Capítulo 5

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Lena

Vir para os Estados Unidos foi horrível. Eu tive que vir no jatinho do meu pai, o que seria maravilhoso se eu não tivesse que ver ele e Nadja se engolirem o voo inteiro. Teve um momento em que os dois foram para o quarto e eu consegui ouvir os gemidos. Acho que até os pilotos ouviram, foi algo nojento.

Quando chegamos, entrei numa espécie de furgão e fomos para uma cidadezinha próxima de Chicago, chamada Evanston. Não tem muita coisa na aqui, é um lugar bem pequeno e não se parece nada com Berat. Sinto falta do mar, da praia, do calor, das pessoas. Fomos para a casa que Kanun comprou, que por sinal é muito bonita. Tem dois andarem e um bunker embaixo.

Meu quarto fica junto com dos funcionários e não me importo nem um pouco, quanto mais longe do meu pai melhor. Voltei a falar com
Enver, decidi que é melhor ter aliados nessa casa. Apesar de estar chateada, ele é meu amigo de infância e pode me ajudar no que eu vou precisar.

Decidi de uma vez por todas que irei escapar daqui, não posso ficar mais um dia sequer. Dessas duas semanas que estamos aqui, meu baba me proibiu de sair de casa e cortou alguns alimentos da minha dieta. Disse que eu estou gorda e preciso emagrecer, também me obrigou a fazer exercícios físicos todos dias. Eu já fazia antes, mas com menos frequência. E todas essas atitudes estão me deixando um tanto desconfiada.

Acredito que ele está planejando um casamento arranjado para mim. O que me desespera, mesmo eu já aguardando esse momento na minha vida. Vou sair de um pai abusivo para um relacionamento com um cara provavelmente abusivo. Os homens desse meio veem as mulheres como propriedade.

- Garota, seu pai está te chamando. - Nadja aparece no meu quarto. - É bom arrumar esse cabelo e colocar uma roupa agradável, alguém quer ver você.

Ela bate a porta e sinto meus batimentos cardíacos acelerarem. Será que vou conhecer meu futuro marido?

 Será que vou conhecer meu futuro marido?

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Chego no escritório e abro a porta. Escovei meus cabelos e coloquei um vestidinho rosa claro de alcinha. Vejo meu pai sentado, Nadja em pé ao seu lado e me assusto quando vejo um homem encostado na parede. Me aproximo e fecho a porta.

- Blake, essa é minha filha, Lena. - baba diz essa frase em inglês.

O homem aparenta ter uns cinquenta anos, mas está bem conservado. É bem bonito, tem cabelo castanho escuro e olhos escuros também, no entanto é assustador. Ele é alto, veste uma jaqueta de couro e olha para mim como se eu fosse um pedaço de carne. O homem anda em torno de mim, encarando cada pedacinho meu.

- É muito bonita, tem bunda, seios um pouco pequenos, mas dá pro gasto. - me sinto enojada com sua fala. - Eu aceito, Kanun. Nosso acordo está feito. Você vai ser minha, garota. - meu pai fala que já estou liberada.

Eu saio do escritório com lágrimas nos olhos. Não quero casar com ninguém, preciso sair daqui, é agora ou nunca. Aguardo anoitecer e arrumo uma mochila com alguns itens e roupas. Coloco uma calça jeans, um tênis de corrida e uma blusa. Pego um pouco de dinheiro que tenho, quando alguém abre a porta. É Nora.

- Minha filha, o que está fazendo?

- Preciso ir embora, Nora. Ele quer me casar com um homem que tem o dobro da minha idade.

- Eu imaginava que esse dia ia chegar. - ela suspira e tira um papel e caneta do bolso de sua roupa. - Tem um ônibus que vai daqui para Chicago, leva apenas 30 minutos. Chicago é bem segura, porque os Manginello que mandam lá. É basicamente uma fortaleza, Kanun nunca ia chegar lá sozinho. Procure por Luxuria Rossa, eles iram te ajudar lá. Conte tudo o que sabe para eles.

- Como sabe de tudo isso?

- As paredes tem ouvidos, Lena. Os Manginello vão te ajudar, são pessoas boas. - Ela fecha minha mochila e coloca nas minhas costas. - Vamos eu vou ajudá-la a sair.

Vamos pela porta dos fundos e os soldados estão distraídos fumando. Corremos para a porta de saída. Nora me dá a chave de uma moto, deve ser de um dos soldados. Ela diz para eu deixar a moto em um local próximo da rodoviária para despistar os capangas do meu pai e pegar o ônibus, que será mais seguro.

- Vai, minha menina, é só seguir reto até chegar numa cafeteria e depois vire a esquerda. Sentirei saudades, Lena.

- Obrigada por tudo, Nora. Você é a mãe que nunca tive. Të dua (te amo). - abraço ela forte.

- Të dua. - escutamos uns barulhos e gritos de soldados. - Corre, Lena. Vai rápido.

Subo na moto e saio disparada, dou uma olhada para trás e vejo o corpo de Nora no chão, ensanguentado e soldados dando ordens uns aos outros. Ando o mais rápido que posso e choro ao mesmo tempo, passa uns quinze minutos e chego na rodoviária. Descarto a moto num terreno, compro minha passagem rapidamente e o ônibus está quase saindo. Quando estou perto de entrar, alguém puxa meu braço. Olho e vejo Enver.

- Me deixa ir, por favor.

- Lena...

- Meu pai quer me casar com um homem muito velho que eu. Eu aturo tudo, humilhações e agressões, mas não posso aturar isso, Enver. Eles mataram Nora. - fungo. - Preciso ir, por favor.

Ele pensa por um tempo e me dá um abraço forte. Beijo sua bochecha e ele diz:

- Me dê um sinal quando estiver a salvo. - ele me dá um papel com meu número de telefone

- Pode deixar. Tenho que ir. - aceno pra ele e entro no ônibus. Suspiro aliviada e sigo para minha nova jornada.

A viagem durou quarenta minutos e assim que cheguei fiquei impressionada com Chicago

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A viagem durou quarenta minutos e assim que cheguei fiquei impressionada com Chicago. É uma cidade linda e toda iluminada. Vou andando por ela e perguntando onde é a tal boate que Nora me passou as informações. Toda vez que penso nela tenho vontade de chorar, ela morreu por minha causa e vou carregar essa culpa para sempre.

Está chovendo bastante e minha roupa está toda ensopada. Penso em como vai ser minha vida daqui pra frente, quando vou atravessar a rua e sou quase atropelada.

Um homem sai do carro e a princípio me assusto. No entanto me distraio com sua beleza. Ele tem pele negra, é alto e musculoso. Nunca vi alguém com tamanha beleza antes. Ele é totalmente diferente dos homens albaneses e isso mexe comigo de forma que não sei explicar.

- Você está bem? - sua voz grossa ecoa pela rua vazia.

Seja Minha - Série Irmãos Manginello (Livro 4) / CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora