Aquilo parecida muito confuso, irreal, impossível...
Ela estava no controle da cidade...
Mas ela morreu !
- Como se chama isso ? - Perguntei.
Kay correu os olhos pela página.
- Aqui diz algo sobre a Assunção Sagrada.
- Os primeiros seres humanos devem ter feito esse Ritual, por isso a passagem "seus filhos e filhos dos seus filhos." - Eu disse, prestando atenção nessa frase.
Mercy queria muito ser mãe.
- Ela deve estar no controle desse livro também. - Deduzi. - Jogue fora. Temos de sair dessa cidade infernal.
- Espera aí. Está dizendo que alguém fez mesmo isso ? - Riu Kay. - Cara, isso é impossível. É só uma loucura meio satânica idiota.
- Você achou o seu esqueleto gigante idiota ? - Eu perguntei.
- Bom, eu posso achar se você também achar sua bruxinha idiota, mas vejo que está convencido que ela é uma deusa agora. - Kay respondeu, me olhando brevemente antes de voltar a ler o livro. - Aliás, é impossível ela voltar a vida. Aqui diz algo sobre sacrifícios, um óleo e um punhal. Você viu ela matando alguém ?
- Não... - E então eu pensei em uma boa resposta. - Não, mas eles estavam num apartamento antes de vir para Silent Hill, podem ter feito o Ritual lá. E o aniversário da cidade... Um assassino matou 20 pessoas a alguns anos. Podem ter aproveitado isso de algum jeito.
- Aqui diz que se precisa de 21 sacrifícios. - Kay retrucou.
- Mercy foi queimada no carro. - Eu respondi.
- Não pira Jack. - Kay disse. - Agora vamos sair daqui. Esse lugar me deixa enjoada.
Os passos que demos foram altos, altos o suficiente para ecoarem pelo chão de madeira.
Um, dois, três passos, e o corredor de bagunça parecia crescer.
Parecia ?
Não...
Ele realmente se infinotizou de uma maneira impressionante, fazendo um breu se formar.
Então começou.
Aquela sirene infernal.
Aquele barulho alto.
Meus tímpanos estavam a ponto de estourar.
Tudo se apagou de vez.
Eu consegui ver as nuvens taparem o Sol claro lá fora pela janela.
As paredes pareceram se contorcer.
Sangue escorreu delas.
Cachoeira de líquido vermelho, que caía aos poucos em cima das montanhas de entulhos da Antique Shop.
- Corre ! - Eu gritei para Kay.
Disparamos para a direção contrária de onde o sangue jorrava, com um pânico que manipulava as pernas.
Havia uma porta pintada a mão de preto ali na frente.
Investi contra ela mais uma vez.
Ela nem tentou se manter.
Escorregando, eu fechei a porta.
- Ah meu Deus. - Kay tremia agora. - O que é isso ?
- É o mundo dela. A Assunção. - Eu disse, deprimido.
Mirei agora a luz da lanterna para o corredor a frente.
Estávamos em algum tipo de antigo túnel ou cômodo ao lado da loja.
Pouco a pouco, enquanto andávamos, rápido, pelo corredor, a luz elétrica dava lugar a um local estranho.
Haviam tochas em todos os cantos e um pano gigante estendido nas paredes.
Tapeçarias com um estranho Selo estavam em todo local.
Nas paredes, grandes vestes em vidros quadrados descansavam.
Eram vestes ritualísticas que realmente pareciam satânicas, como Kay disse. Eram grandes, com capuzes enormes e feitos de couro, pintados tanto de vermelho como de preto.
- Tenebroso. - Kay comentou, tocando o vidro. - Acha que ela fez isso também ?
- Obviamente. - Eu disse, começando a andar. - Vem, vamos ter de arranjar uma saída por aqui.
- Espera. - Kay acelerou o passo, deixando a roupa estranha para trás. - Está me dizendo que essa sua esposa virou um tipo de bruxa sobrenatural do mal ?
- Isso. - Concordei, mirando com a lanterna para uma parede próxima.
Devia ser só um rato.
- Tudo bem, eu fui atacada pelo esqueleto gigante, mas isso é loucura. - Disse Kay.
- O esqueleto pode ser invenção dela também. - Respondi.
Kay tropeçou rapidamente em algo no chão, mas continuou a caminhar.
O corredor, gigante e com as imagens repetidas de mantos, parecia não ter fim. A impressão era de que andávamos em círculos no escuro.
Eu estava alerta, quando finalmente vimos uma porta vermelha.
Estávamos na saída.
Quase que deixo a lanterna cair, mas quando virei a maçaneta, estava trancada.
Uma nota, que vi logo após levantar a cabeça, dizia algo que poderia causar uma certa fadiga:OUÇA OS UIVOS, DIGA A PALAVRA.
FAÇA SE TIVER CORAGEM, MAS DIGO AGORA:
SE TU FUI, EGO ERIS;
POIS ENTÃO ET VOS VIVETIS.-
Como é? - Perguntou Kay. - Que língua é essa?
- Sei lá. - Coloquei a lanterna na nota.
- O que está escrito aqui? - Kay apontou.
- Et... Ah... - Tentei não gaguejar. - Et vos vivetis.
Forcei os olhos.
- Deve ser isso. - E virei a maçaneta.
Nada seria mais decepcionante.
- Droga...
Kay abriu a boca, mas algo de vidro espatifou no chão.
No escuro, apontei a lanterna, mas não havia nada.
- Vem, se esconde. - Puxei Kay para trás de um cubículo de vidro.
Mas espere...
Não havia nada ali dentro.
As tochas acesas moveram-se no escuro, então uma figura assustadora brotou do breu.
Basicamente, era um dos mantos, vivo e com presas monstruosas saindo do capuz.
O que quer que tivesse por baixo da veste, era corcunda e andava quase que arrastando-se.
Uma das mãos podres segurava, obviamente, uma tocha, enquanto outra agarrava um rato.
O bicho tentava fugir da mão, mas não era porque estava apertado.
Através da luz, via-se a sombra da fumaça subindo até que o ratinho fora dividido em dois pelo toque ácido.
Os dois pedaços encharcados de sangue foram jogados dentro do capuz, como se fosse uma grande boca.
O monstro farejou o ar e virou-se, sumindo no breu.
- Temos que...
PUFF.
Kay caiu de costas no chão.
Onde devia existir uma parede, estava um novo corredor.
- Como isso surgiu? - Kay arregalou os olhos.
- Foi minha esposa. - Respondi, com certo orgulho, seguindo o novo caminho.- Espera, aonde você vai? - Kay perguntou, sussurrando.
- Temos que encontrar a chave para aquela porta. Não estou afim de Ser devorado como aquele rato. - Respondi.
Haviam armários, gavetas e estantes pelo caminho.
Encontramos remédios em alguns, documentos em outros, até mesmo uma garrafa de energético intacta.
Em certo ponto, uma das mesas ostentava um grande altar com velas, um símbolo similar aos das tapeçarias na parede, um boneco e um pote com sangue.
Não conseguia acreditar que fora minha Mercy fez aquilo. Era estranho e desconfortável.
Ela nunca manifestava nenhuma bizarrice até Haziel aparecer.
Raiva subiu até meus braços, que derrubaram o altar.
Sangue encharcou o chão.
Desejei sair dali o quanto antes, mas Kay segurou meu braço.
- Ilumina aqui. - Pediu.
Algo cintilava dentre o líquido nojento.
Uma chave.
Kay sorriu, mas eu não.
Ver essa aberração sobrenatural não me trouxe nada de bom.
Somente alguns passos foram possíveis até o breu mostrar uma parede de tijolos bloqueando a passagem.
- Vamos ter que passar pelo corredor. - Disse Kay, guardando a chave no bolso.
Não pensei quando passei por ela e andei sem cautela pelo corredor.
Tirei a arma da cintura e engatilhei.
Só havia silêncio no início, mas então a criatura grunhiu.
Atirei no canto, mas errei.
O manto andou fraco até mim, saindo das sombras com a tocha na mão e com seu rosto amedrontador escondido atrás das presas enormes.
Atirei novamente, mas o monstro simplesmente virou uma sombra e desapareceu.
Respirei furioso e arrependido.
A arma estava pronta.
De súbito, a criatura formou-se novamente no ar e me derrubou.
A boca grunhiu assustadoramente e tentou arrancar minha cabeça.
Com a arma, dei uma coronhada na criatura, que caiu para o lado.
Dei dois tiros.
Chutei, chutei e chutei.
Silêncio.
Insatisfeito, peguei a tocha e coloquei fogo na figura.
- Meu Deus. - Kay aproximou-se. - Está morto?
Grunhidos ecoaram do corredor.
- Vamos. Rápido. - Chamei.
Eu e Kay corremos.
Ouvíamos os monstros correndo, o fogo movendo-se com a velocidade e o couro arrastando-se.
Estavam perto.
Mais perto.
Enfiei a chave na fechadura e girei.
Pulamos para dentro e eu a fechei novamente, trancando a porta.
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Silent Hill : Sacrifício
HorrorQuem nunca sentiu aquele profundo sentimento de carência amorosa ? Quem nunca faria qualquer coisa por alguém ? Jack Fallacibus enfrenta a perda da esposa, Mercy, para outro homem. Nessa fase de loucura, acaba partindo atrás da amada e seu amante...