Cartas na mesa

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Depois de uma noite de aventuras como aquela, ambos estávamos exaustos, isso é óbvio, porém, enquanto Emory estava dormindo, profundamente e tranquilamente, eu estava preso em minha própria mente, preso em memórias, que se transformaram em sonhos, que por si só, viraram pesadelos. Os sonhos me levaram até onde eu não queria voltar, lembranças de dias sombrios, carregados e assombrados de culpa, dor, medo, e ódio, foi então que depois de ser torturado por isso, pelo que pareceram, horas e horas, eu abri meus olhos em desespero, com as garras e presas saltadas para fora, com a respiração ofegante, com o corpo suado, e quase emitindo um rosnado, Emory se mexeu um pouco na cama, enquanto murmurava, pois quase havia acordado com aquilo, eu então voltei a realidade, com seu resmungo, olhei para ela, e para minhas mãos, recolhi as garras e as presas, e lentamente me levantei, para não acorda-la, peguei uma calça de tecido leve preta, e um roupão de cetim, também preto, e fui até o banheiro, encarei meu reflexo com raiva.

- Patético, acordar desesperado e suado por isso...

Fiquei ali, encarando a mim mesmo por um tempo, até decidir entrar em baixo do chuveiro, tomando um banho quente, tempo depois, me sequei, vesti a roupa que havia pegado, e sai para a varanda, me escorando na grade que havia, e pegando um cigarro, enquanto fumava e assistia os primeiros raios de sol começarem a rasgar o céu noturno.

- Desgraçado maldito, não sei quem odeio mais, você, ou eu mesmo, por não conseguir ser forte o suficiente ainda. Mas eu juro, Tristan eu juro, ainda vou rasgar a sua garganta, e ver seu sangue esguichando dela, enquanto implora por sua vida inútil.

O ódio por meu passado me consumia cada vez mais, era como uma floresta em chamas, cada minuto que passava, o fogo se espalhava, mais e mais, um ciclo de ódio e raiva, tomado por vingança, que nunca acabava, fiquei na varanda, tomando um ar, até me acalmar, entrei para dentro, fui até a cozinha, e comecei a esquentar água para fazer um café, e enquanto eu esperava a água ferver, pensava na noite anterior, aquilo realmente aconteceu? Apesar de não estar cheirando a álcool, será que ela estava bêbada? E como assim ela era virgem? Mil e um pensamentos passavam em minha cabeça, me perdi tanto em minhas próprias dúvidas, que a água ferveu, e pulou para fora do canecão, e respingou em minha barriga.

- Porra,  merda! - Disse com raiva enquanto desligava o fogo rápido. - Cacete!

Peguei o canecão, e terminei de fazer o café, com uma receita especial que eu conhecia, o cheiro se espalhou pelo apartamento inteiro, e logo peguei um copo térmico para beber e desfrutar daquela maravilha, então enchi o copo de café, peguei ele, e caminhei até minha varanda novamente, enquanto sentia a brisa fria e gélida da manhã, junto com o calor que estava começando a ser emitido pelo sol, fiquei lá admirando a vista, enquanto a cidade ganhava vida, e começava a ecoar sua sinfonia por toda parte, Emory acordou com o cheiro de café, ela se levantou lentamente, pois ainda estava com sono, vestiu sua calcinha, e colocou minha camisa, que era tão grande, que chegou no meio de suas coxas, ela então andou até a porta, e em seguida foi andando silenciosamente até mim enquanto esfregava os olhos, quando ela chegou, me abraçou pelas costas, um abraço bem apertado.

- Bom dia lobinho. - Disse ela com a voz baixa, e falha de sono.

- Bom dia ruiva.

Eu me virei para ela, segurei seu queixo, e a dei um beijo de bom dia, ela retribuiu o beijo, pegando meu café e bebendo em seguida, eu a encarei rindo e arrumando seu cabelo atrás da orelha, ela sorriu.

- Por que está rindo?

- É perigoso roubar o café de um fumante sabia gata?

- É ainda mais perigoso quando esse fumante é um lobisomem? - Perguntou ela rindo.

Crônicas de Lua & SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora