmente vai envolver a mim pode ser que ajude se você estiver segurando minha mão...
      - Não é uma má ideia... - ele disse um pouco mais confiante - Melhor irmos andando então, temos uma escadaria enorme para subir.
Bruno respirou fundo e se levantou da cama com Mirabel logo atrás. Eles seguiram para o início da escada e a menina olhou para todo o caminho que ela teria de fazer de novo antes de se virar para o tio e dizer em um tom brincalhão:
      - Você já pensou em pedir pra casita diminuir essas escadas?
      - Não é tão ruim assim quando você se acostuma - Bruno respondeu sorrindo e começou a subir a escadaria em um passo apertado - Corrida?
      - Pode apostar! - Mirabel concordou e começou a correr escada acima, sendo seguida de perto pelo homem. Eles faziam isso muitas vezes quando a menina era mais nova e queria passar um tempo com o tio favorito, a memória os fez sorrir.
      No meio do caminho os dois estavam ofegantes, mas davam risada enquanto continuavam o caminho andando e conversando. Ao chegarem no topo, atravessaram a ponte de madeira e seguiram pelo corredor escuro.
      - Okay, vamos colocar essa visão no lugar - Bruno falou mas para si mesmo do que para a sobrinha - e depois podemos começar a visão nova.
      Pouco depois o homem começou os preparativos com os quais já estava tão familiarizado: o círculo de areia, os pequenos montinhos com folhas e os fósforos. Bruno indicou para que Mirabel entrasse no círculo de areia e segurasse as mãos dele.
      - Melhor se segurar... - ele avisou - Venta bastante durante a visão.
      Mesmo sendo um momento importante, Mirabel não pode deixar de se sentir ansiosa como uma criança. Ela nunca tinha presenciado uma visão diretamente, quando era pequena, o tio normalmente pedia para que ela ficasse do lado de fora da caverna se ele tivesse que usar o dom. Ela pegou as mãos de Bruno e olhou primeiro para as quatro pilhas de folhas em chamas e depois para os olhos do tio, que agora se acendiam com um brilho verde muito forte. "Uau" ela pensou "eu sabia que isso acontecia, mas é muito mais legal do que eu imaginava", mas não comentou nada para não tirar a concentração do homem. A areia do círculo se levantou e formou um domo ao redor deles e em poucos segundos imagens começaram a se formar nele, elas eram de um verde brilhante que constrastava com o bege da areia, a menina se concentrou nas imagens procurando por algo que pudesse ajudar.
- É tudo a mesma coisa! - Bruno disse, parecendo frustrado - eu preciso parar...
Por um segundo as imagens escureceram, mas Mirabel gritou:
- ESPERA! Tem que ter alguma coisa que não estamos vendo...
- Você está olhando para as mesmas coisas que eu, se tivesse al-...
- ALI - a menina o cortou quando viu um brilho dourado no meio do verde.
- A borboleta! - Bruno exclamou - siga a borboleta!
Bruno fez com que a visão seguisse o inseto e eles o viram pousando no braço de um banco de madeira, logo em seguida a imagem mudou e agora no domo surgiram duas figuras. Pareciam a silhueta de duas mulheres.
- Quem são? - Mirabel perguntou ansiosa.
- Estou quase lá - a imagem foi se tornando um pouco mais nítida conforme Bruno apertou os olhos - Você está lutando! Não não, espera... Aquilo é um abraço?
- Eu estou abraçando ou lutando?
- Um abraço! É um abraço! - Bruno se decidiu quando a imagem ficou um pouco mais nítida - Pra ajudar o milagre você tem que abraçá-la!
- Mas abraçar quem?
- Quase lá - Bruno disse tentando se concentrar - Consegui!
E assim, a imagem da mulher que tinha abraçado Mirabel apareceu perfeitamente nítida para a dupla que assistia a visão.
- ISABELA?!?!?!!? - Mirabel gritou antes de o domo de areia colapsar em cima deles. Ela não estava contente.
- Sua irmã! - Bruno disse aliviado, antes de perceber que a sobrinha não estava nada satisfeita com o que ela tinha que fazer. Ele tirou os olhos da placa de esmeralda que tinha se formado em suas mãos e os direcionou para Mirabel, o pequeno sorriso que tinha aparecido sumiu rapidamente das feições dele - Está tudo bem, Mira?
Mirabel bufou e saiu da caverna de visões batendo os pés. Confuso pela raiva da sobrinha, Bruno foi atrás dela chamando-a. Ele a encontrou sentada no primeiro degrau do topo da escadaria e se sentou ao seu lado.
- Porque abraçar Isabela iria resolver alguma coisa? - agora a menina parecia mais frustrada do que com raiva.
- Eu não sei... - Bruno respondeu antes de continuar com um pouco mais de bom humor - A família tem um milagre e como você salva o milagre? Você abraça sua irmã... Não pode ser tão ruim assim.
- Tio Bruno, não sei se você percebeu, mas eu acabei com o pedido de noivado dela... Ela me odeia.
- Mariposa, ela pode estar chateada, mas ela não te odeia. Não custa nada tentar conversar com ela, o futuro da família depende de você, não dela. Se lembre disso.
A menina respirou fundo, apoiou a cabeça no ombro do tio e fechou os olhos quando ele passou o braço por seus ombros.
- Eu deveria pelo menos tentar - ela disse depois de alguns minutos - Obrigada pela visão, tio Bruno.
- De nada - ele disse e abaixou o braço, deixando que a menina se levantasse para ir atrás da irmã - Vejo você mais tarde.
Mirabel seguiu em direção a saída do quarto do tio, enquanto o homem voltou a caverna de visões para ajeitar as coisas.
      Pouco tempo depois, a menina já estava na porta do quarto da irmã, bateu duas vezes antes de entrar e chamou por Isabela se sentindo insegura.
      - Isa? Oii... - Mirabel tentava pensar no que falar - Eu sei que eu não tenho sido uma ótima irmã... Mas eu acho que poderíamos colocar os problemas para trás com um abraço...
      - Um abraço? - Isabela soava irritada - Luísa não consegue levantar sequer um vaso, o nariz de Mariano parece um mamão amassado! FICOU MALUCA?
      - Isa, você parece chateada... Sabe o que pode curar isso? - Mirabel disse com um sorriso torto - um abraço quentinho!
      - Sai agora! - nessa hora duas vinhas impediram que ela chegasse mais perto de Isabela, uma flor voou em seu rosto para dar ênfase - Tudo estava perfeito! A família estava feliz, Abuela estava feliz! Você quer ser uma irmã melhor? Peça desculpas por arruinar a minha vida!
      A última parte foi gritada, Isabela não parecia nada contente e Mirabel ponderava se pediria desculpas ou não.
      - Tá bom! Me..... - era como se as palavras queimassem a garganta de Mirabel - Me desculpa... - ela não se conteve depois de um segundo - Que a sua vida seja tão perfeita!
      - FORA! - Isa gritou e começou a arrastar a irmã para fora de seu quarto com mais vinhas.
      - ISA ESPERA! DESCULPA! Eu não estava tentando arruinar a sua vida, mas acontece que alguns de nós temos problemas maiores, sua princesinha egoísta e mimada!
      - EGOISTA?!??!! - agora sim, ela parecia furiosa - EU PERDI A MINHA VIDA INTEIRA SENDO PERFEITA, LITERALMENTE E TUDO QUE VOCÊ FEZ POR MIM FOI ATRAPALHAR!!!!
      - EU NÃO ATRAPALHEI NADA! - Mirabel gritou de volta, enquanto tentava evitar as flores que batiam em seu rosto agora - VOCÊ AINDA PODE CASAR COM AQUELE TRAPALHÃO!
      - EU NUNCA QUIS ME CASAR COM ELE!! - Isabela explodiu - EU ESTAVA FAZENDO ISSO PELA FAMÍLIA!
      Nesse momento um cacto explodiu do chão e isso calou as duas garotas por completo por alguns segundos. A menina mais velha parecia hipnotizada com a planta.
      - Isa - Mirabel disse, agora mais calma - Isso é algo muito sério, por que não disse nada antes?
      - Eu fiz isso... - foi a resposta de Isabela, ela parecia não ter ouvido a última pergunta da irmã, ela admirava o cacto - Não é perfeito, mas é lindo! E fui eu que fiz!
      - Isa? Tá tudo bem?
      - Hm? - a pergunta pareceu trazer Isabela de volta a realidade - Estou bem, é só que eu não sabia que podia fazer algo tão diferente...
      - ...
      - Você não sabe como é, Mirabel, desde quando eu era pequena, Abuela colocou na minha cabeça que eu tinha que ser perfeita... - Isa continuou quando viu que a irmã não falaria nada - Desde então eu aprendi a esconder as minhas emoções, agir como a garota perfeita que nunca tinha problemas e passei a querer alcançar as expectativas cada vez mais altas da Abuela. Eu estou cansada disso, cansei de ser perfeita, de ser infeliz, mas fingir que tudo está bem só para agradar os outros...
      Mirabel nunca tinha imaginado que a irmã guardava tudo isso dentro de si, não haviam palavras que pudessem ser ditas para consolar Isabela naquele momento. Então, ela fez o que julgava ser o correto, colocou a mão no ombro da irmã mais velha e sorriu para ela.
      - Porque você não experimenta os poderes novos, só para ver o que sai daí de dentro? - Mirabel disse em um tom animado, ainda sorrindo para a irmã.
      Ela apenas observou enquanto Isabela retribuía o sorriso e levantava, começando a criar diversos tipos de plantas as quais nunca tinha feito antes. A decoração do quarto foi mudando drasticamente, as flores cor de rosa que cobriam o chão e as paredes deram espaço para árvores de todos os tipos, vinhas para todos os lados, suculentas e cactos apareceram em certos locais. Com tudo isso, o sorriso de Isabela aumentava e aos poucos ela começou a rir e se direcionou à irmã quando se acalmou um pouco. Ela estendeu as duas mãos, indicando que Mirabel se aproximasse e antes que a menina pudesse pensar muito, Isa a envolveu em um abraço.
      - Eu não sabia que precisava extravasar tanto assim! - o tom da menina mais velha era alegre - Obrigada por me mostrar isso.
      Ela soltou a irmã mais nova e sorriu, a outra menina retribuiu o gesto, ainda de mãos dadas o semblante de Isabela ficou mais sério.
      - Quero falar com Abuela sobre o noivado... - ela disse.
      - isso pode ser uma boa ideia Isa, quem sabe se ela souber que você não está feliz ela desista dessa ideia! - Mirabel respondeu animada, o que levou mais um sorriso ao rosto da irmã.
      Assim, as duas deixaram o quarto de Isabela e foram atrás da matriarca. Não demorou muito para achá-la na cozinha, mas o ar confiante que vinha com elas sumiu no instante em que a idosa se levantou e olhou para as duas com uma expressão horrorizada.
      - Isabela, o que aconteceu com seu vestido? - só agora que as garotas repararam que o vestido da mais velha estava completamente manchado de pólen de diversas cores - O que você fez com ela? - essa segunda pergunta foi dirigida a Mirabel.
      Elas estavam prestes a enfrentar uma briga feia, disso elas tinham certeza.

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