7 - Eu não mereço sair

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Acordei ainda sentindo que estava sendo puxada para baixo. Tentei ao máximo mexer os meus braços para funcionarem mas não se mexeram. Tentei mexer qualquer parte do meu corpo mas sem sucesso. Eu só conseguia abrir e fechar os olhos. Estava tudo escuro, tudo tão escuro, tudo tão frio. Senti os meus pulmões arderem pela falta de ar e acabei desmaiando outra vez porém foi diferente.

Eu sentia o meu corpo desmaiar, mas a minha mente rodar memórias.

- Foi o melhor que aconteceu de facto.- Nestha disse fria enquanto lia o seu livro do velho chalé.- Você é apenas uma besta selvagem, ninguém nunca a vai amar. Está condenada a ser um ninguém.- lágrimas rolaram. Ela estava certa.- Ainda irá agradecer um dia...você nunca seria uma boa mãe e além disso seria um bastardo.- ela franziu o nariz com desgosto.- Um bruto como o pai, um animal como a mãe, a melhor coisa que lhe aconteceu foi perder essa criança...

- Nestha...- a minha voz saiu fraca enquanto continuava abraçada aos meus joelhos contra uma parede.- Com-como você consegue ser tão fria?

- Você ainda é muito nova para entender algumas coisas.- ela fechou o seu livro com força.- Diga-me, estou curiosa. Como protegeria aquela coisa se nem a sua inocência conseguiu manter?

- EU FUI ESTUPRADA!- gritei rouca de fúria.- EU FUI ESPANCADA, EU FUI TORTURADA E AGORA...- o choro voltou.- Ele simplesmente abriu o meu corpo e o tirou da minha barriga.- abracei o meu corpo com força.

O meu corpo voltou e os meus olhos se abriram. Estava dentro do lago outra vez e mais uma vez tentei nadar até à superfície sem sucesso. Uma onda de pânico de instalou no meu corpo ao perceber o por quê daquilo ser chamado inferno na Terra.

Lute para viver, reviva as suas piores lembranças, perca a vontade de viver.

Os meus olhos se fecharam e as memórias voltaram.

Estava acorrentada a uma mesa numa cave escura e húmida. Infelizmente não era a primeira vez que acontecia. A um canto havia uma fogueira alta. Havia 3 homens dentro daquela sala. 3 dos 13 que fizeram a minha vida num inferno. Implorei por misericórdia tantas vezes àqueles homens e continuaria pedindo. Eu só queria ir embora com o meu filho, o lindo e inocente ser que crescia no meu ventre. Gritei quando cortaram a minha barriga bem fundo. Sangue cobriu o meu corpo. Senti quando arrancaram o meu filho do meu útero com tanta força que a minha visão ficou escura pela dor. Eu gritava tanto, de dor, de medo, por pena, por misericórdia.

Senti quando começaram a cozer o meu interior. Senti cada perfurar da agulha costurando o meu ventre enquanto o choro do meu filho preenchia o lugar. Vi o sorriso maligno do homem que o segurava, rosto de tantos pesadelos meus. Ele se aproximou daquela fogueira e me olhou conferindo que o estava vendo. Ele apenas jogou o meu filho lá dentro.

Acordei novamente com os gritos do meu filho sendo queimado vivo na minha mente. A minha respiração estava ofegante então não demorou muito para ser amaldiçoada por memórias de novo.

Sob a montanha

- O que é a prisão da mente?- Feyre perguntou ao senhor da noite quando este apareceu subitamente na sua cela duas semanas depois de sua irmã ter sido arrastada até àquele lago. Faltava uma até ao último desafio. Uma para serem livres.

Um arrepio ultrapassou a espinha do mais velho.

- Acredite, não vai querer saber.- ele disse sentando contra a parede da cela fria. Tinha acabado de sair do quarto de Amarantha. Estava arrasado.

- Amarantha disse que os grãos-senhores já estiveram lá. Você é um grão-senhor, portanto...- o macho expirou.

- Acredite quando eu digo que prefiro ser fudido por mais cinquenta anos do que passar dez minutos naquele lugar.- avisou grosso. Feyre arregalou os olhos.

Corte de terror e sacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora