Lua minguante

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- O bilhete não é dele? - Enid pergunta.

- Eu nunca recebi esse bilhete do Ajax, quem me entregou foi a Yoko, lembra? - Relembro a ela. 

- Yoko disse que ele mandou entregar, não foi? - Ela ainda parece confusa.

- Sim, mas isso não significa nada. Olha, eu sei que você é amiga dela mas quem garante que Yoko está do lado certo? - Pergunto e vejo a expressão de Enid mudar drasticamente.

- Isso é ridículo! Yoko não faria mal a uma mosca. Na verdade ela faria mas se nós fossemos as moscas, ela não faria mal. - Ela respondeu e seu tropeço em seu raciocínio chegou a me tirar um leve sorriso.

- Tyler também não feria uma mosca, principalmente se eu fosse a mosca. Olha onde chegamos. - Digo.

- Não acredito nisso. - Ela responde visivelmente irritada. - Tyler sempre foi um idiota e eu sempre te avisei, Xavier também te avisou mas tudo que você fez foi seguir esse seu instinto ridículo. - Essa conversa esta começando a me irritar.

- Okay, fui enganada, eu admito! Mas isso prova mais que a Yoko pode não ser quem você acha que ela é, Enid. - Mantenho meu tom de voz.

- Você pode confiar em mim pelo menos uma vez? - Ela diz com a voz bem alterada.

- Eu já confio em você. - Digo.

- Você está sempre se metendo em confusão, se machucando, se enfiando na floresta e acusando pessoas. E a ideia de tomar cuidado pois suas atitudes me atingem? Você esqueceu? - Ela reclamou. Não entendo tamanha revolta. Tudo que fiz foi apenas levantar uma hipótese.

- Estar perto de mim tem esse efeito, você sabe disso. Eu estou tentando o máximo que posso mas ignorar a Yoko nessa situação seria burrice. - Respondo tentando ponderar a situação.

- Ignorar é o que você faz de melhor, não é? - Ela diz com aquela mesma amargura no olhar.

- Eu te disse, não foi culpa minha, Enid.

- Você quer que eu acredite que você não me viu, não me ouviu ou sequer pensou em me procurar durante todo o dia? - Os olhos azuis estão marejados. Droga.

- Eu te procurei, por toda a escola, durante as aulas e não te vi em nenhum lugar. -  Eu não preciso dar explicações a ela.

- Eu sei que você não liga muito para as pessoas, mas achei que depois de tudo que aconteceu você amenizaria essa sua questão com demonstrar algum tipo de preocupação. - Ela disse e admito, essa me pegou em cheio como a flecha que atravessou meu ombro a dois meses atrás.

- Enid... - Eu tentei dizer algo, juro que tentei, mas como explicar algo que ainda não entendi ou sequer conheço?

- Nós já tivemos essa briga antes e agora eu sei que não chegamos em lugar nenhum. Eu só preciso de tempo, okay? Não vou ficar aqui vendo você se contorcer e se esforçar para me entregar nada. Eu to cansada disso. - Ela não falaria assim.

- Enid, tem algo errado. - Digo. 

Ela está parada em frente sua cama enquanto estou na parte onde a lua tem acesso dentro do quarto, então me aproximo, sinto uma dor forte de cabeça. Seu olhar de raiva e mágoa cruzam meu corpo como um choque. Tem algo errado. Eu abro a boca mas as frases não se montam. Por que ela está me olhando assim?

- Wendesday,  você está me assustando. - Ela diz e me vejo confusa. Ela não estava em pé ao lado da cama? Me olhando com aquele olhar dilacerante? 

- Como você chegou ai tão rápido? - Pergunto ao ver Enid ao lado da janela. Seus olhos estão marejados e ela parece assustada. 

- Eu estou aqui desde que você começou a falar da Yoko. Você questionou de que lado Yoko estaria e começou a balbuciar coisas estranhas. - Ela ainda estava estática ao lado da janela.

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