Circo Místico-Jadré

Capítulo 23 part.2

Jade

Eu fugi da casa dos Camilos por medo. Desde pequena eu sei bem que a vida é bastante injusta com quem não tem onde cair morta como eu. Eu sentia que não podia mentir para sempre e que mais cedo ou mais tarde eles descobririam que a Catarina era filha do Paulo André. Eu tive medo deles tirarem a minha filha de mim, eu posso não ter nada mas eu sou uma boa mãe, isso eu sei que sou. Nas minhas vagas memórias de quando eu era pequena sempre lembro que, em meio aos ensaios do circo, eu estava segurando uma boneca na maior parte do tempo. Ser mãe sempre foi um grande sonho e ainda que eu seja nova, cuidar da Catarina é um prazer que eu faço com um sorriso largo no rosto. Quando eu pensei na possibilidade do Paulo André e sua família tirarem ela de mim só me veio na cabeça fugir, eu não ficaria sem a minha filha. Mas o que eu não esperava era que fossem me achar, burra do jeito que sou, não passou pela minha cabeça que gente rica tem tudo nas mãos, é óbvio que se o Paulo André colocasse a polícia atrás de mim, logo eu seria localizada. Aqui estou eu, com lágrimas nos olhos e contando a minha história de vida para ele que tá longe de ser um conto de fadas...

PA: Calma aí, deixa eu ver se entendi direito... Você nasceu e cresceu no tal circo místico não foi?

Eu assenti molhando mais uma vez minha garganta com água

PA: Quando você nasceu, seu pai havia perdido o circo nos jogos de azar que ele é viciado não é?

Eu assenti novamente

PA: Você nunca foi a escola e sua irmã também não

Jade: Nunca...

PA: Depois a gente vai conversar sobre isso tá bom? Eu tenho uma proposta pra você...Mas  lógico, se você topar... Aí eu prometo te ajudar no que for necessário...

Jade: Como assim?

Eu perguntei confusa e um sorriso tímido se abriu no meu rosto

PA: Depois a gente conversa sobre isso, é que e eu tô tentando montar uma linha de raciocínio com as coisas que você me falou para eu não perder nenhum detalhe, então, voltando a história da sua vida... Você cresceu no circo e lá viram que você tinha talento para o balé e te exploraram esse anos todos não foi?

Essa parte senti o PA ficar um pouco com receio de falar e eu o encorajei

Jade: Foi desse jeito mesmo, não fica com vergonha de falar não, sem tirar e nem pôr. Eu e minha irmã fomos exploradas todos esses anos no circo. A gente trabalha todos os dias e todas as noites e sabe quanto eu ganhava?

Ele negou com a cabeça desconhecendo o valor e eu prossegui no meu relato

Jade: Eu ganhava cem reais por mês e trabalhava sem descanso, nem férias, nem nada... Até quando eu tava grávida eu continuei trabalhando, arrastei uma barriga pesada de nove meses e continuei trabalhando, não tava mais conseguindo dançar mas não parei, fazia vários bicos sabe? Vendia bala na porta do circo, ajudava a fazer pipoca, quando acabava o espetáculo eu ajudava a limpar o chão...

PA: Você fazia tudo isso grávida? Caramba, Jade. De pensar que eu podia ter evitado tudo isso e ter te proporcionado uma gravidez tranquila...

Jade: Não pensa nisso, já passou. Tanto eu como a Catarina sobrevivermos e estamos bem. Eu jamais queria que você fosse envolvido naquele mundaréu de dívidas do circo, se soubessem que você é o pai da minha filha e principalmente que você é rico eles seriam capazes de tudo...