Acordei ali mesmo na igreja - onde tudo estava novamente arrumado -, deitado desconfortavelmente em um banco como se eu não tivesse acabado de matar um monstro.
Não tinha a menor ideia onde o corpo de Haziel estava, mas torcia para Mercy não ter feito um tipo de funeral para ele.
Agradeci, caso tenha sido mesmo ela, por me mostrar o anel; mas me perguntei no mesmo momento porque ela fez isso.
Tudo devia fazer parte do plano, e se fosse segui-lo para sair dali, eu faria isso.
Também tinha de encontrar Kay, mas temia que ela já não pudesse ser, efetivamente, salva.
Quando levantei, agradeci por encontrar a escopeta caída no chão, me esperando, junto com um desagradável boneco costurado com trapos velhos.
Por mais que a face do suposto brinquedo não me agradasse, eu o levei comigo.
Saí correndo da igreja, quase não percebendo um folhete em cima de um banco.
Uma mulher dançava sensualmente em uma noite estrelada, onde se lia:"Aproveite sua noite com as meninas do Horned Moon Dance, uma balada inteiramente para você que gosta de admirar lindas garotas.
Traga seus amigos e ganhe bebidas grátis.
Quartos privados no local.
Matheson Street, Silent Hill."
Não entendia o porque de ir para lá, só queria chegar ao motel que Mercy me indicara antes.
No mapa, quando olhei, ficava na área de lazer da cidade, ao lado do Lago Toluca.
Podia chegar lá descendo a Bachman Street, travessa com a Bloch Street, onde estava a igreja.
Peguei o folheto, por precaução e dessa vez saí inteiramente da Balkan Church.
Corri na rua para longe, agora cheio de energia por finalmente ter matado aquele desgraçado, mas ao chegar na esquina que dava para a Bachman, o caminho fora destruído, de modo que um grande precipício de pedras e barras de metal retorcidos me separava da metade ainda inteira da rua.
Me assustei de súbito e parei, observando estupefato o tamanho do poder que a cidade havia consumido.
Com o folheto da Horned Moon Dance na mão, não tive escolha a não ser dar volta e subir a Ellroy Street.* * *
A Matheson Street estava tão vazia e silenciosa quanto a rua de baixo e, apesar do aspecto de morte, uma sorveteria na esquina parecia feliz.
Pensei em descer a Bachman ali mesmo, mas lembrei que a estrada estava destruída.
Ainda era muito irreal para mim.
Continuei andando até a Horned Moon Dance.
Sua fachada, quando cheguei lá, era de uma danceteria normal, com um grande letreiro, luzes led que não funcionavam mais e portas levemente desconectadas das dobradiças.
Com as paredes pintadas de branco, descascando um papel de parede de algum tipo de pelugem, passei por uma bilheteria destruída e, com a escopeta em mãos, passei com cuidado por cima de uma faixa de contenção e acabei chegando em um tipo de área de dança.
Havia uma pista de dança destruída no centro, para quem quisesse dançar, e várias mesas ao redor com postes de pole-dance.
Copos estavam jogados por todo lugar e luzes no bar e no corredor dos camarins eram as únicas funcionando.
Em todas as mesas, percebi, haviam caixas para colocar dinheiro e folhetos de dançarinas.
"Vejam a maravilhosa Maria, senhora da sedução, esta noite", dizia um deles.
Uma mulher loira e sensual mirava-me do papel.
Comecei a vasculhar a danceteria, mas não havia monstros.
No bar encontrei algumas balas pra escopeta, uma faca e, não sei por qual motivo, uma perna sensual de plástico.
Não havia sentido levar aquilo, mas parecia algo que não devia estar ali, então levei.
Nos camarins, meu próximo destino, haviam somente produtos de beleza, perucas e espelhos mal iluminados.
A maioria dos quartos, no fim do corredor a esquerda, não tinha muitas coisas além de hidromassagem enferrujada e cobertores rasgados violentamente.
Uma coisa, porém, acabou por me interessar.
Quando abri um dos quartos, as camas estavam arrumadas, a hidromassagem cheia e velas vermelhas acesas em todo lugar.
Conformado com o fato de que isso era para me chamar atenção, dei uma boa olhada em volta.
Encontrei, de alguma serventia, somente um grande frasco cônico cheio com um óleo branco estranhamente conservado.
Era leitoso, então tomei cuidado ao coloca-lo - bem fechado - no meu bolso, já cheio de energéticos.
Saí dali e, nos demais locais, não voltei a achar nada importante, somente um outro vidro de energético, que bebi ali mesmo.
No final da danceteria havia um tipo de porta dos fundos, com uma imagem 3D de uma mulher fazendo strip-tease, faltando-lhe somente uma perna, mas com o rosto riscado.
Encaixei a peça que faltava, abrindo logo após a porta, não acreditando no que estava do outro lado.
Eu estava na rua, talvez do outro lado dessa parte da cidade.
A Horned Moon Dance não era tão grande assim para se estender por todo esse território.
Antes que eu pudesse fazer outra pergunta, porém, a porta fechou-se de súbito, agora trancada.* * *
Andava com cuidado com o óleo misterioso no bolso, mas novamente não encontrei nenhuma alma viva na cidade.
Silent Hill estava literalmente vazia e parecia que todos os monstros haviam decidido ficar dentro de casa.
Assim como ela, pensei, me lembrando da infância anti-social que Mercy fora obrigada a ter.
Seu pai achava que ela não saberia se comportar no mundo, então lhe ensinava tudo em casa, deixando-a ver as crianças brincarem do outro lado da janela.
Várias vezes ela já dissera que gostaria de viajar muito ainda, ir para todos os locais do mundo.
Sua visão distorcida de mundo perfeito não lhe preveniu de ver a morte, uma vez no hospital em uma inspeção de saúde rotineira e outra quando o pai morreu.
Eu tentei ajuda-la, mas nunca tive um bom resultado.
Agora, descendo a Bachman Rd, eu imaginava o que ela planejava fazer.
Ela não tinha tido uma vida tão simples, apesar de ser muito inocente, o que a levava a fazer escolhas terrivelmente erradas.
Apesar disso, continuei a andar, com confiança, para onde desejava.
Sentia um certo medo, pois sabia que ela estava lá, me esperando, como disse.
Torcia muito para que Kay estivesse lá, presa, mas com vida.
Embora não tivesse encontrado-a, ainda tinha fé de vê-la bem, lutando contra outros monstros, como seu esqueleto gigante.
Ainda me perguntava porque nenhum destes grandes seres horríveis não me atacavam.
O Feiticeiro de Mercy já me jogara em algumas paredes, mas nunca quisera me matar, só me jogando de um lugar para o outro dessa cidade infernal.
O esqueleto já me ameaçara, mas seu foco era Kay, o que me dava mais medo.
Ela havia me ajudado muito, apesar de querer a pistola que ela levara de volta.
Finalmente, após uns passos, cheguei até a área de lazer da cidade, uma vista borrada somente pela neblina.
O Lago Toluca se estendia muito além da vista e havia um cheiro agradável no ar, úmido e fresco, com o farol distante escondido no véu branco.
Apesar do maravilhoso lugar estragado pelo terror me parecer agradável, não tardei muito a olhar onde ficava o motel.
Desci a rua em que estava e virei a direita na Sandford Street, subindo a próxima, Weaver Street, dando de cara com o Motel Haerbey inn.
Um arco de quartos se estendia na entrada do estacionamento, com uma porta ao lado que dava em uma saleta do guarda - obviamente vazia - e um banco em sua frente, exibindo outro local tristemente abandonado.
Entrei, com certo temor, na sala do guarda, encontrando uma televisão queimada, um bloco de anotações mofado e um cinzeiro cheio de cigarros.
Num suporte de chaves, na parede, havia somente uma chave, a do quarto 3.
Observei um mapa, logo ao lado e encontrei o quarto.
Com certeza que minha esposa aguardava e, com a arma em mãos para o que fosse necessário, saí e subi as escadas para o que quer que fosse acontecer.
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Silent Hill : Sacrifício
УжасыQuem nunca sentiu aquele profundo sentimento de carência amorosa ? Quem nunca faria qualquer coisa por alguém ? Jack Fallacibus enfrenta a perda da esposa, Mercy, para outro homem. Nessa fase de loucura, acaba partindo atrás da amada e seu amante...