Aquele dia ele acordou todo manhoso, sentindo fortes dores de cabeça que só passaram após vários comprimidos. Por sorte, era dia de consulta, e o doutor já havia adiantado que iria receitar novas medicações.
— Estou com frio... Não quero sair hoje... — ele murmurou debaixo das cobertas.
— Por favor, Jinnie — Lindsey o incentivava, tentando convencê-lo a se levantar. — Você sabe que precisa ir à consulta.
— Pra quê? De que adianta, se amanhã eu vou ter esquecido de tudo novamente?
Aquelas palavras partiam o coração de Leona em mil pedaços, e ela tinha que reunir toda a força para não desabar na frente dele.
— Kim Seokjin, você precisa — disse ela, puxando o edredom com desenhos de bichinhos do mar. — Então levante agora.
— EU NÃO QUERO! — ele gritou de repente, levantando-se e pondo-se diante dela, que se sentia minúscula, já que ele era muito mais alto e com ombros largos. — DE QUE ADIANTA FAZER A PORRA DE UMA CONSULTA? DE QUE ADIANTA TOMAR DEZENAS DE REMÉDIOS SE O QUE EU TENHO É IRREVERSÍVEL? DE QUE ADIANTA SAIR DE CASA E TER UM DIA BOM SE AMANHÃ EU VOU ESQUECER ABSOLUTAMENTE TUDO?
— Jin, chega! — Lindsey interveio. — Você está sendo imaturo, não vê que Leona faz tudo isso por você?
Leona não percebeu de imediato, mas lágrimas escorriam por seu rosto, e ela tremia... Não aguentava mais ver o primo sofrer daquela forma.
— Leona, eu... — Ele tentou se desculpar, mas ela já havia ido para o quarto, onde trancou a porta e pôs para fora todo o sofrimento que carregava há anos.
Eram apenas mais umas férias de verão na casa de praia dos tios (pais de Jin). Haviam planejado tudo há meses, e foi o melhor verão de suas vidas. Jin tinha 14 anos e Leona 10; eram melhores amigos desde bebês e se divertiram ao máximo.
Mas, no penúltimo dia de férias, um grupo de criminosos invadiu a casa dos tios e fez todos de reféns, com exceção de Jin, que havia saído para comprar temperos para que tia Lila terminasse o almoço.
Os criminosos mataram os tios de Leona na sua frente, com um tiro no peito de cada um... A sensação de medo, desespero e impotência naquele momento foi a mais cruel e assustadora que ela já havia sentido.
Eles a amarraram, colocando-a no meio da sala junto aos corpos dos tios ensanguentados. Naquele instante, ela teve certeza de que iria morrer.
Mas, felizmente ou infelizmente, estava errada.
— E a garota? — perguntou um dos mascarados.
— Ela não nos interessa — respondeu o homem que tinha uma tatuagem de borboleta no ombro junto a um número romano. — É só uma garotinha, e eu não mato crianças. Ela não será um problema.
Foi nesse instante que Jin entrou na casa, e o sorriso que trazia foi substituído por uma expressão de pavor ao ver a cena.
— Olha quem chegou, o unigênito da família Kim — o homem da tatuagem sorriu, colocando a arma na cabeça de Jin. Naquele momento, Leona teve certeza de que não era apenas um assalto qualquer. — Só estava faltando você para completarmos a festa, jovem mestre Kim.
Jin estava paralisado de medo, lágrimas escorriam por seu rosto, e ele implorava para o homem não puxar o gatilho.
Leona queria correr, ficar na frente de Jin e protegê-lo, mas, amarrada e amordaçada, estava completamente impotente.
Então o disparo ecoou pela sala, fazendo tudo passar como em câmera lenta, e ele não apenas partiu a cabeça de Jin, mas o coração de ambos, roubou os seus sonhos e a esperança de uma vida simples e pacata.
Os criminosos foram embora, mas um deles desamarrou Leona antes de sair.
— Não vamos poder nos divertir com você agora, gatinha. Não pegamos crianças — disse o homem da tatuagem na porta. — Mas quem sabe um dia?
Leona se debruçou sobre o corpo de Jin e, milagrosamente, ele ainda respirava. Desesperada, pegou o telefone e chamou uma ambulância.
No caminho para o hospital, ela implorava pra Deus para que não tirassem o primo dela. Ele era sua única família restante, e Leona fez uma promessa: se ele sobrevivesse, não importariam as circunstâncias, ela o protegeria e cuidaria dele.
Lembrando dessa promessa, Leona limpou as lágrimas, se recompôs e abriu a porta.
— Desculpa, Leh... — Jin a abraçou. — Eu não queria ter gritado com você... Perdi o controle.
— Está tudo bem — ela sorriu, ainda com os olhos vermelhos e marejados, e segurou as mãos dele, que eram incrivelmente macias. — Mas você vai ao médico hoje, mocinho.
— Ai, tá bom! — ele fez biquinho. — Mas vamos almoçar no restaurante do seu Jasper?
— O seu Jasper já não trabalha mais no restaurante, meu amor — disse Leona, passando as mãos pelos cabelos dele, que caíam sobre os ombros. Aliás, já estava na hora de cortá-los.
— Não?
— Não, mas agora ele tem uma loja de doces incríveis.
— Sério? Ai, eu quero muito ir — Jin deu um pulinho animado. — Me leva, por favor?
— Só se eu também for junto — Lindsey cantarolou, entrando no quarto. — Eu posso?
— Claro que pode, sua boba — Leona riu, dando um selinho em Lindsey.
— Credo, beijo na minha frente! — Jin fingiu nojo. — Vocês não veem que eu sou apenas um neném?
— Tá bom, então, senhor neném — Leona gargalhou. — Está na hora de tomar um banho.
— Ai, tá bom. Mas quando formos à loja, eu vou querer marshmallows.
— E eu, tartarugas de chocolate.
Eles continuaram falando sobre os doces que queriam até Jin entrar no banheiro. Leona sorriu, pensando em como aqueles dois haviam nascido para serem os amores de sua vida, e ela jamais permitiria que alguém os machucasse novamente.
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Não esqueça de mim-Namjin
FanfictionE se você tivesse que conquistar o homem da sua vida todos os dias?