.Capítulo 5.

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Os corredores estavam vazios e escuros, sendo iluminados somente pela lanterna do Doutor-Monstro.

Corri rápido para o andar de baixo, onde estava a porta de saída.

Porém, ao forçar um pouco a fechadura, vi que estava trancada.

- Merda ! - Chutei a porta.

- Desculpe meu amor. - Sussurrou ela, atrás de mim. - Mas não posso te deixar sair antes de ter uma conversa.

Me virei, vendo Mercy ali, parada com seu vestido maravilhoso.

Ela sorriu.

- Fico feliz que esteja vivo. - Comentou.

- Cala a boca ! - Gritei, já com raiva. - Você não é minha esposa ! Não é a Mercy ! Me deixe sair !

- Você tem raiva, meu querido. - Disse Mercy. - Isso é ótimo. Necessito disso.

- Abra a porta ! - Mandei.

Ela então andou lentamente até mim.

- Eu sou sim a Mercy. Eu sou sim real. - Ela pegou a minha mão e a colocou no seu rosto. - Viu ? Sou eu.

E se aproximou de mim, colando os nossos lábios.

Ela me puxou mais para perto.

O beijo ficou envolvente, quente.

O contato dos nossos corpos era excitante e eu quase não pude me controlar.

Porém, aquela não era ela...

Ela não faria isso...

A agarrei pelos ombros e a joguei para longe.

- Você não é porra nenhuma ! - Gritei.

Mercy ficou espantada, surpresa.

- Não fale assim... - Ela disse.

- A minha Mercy não é assim. Saia daqui ! - Gritei.

- Eu já disse para não falar comigo assim. - Mercy disse, agora séria. - Pegue ele. Sem morte.

E então ouvi o barulho...

O mesmo barulho do corredor...

Era metal sendo a arrastado.

Uma...criatura surgiu detrás de um corredor.

Tinha um capacete de ferro enferrujado na cabeça em formato cônico, com a ponta torta, com quatro buracos.

Vestia um manto branco manchado de sangue, com uma corda amarrada na cintura, prendendo uma faca e uma vara de madeira com um crânio na ponta.

O que era arrastado era uma gigantesca foice limpa, me dando agonia.

- Lembre-se do que eu disse, Feiticeiro. - Mandou Mercy. - Sem morte.

Eu fiquei paralisado, com medo, por um minuto.

O monstro olhou para mim e bufou.

Droga.

Me virei para tentar abrir a porta novamente, mas ele estava lá, e, agarrando meu pescoço, me jogou longe.
As minhas costas se ralaram no chão.
O monstro, Feiticeiro, tirou a vara da cintura e a balançou aleatoriamente no ar.
Aquele não era meu pior pesadelo...
As sombras me envolveram.
Pularam de todos os lados.
Do teto, paredes.
Qualquer lugar onde minha minha lanterna não apontasse.
Não...
As trevas tomaram até o feixe dela.
O que era aquilo ?
Me sentia no vazio, no nada...
Tentei levantar, mas não adiantou, pois eu caí com tudo no chão.
Minhas costas doíam, junto com o calcanhar que eu bati no canto de uma prateleira que jogou diversos livros em cima de mim.
Mas...
Como...?
Eu estava num tipo de...de livraria.
Olhei em volta.
Estava tudo vazio.
Peguei a lanterna, caída no chão, e apontei para tudo em volta.
É, era mesmo um livraria, com prateleiras altas, lotadas de, obviamente, livros.
Grand Master Book Store, segundo a plaquinha em cima do balcão quando estava a meio de sair dali.
Um mapa da cidade também descansava dentro de um livro chamado "Leis do Outro Mundo".
Não achei bom ficar parado aqui, mas também não deixei o livro ali, colocando-o debaixo do braço.
Ao ver que não havia mais nada interessante, dei meia volta e saí da livraria.
Agradeci pela porta não estar trancada.
As ruas eram pura neblina, e provavelmente nem mesmo a própria cidade poderia se ver se conseguisse olhar cada esquina sua.
Eu ainda tinha o plano de sair dessa cidade o mais rápido possível porém...
E Kay ?
E a Loja de Antiguidades ?
A chave ainda estava no meu bolso, quente.
Não...
Eu tinha de sair da cidade.
Como estava de dia, desliguei a lanterna e comecei a andar, olhando para o mapa.
Estava na Simmons Street, perto do centro da cidade.
Não...
Precisava sair.
Havia algumas ruas ali que me levariam pra interestadual, mas parecia um caminho longo demais.
Tinha uma doca ali também.
Isso !
Remaria até meus membros caírem pra sair dessa maldita cidade.
Apressei o passo, passando reto pelas casinhas sem graça e as lojas como a Vivre e o restaurante Steak & Brew Burger e disparando o mais rápido possível para as docas de Silent Hill.
Quando virei a esquina da Simmons Street com a Sagan, porém, a rua, simplesmente, acabou.
Como ?
A rua estava destruída, dizimada e demolida.
Ela caía num barranco de asfalto e pedras até onde não se via mais nada, tanto pela profundidade quanto pela neblina.
Eu recuei no mesmo momento que vi, caindo no chão por tropeçar numa pedra.
- Mas que merda... - Eu disse, a mim mesmo.
Não era possível que a cidade acabasse ali...
Devia ter outra saída.
Relutante, levantei e segui pela Simmons Street, sem opção.
Em total silêncio e cuidado, segui mais e mais.
Depois de um ou dois minutos andando, um grito cortou o ar.
Não parecia monstruoso, mas compartilhava a mesma agonia.
Olhei para os lados.
Vinha de uma loja a direita.
A Antique Shop : Loja de Antiguidades, ecoava a dor fina e desconfortável que vinha de alguém.
Sem pensar, corri para a loja, empurrando a porta, esquecendo, por um segundo, que estava com a chave no bolso.
Peguei ela, nervoso, e coloquei na fechadura, abrindo a porta rápido.
O local estava uma bagunça.
Cálices, brasões, placas, pratos de prata e artefatos de famílias antigas.
Tudo isso amontoado em montanhas e cheirando a bolor por todo lugar.
Na correria, tropecei numa placa de ouro com o nome "Jennifer Carroll" gravado nele.
Pulei e corri para os fundos da loja.
Uma portinha pintada de vermelho nem resistiu quando investi contra ela, abrindo com violência.
Não acreditei o que vi.
Um esqueleto gigante, com retalhos velhos de uma capa cheia de teias de aranha e gosma transparente forçava uma foice gigantesca no pescoço da garota de sobretudo.
Fiquei sem reação por um minuto, mas consegui manejar a arma para atirar no esqueleto vivo.
A bala girou no ar e foi até a criatura.
O monstro olhou para mim antes de desaparecer em fumaça preta.
Nada fazia sentido.
- Kay ! - Gritei, correndo para ajudar. - O que era aquilo ?
- Eu...eu não sei... - Ela gaguejou, sentada mim amontoado de velhos documentos.
E começou a chorar, com o rosto entre as mãos.
- O que está fazendo aqui ? - Perguntei, olhando para os lados.
A bagunça ali era menor porque o cômodo era menor.
Nem soube como aquela criatura coube aqui.
- Eu fui jogada na rua. - Ela respondeu, tentando respirar. - Aquilo me perseguiu até aqui.
- E como entrou ? - Perguntei. - A porta estava trancada.
- Trancada ? - Ela perguntou. - Eu entrei sem esforço.
Como isso era possível ?
Suspirei.
Pra quê pensar nisso ?
Desde que cheguei aqui, nada faz sentido.
- Tem algo aqui que ela quer que eu e você vejamos... - Eu disse.
- O que ? - Perguntou Kay, que, agora que lhe apontei a lanterna, vi que estava com o ombro e testa sangrando.
- Minha esposa. - Respondi. - É uma história maluca, eu...não é hora pra explicar. Tome.
Lhe dei um dos energéticos que encontrei no Hospital Alchemilla e segui para o fundo da loja.
- O que está procurando ? - Kay perguntou. - O que é isso ?
E puxou o exemplar de "Leis do Outro Mundo" debaixo do meu braço.
- Onde arranjou esse livro ? - Perguntou.
- Estava na livraria onde um outro monstro me jogou. Peguei porque estava com isso dentro. - E lhe mostrei o mapa.
- Que estranho... - Ela disse, abrindo o livro. - Propriedades e poderes do Selo e Metatron nos sistemas mágicos da Ordem.
E voltei o feixe de luz para ela, como se eu fosse um cachorro que agora levantara as orelhas.
- Como é ? - Perguntei. - Ordem ? Haziel falou disso. Ordem de Valtiel.
- Se é de Valtiel não sei. Mas é da Ordem. - Kay respondeu. - E aqui diz muito sobre esse tal Selo de Metatron.
- E ? - Corri para perto dela, iluminando o livro.
Ela passou os dedos numa das linhas do livro antes de começar a ler oficialmente.
- Ao prestar os devidos sacrifícios para prestar os cumprimentos para a supremacia do Deus, o ser que irá ascender deverá oferecer a própria vida ao Divino para poder criar e manipular o universo interior, arrastando seus filhos e filhos de seus filhos para dentro de si. - Ela leu, e arregalou os olhos ao ver as seguintes palavras. - O poder então, de criar e destruir estará na mão deste ser.
E então eu entendi. Entendi o que Mercy queria me mostrar.
Meu Deus, o que ela fez...

Silent Hill : SacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora