Addams com Desgosto

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Tudo poderia explodir do lado de fora daquelas grandes janelas. Nada importava se no interior daquele quarto tudo se mantivesse como estava agora.

Enid Sinclair podia jurar ser apenas mais um de seus sonhos. As pequenas, mas firmes, mãos de Wednesday a segurando pelos fios macios de seus cabelos, faziam com que brutais sensações se acomodassem pelo seu ventre.

Puxava a garota pálida para mais perto, forçando a se sentar em seu colo. Qualquer distância entre elas era desprezível.

Wednesday Addams nunca parecera tão viva aos olhos de Enid. Suas bocas unidas em um beijo era muito melhor do que imaginava. Achava que seria como um colonizador dominando terras e destruindo os povos originários, mas a morena era doce e gentil.

O pequeno corpo se contorcia buscando mais contado entre os braços que a cercavam, suas línguas duelavam com reflexos apurados como em uma luta de esgrima, mas em movimentos lentos como a leitura de um poema.


Em um ato único e rápido, Enid já pressionava a outra contra o colchão. Nunca tinha ido tão longe com ninguém, suas mãos nervosas não sabiam onde tocar, enquanto a mulher a baixo de si tinha seus dedos dançando livremente por onde alcançava.

Addams deslizava seus dedos tocando Enid sob seu casaco colorido. Sinclair sentia-se arrepiar a cada toque diretamente sobre a pele de suas costas, onde unhas curtas a arranhavam até sua barriga fazendo seu corpo liberar pequenos espasmos.

- Tira - Addams segurava a barra do casaco que a lobo usava, erguendo-o devagar. Ao mesmo tempo que parecia uma ordem, esperava pelo consentimento antes de realmente a despir.

Completamente tímida em frente aqueles olhos que pareciam penetrar sua alma, tirou seu casaco o deixando cair ao lado da cama. Não usava nada por baixo além de um sutiã no mesmo tom das mechas rosas de seu cabelo. Ao mesmo tempo que estava tão exposta, se sentia dominante ao ver como sua colega de quarto a encarava. O cérebro da garota poltergeist parecia reiniciar, abandonaria a ciência e seria monoteísta seguindo a Deusa que estava diante de seus olhos.

Suas mãos pequenas e levemente tremulas contornaram as costuras rosadas, deixando que delicadamente a ponta de seus dedos tocassem sobre os seios de Enid que mantinha a respiração presa. A tensão a deixava Sinclair tão desconfortável que poderia explodir em mil pedaços. Era tocada como se fosse o ser mais precioso dentre os vivos e os mortos, Addams carregava um olhar de devoção e um carinho que nunca vira naquele rosto. Parecia assustador.

Wednesday estava tão cuidadosa em cada toque. Completamente diferente da que faria de tudo, e passaria por cima de todos para chegar a seus objetivos.

Estaria Enid sendo enganada novamente? Da última vez que achou que teria alguma chance com sua amiga, se viu enganada por um perseguidor desconhecido.

As sensações que os toques a provocavam estavam dificultando sua capacidade de raciocínio. Sua mente a dividia entre flashes da noite anterior onde conversou e obedeceu uma falsa Addams, e a vontade de que agora tinha de empurrar aquele rosto pálido entre os seus seios.


Tentou concentrar-se no cheiro. Parecia como o habitual, talvez canela. A temperatura da sua pele era um pouco mais quente do que de costume. Seu rosto agora tinha cor. Sentira o gosto de menta nos seus lábios. O coração batia mais rápido do que nunca, nem quando perseguida por Hyde Enid ouvira o coração de Wednesday tão acelerado.

Suas mãos foram ao pescoço da jovem Addams, admirando aquele rosto corado e lábios inchados.

Não seria enganada de novo. Se ela fosse mais uma cópia de Wednesday, morreria agora por suas mãos.

Já era um fracasso como lobisomem, seus instintos se afloravam de formar irregulares a qualquer estimulo.

Seus dedos pressionaram com mais força o delicado pescoço. Os olhos de Addams, com as pupilas dilatadas, se abriam cada vez mais processando o que estava acontecendo.

O mesmo brilho que vira nos olhos de Sinclair quando a viu se transformas, estava novamente em seu olhar. As presas cresciam em sua boca, as garras coloridas arrastavam-se pela sua pele.

Enid sabia que seu emocional era completamente ligado a sua existência como lobisomem. Ainda estava instável depois da última noite a qual foi drogada, além dos reflexos dos danos gerados em sua identidade e consciência sobre si mesma depois da terapia de conversão. Ela precisava matar antes de ser morta.


Ao mesmo tempo que estava prestes a desmaiar, Wednesday tinha um sorriso no rosto. Suas mãos apertavam Enid pela cintura, a forçando contra seu corpo de forma a nunca perder o contado. Addams poderia estar encarando sua morte, mas nunca tinha se sentido tão excitada. Ter Sinclair a estrangulando era melhor do ser eletrocutada em uma banheira cheira de água.

Ao ver aquele sorriso masoquista nos lábios que a pouco tempo estava beijando, afrouxa suas garras deixando o ar entrar novamente aos pulmões da sua vítima, permitindo-a soltar um suspiro que preencheu os ouvidos de Sinclair.

Apenas uma verdade Addams iria gostar de encarar a morte dessa maneira.

A consciência volta a invadir a mente de Enid a levando ao desespero e culpa. Ela não apenas acabara com o clima entre elas, mas podia ter acabado com uma vida.

- Wed - sentada sobre sua colega de quarto, cobria seus olhos agora marejados – O que...

- Por que você parou? - Wednesday acariciava a pele da mulher lobo, tentando conforta-la - Estamos indo rápido demais?

Ao mesmo tempo que tentava controlar as lágrimas, a lobo colorida não podia entender como sua colega de quarto estava tão calma.

- Eu estava te estrangulando, Addams - as lágrimas corriam pelo seu rosto. Nunca imaginara perder o controle dessa maneira, ainda mais ao colocar em risco alguém quem gosta tanto - Eu podia ter matado você.

Wednesday sabia que nunca morreria por aquelas garras. Não temia o que Enid era e a aceitaria da mesma maneira como era aceita com todas suas excentricidades. Queria todas as versões de sua amiga, conhecer cada capitulo que aquele ser a deixasse ler. Além de que em sua vaidade jurava que não poderia ser morta por ninguém.

- Eventualmente, me tiras o ar sem sequer precisar de estrangular - tentava consolar a lobo chorona, mas suas palavras nunca pareciam melhorar nada - Eu gosto.

- E eu também gosto disso - Continuou, agora tocando nos lábios de Sinclair, deixando seus caninos a mostra.

Por mais que fossem diferentes em tantas coisas, acreditava que apenas Addams poderia se dispor a absorver todo o terror que tinha para libertar ao mundo.

- Por um segundo – Enid tentava controlar sua respiração, alinhando as franjas da mulher a sua frente – Eu achei que você não era você.

Addams deixou com que o monologo de Enid discorresse sem interrupções. Ouvia sobre suas experiências na terapia de conversão, seus conflitos familiares, seu medo de se transformar e abandonar sua verdade no processo. Acolheria toda sua cólera e faria o possível para tentar aliviar seu peso.

- Não sei sobre terapia de conversão para lobisomens – A de cabelos negros puxava sua amiga para um abraço repleto de preocupações - Mas grupos que passaram por tratamentos de conversão, tanto tratando sobre sexualidade ou religiosidade, tiveram aumento em índices de suicídio e depressão. Tenho que manter os olhos em você.


- Eu só queria uma melhor relação com meus pais – Enid se abrigava nos braços da menor – Eles dizem que fazem isso por amor. Mas o amor não devia me machucar assim.

- Muitos tentam nos impor situações jurando ser o melhor, mas sabemos que emocionalmente não nos fará bem. Você deve ser amada e respeitada pelo que é, e não por quem esperam que você seja.

Talvez aquela não fosse um clone da Addams, mas certamente ela estava enfeitiçada. As palavras sutis de conforto saiam de sua boca sem gerar a ânsia e o desgosto que seria costumeiro.


- É natural que tenhamos diferenças com nossa família nessa fase da vida. Mas Gomez e Mortícia sempre apoiaram minha existência e identidade. - afagando os cabelos da loira, entrelaça seus dedos os puxando devagar forçando os olhos azuis a enfrentarem os olhos negros - Se você fosse uma Addams, seria aceita e amada sendo um lobisomem ou não.


"Se você fosse uma Addams"



Essa pequena sentença deixava um sorriso voltar a nascer nos lábios de longas presas. Se via criando corvos e escorpiões como animais de estimação, e achou bom.

Mais um Desgosto - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora