1 - O acordo

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Mikaela Pov

- Bem, estamos por nossa conta.- Feyre murmurou quando Alis desapareceu pela floresta densa que tivemos de atravessar até chegar aqui. O vento fazia as folhas das árvores dançarem como se tivessem zombando da gente. Zombando de duas humanas sem noção.

- Tal como nos velhos tempos.- dei um pequeno sorriso por baixo do meu véu. Olhei nos olhos azuis que tanto eu, Feyre e Nesta compartilhamos. - Eu estou aqui com você Feyre. Eu e você contra o mundo, lembra? - queria abraça-la e dizer que tudo ficaria bem mas a minha aversão ao toque físico era maior.

- Vamos lá.- eu dei um pequeno aceno ajeitando o pedaço de pano que escondia metade do meu rosto e colocando as minhas luvas. Eu detesto ser tocada e de tocar.

Olhamos para aquela caverna e seguimos para o seu interior revestido de paredes rochosas e bem afiadas. Era extremamente apertado lá dentro e escuro também. Se Feyre não estivesse aqui talvez eu entrasse em pânico. Lugares apertados e escuros me traziam lembranças ruins.

Continuamos a pequena caminhada por aqueles corredores estreitos até vermos uma luz laranja. Seguimos na sua direção até ouvir Feyre soltar a respiração atrás de mim. Antes de me virar, uma mão monstruosa envolveu o meu pulso. Graças à luz laranja consegui reconhecer Attor. Tentei me desvencilhar assim com Feyre mas sem sucesso. Ele era muito mais forte.

- Nos solte agora.- Feyre grunhiu. Consegui dar um chute nas asas daquela coisa que gritou nos soltando. - Corre.

Corremos apenas até ao final do corredor trombando com uma criatura parecida com a anterior. Voltamos para trás para escapar mas Attor segurou nos braços da minha irmã e me atirou ao seu amigo.

- Olhem só o que eu achei aqui.- desdenhou abrindo um sorriso cheio de dentes afiados.- Hoje é o meu dia de sorte. - ele me apertou fazendo o meu coração errar uma batida antes de acelerar ainda mais. Eu odeio ser tocada. 

Enquanto eles nos arrastavam Deus sabe onde, a minha mente enlouquecia para tentar achar uma saída, qualquer coisa. Eu estava morta. Eu e Feyre seriamos mortas e expostas como o lixo humano que eles nos consideram.

Olhei de relance para Feyre sabendo que ela também tentava achar algo que pudesse nos ajudar, mas ela também não conseguia pensar em nada. Podia jurar que via o seu coração bater em pânico.

Quando olhei para a frente, estávamos diante de duas portas gigantes que se abriram sozinhas. Atrás delas um grande salão surgiu com uma grande multidão que se calou com a nossa entrada e deu nos passagem. O salão era esculpido com belas obras de arte que com certeza eu e Feyre falaríamos por horas, um pequeno palco com seis tronos e outra estrutura acima deles com uma mulher ruiva sentada num trono que ofuscava completamente os outros. À sua frente estava um homem ajoelhado como se a venerasse mas ao seu lado esquerdo estava Tamlin, igualmente sentado num trono.

Olhei para Feyre que encarava a ruiva e quase tive vontade de rir em meio de todo aquele caos. Eu conhecia aquele olhar. Ela não achava Amarantha avassaladoramente bonita como Alis tinha retratado. Estava escrito na sua expressão. Ambas fomos atiradas ao chão de mármore vermelho mas graças aos anos de caça conseguimos recuperar o equilíbrio ficando de pé. Eu jamais me ajoelharia perante alguém.

Com o olhar erguido e a minha roupa de armadura, me aproximei da minha irmã quase nos tocando e erguemos as nossas cabeças deixando claro que não havia um pingo de medo mesmo que sentisse o meu corpo trêmulo.

Aquela mulher sentada naquele trono negro era o sinónimo de demónio. A mais alta comandante de Hybern que não só matou milhares de humanos como os escravizou estava diante de mim. Os seus cabelos eram ruivos e contrastavam com a pele branca. Os seus olhos eram tão escuros como a escuridão que me aterrorizava à anos. Ela tinha um ar de desprezo, ódio mas ao mesmo tempo de sabedoria e diversão. Pintá-la teria me levado à loucura.

Corte de terror e sacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora