.Capítulo 10.

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Apesar de minha falta de compreensão sobre o que acabei de ver, voltei a correr para a ponte.
As ruas nebulosas estavam vazias como sempre, sem sequer uma alma viva, seja monstro, seja humano.
Cruzei a Crichton St. e corri até a cabine da ponte, colocando a alavanca no suporte.
Girei a chave, iniciando um desconfortável barulho.
Puxei a alavanca para baixo e a ponte começou a baixar.
Aguardei dentro da cabine, por precaução, e segui alerta por ela, ouvindo o Lago Toluca passar por baixo dos meus pés.
Parecia que aquilo ia se abrir a qualquer momento e eu ia ser devorado por um ser monstruoso dentro da água.
Agradeci aos céus quando cheguei ao outro lado, num local que parecia ser uma área residencial.
Dali eu conseguia ver algumas construções baixas, sem prédios altos como o Silent Hill Town Center.
Por alguma razão, tremi.
Quando passei os limites da ponte, por mais que não tivesse intenção de voltar, ela voltou a subir.
Apesar de certo desespero por não poder voltar para o meu carro, segui em frente.
Seguindo o mapa, segui reto, passando por um posto de gasolina todo enferrujado e sujo, com um carro de capô aberto, e cheguei até a Igreja Balkan Church, após alguns poucos passos.
A frente da estrutura era bonita, com degraus brancos sujos, pilares ao lado do arco da porta, tijolos marrom e placas de ambos os lados dizendo: Balkan Church.
Temi encontrar a porta trancada, mas quando a empurrei, estava aberta.
O interior era feito de mármore branco, com pilares de ambos os lados, bancos separados igualmente em cada extremo da igreja.
 Haviam duas portas ao lado do largo altar, onde havia um candelabro numa mesa, uma Bíblia e, no centro de um grande arco, uma imagem de Jesus Cristo.
Parado, ali no altar, estava uma figura vestida de preto.
Haziel parou de orar, virou-se e estalou o pescoço, como se sentisse desconforto.
- Jack... - Ele disse, em tom desagradável. - O que faz aqui?
- Eu pergunto a mesma coisa. - Respondi, querendo atirar nele, mas sabendo de seu poder de parar balas. - Pensei que estivesse com a minha esposa.
- Ela está em todo lugar. - Disse Haziel, abrindo os braços. - Eu sempre estou com ela.
- Você só diz merdas sem sentido. - Eu falei.
Haziel riu.
- E você é tolo como sempre foi. - Disse. - Vem até esse fim de mundo por razões medíocres e tenta me matar por pura incompetência em manter o seu relacionamento.
Eu não disse nada, impactado.
A vontade de atirar nele cresceu, independente de dar certo ou não.
- Eu não sei o que veio fazer aqui na igreja, Jack. - Haziel disse, com um sorriso no rosto. - Porém, posso lhe dizer que pegou o caminho errado. Dê meia volta e vá procurar outro para importunar. Sua parceira não desapareceu?
- Acha que sou quem para me dispensar como um lixo? - Eu disse, ameaçador.
- Isso mesmo. Um lixo. - Haziel concordou. - Somente um boneco que puxamos as cordas. Agora saia. Preciso falar com Deus.
Fora como um soco no estômago, e não consegui controlar-me depois dessas palavras.
Engatilhei a arma e atirei.
Haziel não se virou, crente que algo o protegeria, mas a bala passou de raspão em seu braço e abriu um buraco na parede.
Sangrando e surpreso, levou a mão ao ferimento e chocou-se com a cor avermelhada.
- Saia de perto de mim! - Ele disse.
E correu para longe.
Era agora.
Eu ainda podia atingi-lo daqui.
Engatilhei.
O dedo estava no gatilho...
Mas uma ensurdecedora sirene começou a soar.
Não vinha da igreja, mas enchia o ambiente como se visse das próprias paredes.
Sofria com dor e agonia, até olhar em volta.
Tudo ficou escuro. Tudo girava.
As paredes descascaram, a luz apagou e algo arrancava a cor das coisas.
Ela... Ela vinha de mim.
Uma sombra parecia tornar tudo aquilo em um cenário infeliz e triste; horrível.
 Parecia um buraco negro, cujo centro era eu mesmo, que engolia tudo.
Uma dor, agora de estômago, pareceu arrancar minhas vísceras e revirá-las como num liquidificador.
Foi agoniante até a sirene passar.
Os bancos, antes organizados, estavam jogados por todo lugar, amontoados, o mármore branco ficou vermelho com quantidades absurdas de sangue seco e o altar estava completamente vazio.
Tentei levantar e cambaleei antes de conseguir ficar em pé.
Continuei a andar até uma das portas ao lado do altar e tentei abrir, mas estava com a maçaneta quebrada.
Fui até a do outro lado, onde havia uma fechadura em forma de círculo.
Uma parte do mecanismo estava lá - um semi-círculo de metal com um símbolo estranho gravado.
Peguei no bolso a outra metade que achei no Silent Hill Town Center, torcendo para não ter que procurar outra chave, e a encaixei.
Um clique me fez abrir a porta.
Havia somente um grande corredor, longo e manchado com sangue e ferrugem.
Além da que eu passei, haviam sete portas - três de cada lado e uma no fim do corredor.
Tentei seguir até ela, mas estava trancada.
Haviam nove espaços, mas duvidava que fosse conseguir preencher todos.
Haviam inscrições em alguns espaços.
No superior esquerdo estava escrito "Este é aquele que não mediu as consequências", no direito "Este é aquele que invocou sem medir o poder", o inferior esquerdo dizia "Este é aquele que observou do alto" e o inferior direito "Este é aquele que não se levantou".
Minha adrenalina para matar Haziel se esvaiu e eu tive uma breve impressão que ele havia escapado.
Me zanguei por alguns minutos, recuperando o fôlego e, como não ia conseguir sair da igreja pela frente, comecei a explorar as portas.
A primeira era somente um simples quarto de orações.
Haviam imagens coladas na parede nojenta e velas acesas, mas não pareciam cristãos ou católicos.
Uma imagem que fora arrancada da parede e deixada numa mesa mostrava uma linda moça, grávida e com uma auréola reluzente na cabeça.
"Santa Alessa - Mãe de Deus, Filha de Deus", dizia a imagem.
A imagem havia sido trocada por outra, mas não dava para ver o rosto da mulher, ou seu nome.
Procurei pelo aposento algo útil, encontrando balas para a escopeta debaixo de uma cadeira e uma estranha carta de Tarot, chamada "A Sacerdotisa" logo ao lado de uma vela próxima a mesa.
Levei-a comigo.
Na sala em frente não havia nada, exceto um berço e um globo terrestre cortado ao meio.
Ao lado, numa sala com escritos ilegíveis, havia novamente um pano na parede com o bizarro desenho do círculo com três círculos dentro - um tipo de selo -, com sangue espalhado por um estranho altar, com duas velas pretas e outra foto dizendo desta vez "Santa Jennifer, símbolo de fé completa e total perante o Deus".
A moça era bonita, com um vestido colonial e elegante, com uma auréola na cabeça, juntando as mãos em gesto de oração.
Também, ao lado destes detalhes, havia um livro.
"O Livro da Revelação: A Visão do Paraíso", estava aberto em uma página que dizia:

Silent Hill : SacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora