Capítulo 4

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Paulo André

Todos estavam ansiosos para o começo do espetáculo e eu só pensava se a veria novamente. Eu não sabia o seu nome, não sabia nada profundo sobre ela, lembro que na noite que nos conhecemos, naquele circo, ela havia sido o destaque do balé com seus movimentos suaves e olhar hipnotizante. Havia fila para tirar foto com ela e lá estava eu, só queria falar com ela, sentir ela, talvez, de perto. Não tínhamos assunto profundo, ela me parecia uma menina séria e ao mesmo tempo tímida, tiramos fotos e eu elogiei seu desempenho no palco. O mínimo que eu esperava era ela ter me dito seu nome mas nem isso a bailarina tímida me deu a honra. Meus pais iam ao Gero Panini jantar após o circo e eu aproveitei e a chamei para tomar um sorvete, ela recusou, olhou para uma menina muito bonita também, como se pedisse autorização, a moça balançou a cabeça positivamente e ela enfim aceitou o meu convite. Ela era tão bonita que fazia qualquer coisa ao nosso redor virar desinteressante. Eu a elogiei várias vezes e ela só agradecia. A tensão sexual pairava no ar, eu olhava fixamente nos seus olhos, sua boca rosada na cor de uma cereja me fazia ir à loucura. Ela queria tanto quanto eu, só era tímida demais para admitir. No carro mesmo, acabamos transando. Errado transar sem nem saber o nome da pessoa? Eu não sei, só sei que foi a pessoa mais interessante que já conheci, ela carrega o mistério no olhar e eu curtia isso. Ela saiu correndo depois disso me deixando extremamente confuso, tentei me explicar, tentei pedir desculpas mas no fundo eu sabia que ela gostou tanto quanto eu. Saiu correndo como quem perdia a hora do ônibus e eu não hesitei, não fui atrás dela. A única coisa que me lembro depois disso foi ter limpado o banco e uma gota de sangue ter me chamado a atenção. Será que ela era virgem?




Mary: Paulo André Camilo, já vai começar!

Carlos: Presta atenção, cara! Parece que você tá em outro planeta, tô dizendo que ele tá apaixonado, Mary...


Mary: Pensando na Charlotte? Mas ela nem tá aqui, eu falei pra chamá-la...



Suspirei fundo e não respondi o que realmente queria. Essa fixação para me casar com Charlotte ou essa forcação de barra de dizer que eu tô apaixonado me deixa puto...



PA: Prefiro perder a cabeça na bandeja do que tá pensando naquela preconceituosa...Vamos prestar atenção né?





O espetáculo começou lindo. Crianças dançavam com cachorrinhos, de repente uma mulher foi puxada pelo cabelo numa altura absurda, logo depois veio o malabarista equilibrando um sofá com uma mão. As coisas que acontecem nesse circo são sinistras, só consigo pensar qual o truque por trás disso...Motoqueiros fantasmas, mulheres em meio às facas e eu só pensava: "quando começa o balé?" Uma menininha ao meu lado batia palmas empolgada e eu cutuquei


PA: Princesinha, quando começa o ballet?

Menina desconhecida: O ballet é o próximo tio...



Meu coração gelou, era tudo que eu queria ouvir. Em alguns minutos começava o balé de repertório "Arabella" que basicamente contava a história de uma ave que vivia presa em uma gaiola, quando as cortinas se abrem lá estava a gaiola e dentro a bailarina que protagonizaria o espetáculo.


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Era ela. Eu tenho certeza que era ela. Meu coração parecia que ia saltar de felicidade. Apesar de muita maquiagem e até algumas penas coladas no rosto eu consegui a reconhecer. E como não reconhecer? A bailarina misteriosa que, vez ou outra, aparece nos meus sonhos tem um olhar infinito. Ela carrega a lua no seu olhar, ela tem algo que a faz se destacar entre todas. Como pode ser portadora de tanta beleza? Como pode me fez delirar por ela sem nem saber o seu nome? Será que ela lembrava daquela noite como eu? Será que realmente era virgem? E porque não me falou? Porque não me falou nada? Porque nem seu nome eu sei? Essas perguntas parecem que vão me engolir a qualquer momento mas eu confesso que me amarro. Sou acostumado com mulheres aos meus pés, sou acostumado com mulheres que não só me falam seus nomes mas me mostram a cor de suas calcinhas. A bailarina misteriosa não. Sem brincadeira, as únicas vezes que a vi abrindo a boca foi para me agradecer os elogios na apresentação e o sorvete. Acho que é isso, esse mistério em forma de mulher mexe comigo. Observando bem, vejo como ela é pequena, como ela é delicada, seus movimentos são precisos arrancando suspiros e muitas palmas da plateia, ela é simplesmente perfeita, em cima do palco parece que ela voa.




Carlos: Gente, mas essa menina é muito boa...

Mary: Merece todos os aplausos do mundo, imagina o quanto ela não deve ensaiar para ser perfeita desse jeito, meu amor?



Meus pais estavam encantados por ela, talvez agora saibam como me sinto quando penso na tal bailarina misteriosa. Ela se juntou às outras bailarinas e fez a saudação ao público. Os espectadores foram a loucura, na empolgação acabei me levantando e batendo palmas, ela é fascinante e meus olhos não piscavam um segundo, eu não queria perdê-la do meu campo de visão. Fiquei ali, pensando todas essas coisas já ditas acima e quebrando a cabeça, mais uma vez, como ela nunca falou o seu nome. Fui interrompido do meu pensamento ao escutar os gritos do meu pai e perceber a tal bailarina misteriosa correndo na velocidade da luz para fora do palco.


Carlos: PAULO ANDRÉ, VAMOS SAIR DAQUI

Mary: Fogo, meu filho. Tá pegando fogo



Olhei a lona que cobria o teto do circo e o fogo já se alastrava. O desespero no olhar dos meus pais era triste, minha mãe começava a pedir a Deus para guardar nossas vidas e cenas tristes aconteciam, pessoas se desesperavam com crianças no colo, crianças estavam perdidas de seus pais e gritavam muito, a entrada do circo virou um verdadeiro caos, pessoas gritavam e o fogo não cessava. O fogo não tinha pena de ninguém, que vida cruel é essa que pessoas saem de suas casas para afagarem em alegrias e agora choram de tristezas?


Carlos: Paulo André, correeeeeeeeee, Mary, vamossssss


Minha mãe chorava desesperada e o pior acontecia: a saída do circo estava congestionada de pessoas e era humanamente impossível sair dali. Estamos ferrados. Pessoas estão sendo pisoteadas, gritos de crianças ecoam por toda parte e já vejo gente se ajoelhando esperando a morte. Um caos total. Vejo a bailarina misteriosa e por segundos meus olhos se alinham aos dela, vejo ela dar passos largos em um corredor longo, eu não sei onde isso daria, apenas peguei nas mãos dos meus pais e saí correndo pelo mesmo corredor. Em algum lugar isso daria e realmente deu. Ela seguiu para uma espécie de motorhome e lá estava eu e meus pais seguindo

Mary: PA, onde estamos indo, pelo amor de Deus?

Carlos: Calma, Mary! Essa ideia foi abençoada, pelo menos estamos longos do fogaréu


A bailarina misteriosa entrou nesse motorhome minúsculo e nós esperamos na porta, ela não nos viu, pegou do berço uma criança e ao virar deu de cara com a gente. A criança chorava muito e meu coração partiu.

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