6 -Segunda tarefa

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Acordei na cela gelada enrolada numa manta polar mas ainda assim estava frio. Vomitei muitas vezes aquele estúpido vinho num canto da minha cela e a minha cabeça rodava muito.

A tinta da minha cintura era a única borrada o que me fez chorar de alívio ali sozinha. Ninguém tinha se aproveitado do meu estado para usar o meu corpo. Lucien apareceu e discutimos. Ele ficou zangado por ter feito o acordo com Rhysand mas se eu não tivesse feito já não estaria aqui. Foi caso de vida ou morte.

No final ele entendeu e precisou ir embora por causa da troca de turno dos guardas.

Durante todas as noites daquele mês, tanto eu, como Feyre fomos forçadas a comparecer naquelas festas e a tomar o vinho. No dia seguinte acordava, vomitava e dormia. Virou um ciclo. Eu apenas me lembrava de dançar entre as pernas de Rhysand sensualmente enquanto ele passava as mãos na minha cintura ou braços, nunca mais do que isso. A tinta me dizia isso. Ou então apenas me obrigava a ficar sentada no seu colo e rindo de algo idiota que ele falava. Lembro de adormecer no seu colo e de ser carregada e coberta com uma manta.

Esta noite foi diferente. Ao invés do modelo de vestido que era forçada a usar, hoje vesti um macacão preto igual ao da primeira tarefa, com o véu e niqab a combinar. Os meus olhos marejaram ao sentir todo aquele tecido me cobrindo, finalmente sentindo uma proteção depois de tanto tempo exposta. Calcei luvas e botas confortáveis. Feyre olhava as gémeas confusa pois estava com o modelo de vestido usual.

Rhysand apareceu nos levando para o grande salão.

- Amanhã é a segunda tarefa.- ele murmurou. Por causa dos efeitos daquele vinho idiota perdi a noção dos dias.- A tarefa da Mikaela começará mais cedo.

- Qual é a tarefa dela?- Feyre perguntou preocupada.

- Pior que a sua, acredite.- engoli em seco.

Chegámos ao salão inquieto porém quase todos aqueles feéricos se viraram para nós, para Rhysand especificamente. Os seus rostos estavam cobertos de medo. Os irmãos de Lucien estavam consideravelmente perto do lado de Feyre. Rhysand percebeu o seu desconforto e com uma mão nas minhas costas e outras nas da minha irmã, empurrou-nos suavemente para a frente.

Fiquem por perto e mantenham a boca fechada, escutei na minha mente

A multidão aglomerada se afastou quando viu Rhysand como se ele fosse um bicho papão. À frente do palco dos tronos dos grãos senhores e um pouco acima o de Amarantha e Tamlin, um grão-feérico de pele marrom chorava no chão.

Amarantha tinha um sorriso sádico pintando os seus lábios vermelhos. Rhysand deixou-nos no limite da multidão e aproximou-se fazendo uma vénia a Amarantha que apenas brincava com o osso do seu colar ainda sorrindo.

- O pequeno senhor do verão - apontou para o homem no chão- tentou escapar para as terras da corte primaveril. Quero saber o por quê.- uma ordem, não um pedido.

O grão senhor da corte estival observava o seu súbdito com a mandíbula contraída. Tenso. Rhysand suspirou entediado e escondeu as mãos nos bolsos do seu blazer negro com detalhes prateados. O homem no chão me relembrou o quão perigoso Rhysand é. Ele se urinou só com a menção do senhor noturno.

- P-por favor, eu imploro...- murmurou em completo terror. A multidão estava muda, como se nem estivessem ali de tão silenciosa que estavam.

Observei o grão-senhor da corte estival olhar para o seu súbdito, agora com as garras de Rhysand na sua mente. O seu olhar estava repleto de dor. Um grão-senhor novo, ainda teria que fazer muitas escolhas horríveis em nome do seu povo. O meu coração doeu por ele.

Corte de terror e sacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora