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Toni chegou em casa já era quase
noite. Tinha sido o dia mais emocionante
e estranho de toda sua vida. Ela conseguia quase voar pulando entre os prédios e ainda tinha que aperfeiçoar o que ela supôs serem teias que saiam por seus pulsos. Mas deixaria isso para outro
dia. A bendita aranha tinha de alguma forma evoluído seu corpo, lhe dando várias
habilidades diferentes. Ela não poderia
estar mais feliz, mas sabia que deveria
esconder desde já o que estava
acontecendo. Não era algo normal, e como qualquer coisa "anormal"
e fora do padrão da sociedade, ela
consequentemente seria condenada e
perseguida. Imagina se todos
descobrissem uma aranha humana,gay e intersexual andando por aí, ela não gostava nem de pensar.
Entrou na cozinha já dando um beijo e um
sorriso de orelha a orelha para a tia que
sorriu de volta. Sentou-se no balcão do
armário logo em seguida.

-Oi

- Vejo que o dia foi bom. Estou fazendo
espaguete com almondega para o jantar.
Porque está toda suja assim?

- Tudo que pedi para hoje. Eu caí na
escola, nada demais.-Desconversou-Onde está tio Ben?

- Bem aqui. - Falou entrando na cozinha
com os pés descasos e molhados, calça
dobrada até os joelhos e uma caixa com
troféus velhos. Deixava um rastro de
água por onde passava na cozinha.
- Ben Topaz, nem pense em deixar essa
caixa imunda na minha cozinha.

- Mas amor, são meus antigos troféus de
boliche. - Fez um bico para a esposa.

- Sendo assim, pode deixar essa caixa imunda na minha cozinha. - Disse com
sarcasmo e com as mãos na cintura,
virando-se para o fogão depois de Ben
colocar a caixa em um canto afastado na
cozinha.

- Onde é a inundação? - Perguntou para o
tio, que se dirigia novamente ao porão.

- Me acompanhe e veja você mesma

enquanto Ben tentava adivinhar de onde vinha tanta água, Toni tentava ter um pensamento mais bem formado sobre o problema principal do vazamento. Ben não entendia nada de aparelhos mais modernos. Enquanto Toni era um gênio em tudo.

- Acho que é a bandeja do condensador.

- Não tio, tem água demais para ser a
bandeia do condensador ou o exaustor.
Deve ser a serpentina.

- Hum, essa é a única coisa que faz
sentido. Você sabe concertar?

- Sei, mas não tenho como fazer isso hoje.
Eu compro as peças na loja amanhã. - Se
dirigiu para perto da serpentina,
analisando melhor o problema.

- Excelente! - Pegou mais uma caixa de
troféus e se direcionou a escada - Vou
subir com isso enquanto você olha aí,
tudo bem?

- Claro, vai lá.-Se concentrou e em pouco tempo já estava sozinha no porão.
A morena teve que afastar uma caixa
grande para poder olhar melhor a
máquina. Mas se deparou com uma pasta
de couro familiar. Pegou e seus olhos
ficaram gradativamente marejados
quando viu as iniciais MT.
Aquela era a pasta de seu pai. Ela teve
um pequeno flash de memória ao lembrar-se dele dirigindo naquela noite de chuva para a casa onde ela cresceu.
Subiu lentamente as escadas e entrou na
sala ainda com o olhar vidrado na bolsa
em suas mãos. Seus tios logo pararam a
pequena discussão que estavam tendo
sobre chamar ou não o encanador, e
trocaram olhares, reconhecendo a pasta
que a sobrinha carregava. Andaram
cautelosos para perto dela. Ben ficou
mais próximo e May ficou observando do
batente da porta da cozinha.

- Ah, eu nem lembrava mais dessa coisa.
Era do seu pai.

- E, eu sei...

- Ele pediu para guardarmos em
segurança. - Deu uma pequena risada e
resolveu contar algo para sobrinha. -Ele
viu essa pasta em uma vitrine de uma loja
de artigos de couro. Tinha 19, para que
um garoto de 19 anos precisaria de uma
pasta? - Falava enquanto Toni vasculhava algumas coisas dentro do objeto.

Spidergirl -CHONIOnde histórias criam vida. Descubra agora