Andrew DiSanto
Olhei para o apartamento praticamente vazio e respirei fundo.
Me perguntei pela milésima vez o que diabos eu estava fazendo. Em todos os meus 27 anos, eu tinha feito muitas merdas e as cicatrizes e tatuagens pelo meu corpo eram a prova disso.
Eu tinha sido um adolescente rebelde. E como todo adolescente rebelde, eu entrei em conflito com meus pais por milhares de motivos e nem todos eram bons. Eu briguei com eles por coisas que eu nem me importava, apenas pelo prazer de brigar.
Claro, eu também estava ciente que tinha sido um adolescente idiota.
Mas eu tinha crescido e eu disse a mim mesmo que já não era mais aquele jovem estúpido que fazia besteira.
Eu estava errado pra caralho.
Dois meses atrás eu tinha cometido um grande erro.
Na época, eu não estava ciente de que era um erro, mas então a bomba simplesmente explodiu e eu arrumei minhas malas o mais rápido que pude e fui para o outro lado do país. Não deveria ter sido assim, eu deveria ter me sentado e esfriado a cabeça antes de decidir me mudar.
Agora eu estava aqui.
Em Atlanta.
Num apartamento que eu paguei mais caro do que valia, com os poucos móveis que eu tinha comprado nas últimas quatro horas.
Uma cama. Uma geladeira. Uma cafeteira. Um sofá e uma televisão.
Eu podia ter fugido, mas eu ainda era um homem que gostava de assistir futebol. O futebol de verdade, não o americano. E uma televisão e um sofá eram fundamentais para isso.
Me sentei no sofá e deixei minha cabeça cair nas minhas mãos. Minha mãe já tinha dado falta de mim e me ligado, depois que eu contei que me mudei, ela passou um bom tempo gritando comigo e me mandando voltar. Eu não ia voltar até essa confusão ter acabado.
Minha foto estava na porra do jornal. Não dava para ver meu rosto, mas qualquer um que me conhecesse poderia ver que era eu. A bússola tatuada no meu braço era uma prova o suficiente por si só.
Me levantei e fui até a geladeira, peguei uma cerveja e voltei para o sofá.
Eu quase poderia me sentir confortável aqui.
Se eu parasse para pensar na minha vida, havia um milhão de coisas pelas quais eu me arrependia. E mais um milhão de coisas que eu gostaria de mudar ou fazer de forma diferente.
Essa era mais uma delas.
Eu tinha uma vida boa em Seattle. Eu trabalhava numa clínica veterinária desde que tinha me formado, eu tinha um apartamento legal num bairro bom e eu vivia a minha vida do jeito que eu queria e estava bem com a minha família.
Não havia nada de errado nisso.
E agora eu estava num apartamento praticamente vazio, num bairro estranho, desempregado e não tão bem com a minha família.
Sorri amargamente enquanto bebia a minha cerveja.
— Essa situação de merda me lembra da minha adolescência. – falei alto, comigo mesmo e deitei a cabeça no encosto do sofá. — Eu deveria pedir para a Carina esvaziar meu apartamento. – lembrei. Minha irmã teria seus dois centavos para adicionar sobre minha mudança quando eu ligasse, mas não havia muito o que pudesse fazer sobre isso.
Era como se eu estivesse preso em um pesadelo.
Eu tinha fugido de Seattle porque fiquei com medo que me reconhecessem na foto e que minha vida fosse exposta como um show de merda.
Eu achei que tinha passado a fase das decisões ruins, mas aparentemente eu estava enganado.
•••
Já fazia uma semana.
Eu estava em Atlanta fazia uma semana e finalmente estava me acostumando com a cidade. Embora fosse uma cidade grande, o fluxo dela não era como Seattle. Atlanta era muito mais tranquila que minha cidade natal. O clima também era bem melhor e não chovia o tempo todo.
Esses eram pontos positivos.
Eu tinha passado a semana inteira evitando as ligações da minha família, porque sempre que eu atendia eles começavam um sermão sobre eu voltar para Seattle.
Era exaustivo.
Mas agora que essa cidade estava começando a me agradar, eu poderia dizer que estava gostando de viver aqui.
Eles provavelmente não vão acreditar, mas vai ser o suficiente para me deixarem em paz.
E eu tinha um cronograma também.
Se em dois meses eu não conseguisse um emprego, eu voltaria para Seattle. Esse era o tempo que minhas economias iriam durar.
E esse era o problema que eu estava empenhado em resolver no momento: a minha falta de emprego.
Meu ex-chefe me mandou uma carta de recomendação e disse que iria conversar com alguns amigos para ver se eu conseguiria um emprego em alguma clínica aqui.
Até lá, eu estava procurando por um emprego sozinho.
Eu tinha procurado algumas vagas online e me inscrito para elas, mas eu também tinha decidido fazer do jeito antigo: procurando anúncios nos jornais.
Assim que desdobrei o jornal que comprei de manhã, uma matéria me chamou a atenção.
Uma mulher estava apertando a mão de um homem mais velho e sorrindo pra câmera. Ela era alta, usava um longo vestido verde e seu cabelo estava preso. Ela era muito bonita.
"Jantar beneficente: ajude um animal abandonado a ter um lar melhor
por Jamie Quinn
Irma Keller, a famosa ex-jogadora de vôlei da Kennesaw State University, que comanda o abrigo Second Chances no centro da cidade fez um jantar beneficente pra angariar fundos. Seus pais, o congressista Robert Keller e sua esposa Gracie Keller, compareceram e falaram sobre como estão orgulhoso de sua filha.
Irma tinha uma proposta para jogar em um time de vôlei do Brasil junto com outras duas jogadoras de sua antiga equipe, mas um acidente em seu último jogo pela universidade destruiu sua carreira antes mesmo que ela começasse. Os detalhes de sua lesão nunca foram divulgados, mas a pequena Keller nunca voltou às quadras. Ela dedicou seus últimos anos ao abrigo, cuidando de animais abandonados.
A noite de ontem, contou com a presença de nomes ilustres do senado, como o Senador Hugh Maison e o Governador Joseph Blaine. A antiga companheira de time de Irma, Shelley Donovan também compareceu. Shelley joga pela seleção americana como levantadora titular e atua no time brasileiro Osasco, em São Paulo.
O jantar arrecadou uma grande quantia e Irma disse que começaria a expandir o abrigo e iria contratar um novo veterinário para a equipe assim que possível, já que o último se aposentou recentemente."
Uma jogadora de vôlei lesionada que agora comandava um abrigo? Parecia algo saído de um filme de drama. Olhei para a foto novamente, dessa vez com mais atenção.
Era difícil imaginar a mulher elegante na foto jogando vôlei. A imagem não parecia combinar com ela.
Bati meu dedo no trecho que dizia que ela precisava de um veterinário.
Eu precisava de um emprego e ela de um veterinário. Eu tinha uma boa carta de recomendação, experiência e não era exigente com salário.
E também não iria doer passar o dia olhando para alguém tão bonita quanto ela.
Me levantei, decidido.
Por alguma razão, essa parecia ser uma oportunidade que mudaria minha vida.
Esse anúncio era como se fosse uma mensagem do destino para mim.
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Tudo de nós (The Heartbreakers #3)
RomanceIrma Keller era a ponteira do time de vôlei da Kennesaw State. A garota que ia jogar em um time profissional. Aquela que brilhava dentro de quadra. Mas em seu último jogo pela universidade, Irma sofreu uma lesão que destruiu seu joelho e seus sonhos...