Capítulo 13

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Andrew

— Cadê a Irma? – Violet me perguntou, assim que passei pela porta. Ela ainda estava no mesmo lugar, na recepção. Eu passei a mão pelo cabelo, impaciente. — Andrew?

— Ela encontrou um amigo. Eu vou fechar o abrigo hoje. – falei. Violet ergueu as sobrancelhas, confusa. Eu me sentia do mesmo jeito. 

Tudo começou de manhã, quando Irma apareceu parecendo um zumbi e me abraçou. Era óbvio que ela precisava daquele abraço e eu não me importei de ser a pessoa que a abraçou naquele momento, mas então ela fugiu quando eu perguntei o que tinha acontecido. Ela tinha passado a manhã toda trancada dentro do escritório, sem sair pra nada e eu estava preocupado. Por isso, eu falei com a Violet para ir avisar que ela precisava almoçar e quando ela desceu, eu simplesmente agi por impulso e fui almoçar com ela.

Eu queria vê-la sorrindo outra vez. Ela parecia desesperadamente sozinha e vulnerável.

Eu não conseguia evitar. Eu queria conforta-la.

E, como se fosse natural, o apelido apenas saiu. Parecia certo. Cariño parecia adequado para ela e eu me vi repetindo isso naturalmente, mesmo que eu soubesse que não deveria.

Irma me desconcertava de uma forma que eu não estava acostumado, assim como ela atiçava minha curiosidade e todos os instintos protetores que eu sequer sabia que tinha. E foi isso que aconteceu quando ela paralisou depois de ver o ex-namorado na frente do abrigo.

Ela o tinha chamado de Denver e era muito claro que ela não queria vê-lo. Mas ela ainda foi com ele.

Por que ela foi com ele? Por que ele tinha aparecido? E por que eles terminaram?

Suspirei. Eram muitos porquês para saber. E eu não deveria estar curioso sobre isso.

— Vou olhar o Manny. – avisei a Violet, pegando meu jaleco e indo para onde os cachorros ficavam. O grande cachorro marrom me olhou com seus olhos pidões e eu sorri. Ele era um bom cachorro, só era muito assustado. O que também era compreensível, dado o seu passado. — Oi, garotão. – chamei, abrindo a portinha para ele sair. Manny não hesitou em vir para mim.

Violet tinha me contado que as vezes ele tinha episódios de agressividade e que Irma estava preocupada com isso. Eu sabia o que isso significava. Se ele não melhorasse, seu destino não seria muito feliz. Acho que a parte que eu menos gostava de ser um veterinário, era ter que fazer a eutanásia em alguns animais. Eu sempre tentava tudo, antes de ter que recorrer a isso.

Desde criança, eu sempre tentava salvar todos os animais que eu encontrava na rua. Isso deixava meus pais malucos. E quando eu cresci, comecei a tentar salvar as pessoas ao meu redor. Não deu muito certo, já que eu tinha tido que fugir da minha cidade por causa de uma ex-namorada minha, uma que eu tinha tentado salvar. Levei alguns anos depois de me tornar adulto para perceber que eu não era nenhum herói para salvar as pessoas. E que tudo o que eu podia fazer, era oferecer meu apoio.

Mas por alguma razão, a minha chefe aflorava em mim esses sentimentos que eu tinha enterrado a muito tempo. Porquê era obvio que Irma estava perdida e eu queria ser aquele a mostrar o caminho para ela.

— Eu devo ser algum tipo de idiota. – murmurei, guiando Manny para a área externa do abrigo. Ele latiu e eu sorri. Acho que ele concordava comigo.

A ideia de ceder aos meus desejos e investir em Irma era tentadora, mas a montanha de problemas que estavam nas minhas costas me faziam dar um milhão de passos para trás. Atlanta não seria a minha casa por muito tempo.

•••

Preenchi a ficha do gato que tinha sido entregue no abrigo durante a tarde. Deixei o nome em branco, porque eu sabia que Irma ia querer dar o nome e eu sabia que aqueles nomes bobos que ela tanto adorava eram uma das coisas que a faziam sorrir verdadeiramente. Com isso feito, eu olhei para o relógio em meu pulso pela oitava vez.

Violet tinha ido embora às cinco. Isso já fazia uma hora e Irma ainda não tinha aparecido e já fazia horas desde que ela saiu com o tal do Denver.

Eles ainda estavam conversando?

O que eles tinham tanto pra conversar? Se uma das minhas exs aparecessem, eu não levaria mais de uma hora numa conversa. Impaciente, coloquei a caneta em cima do papel. Não adiantava eu falar que não me envolveria com a Irma quando eu ficava desse jeito só por ela estar com o ex.

A porta do abrigo se abriu e eu levantei a cabeça.

Irma.

E ela não parecia bem. Eu me levantei, enquanto ela continuava parada na porta do abrigo. Não havia surpresa em seu rosto, ao me ver. Eu tinha dito que a esperaria. Quando eu estava a três passos dela, Irma veio para mim e me abraçou. Ela soltou uma respiração pesada, como se estivesse aliviada e eu ignorei tudo o que tinha passado as últimas horas pensando e só a abracei.

Porque ela precisava desse abraço. E eu acho que eu também.

— Você esta bem? – consegui perguntar, contra seu cabelo. Irma assentiu, com o rosto ainda escondido no meu peito. — Você quer conversar sobre isso?

— Ele queria voltar comigo. – ela disse e eu não sabia o que falar. Eu queria saber se ela tinha dito a ele que não. Eu queria que ela tivesse dito não.

Puta merda, eu estava tão fodido com essa mulher.

— E?

— E eu disse que não. Aquele idiota do caralho, me traiu e agora apareceu, depois que eu passei o inferno querendo voltar. Nem fodendo. — ela disse, eu podia ouvir a irritação em sua voz e eu sorri. — Por que homens são tão idiotas?

— Eu não sou um idiota. Sou? – perguntei e ela ergueu seu rosto.

— Talvez você seja a exceção. – ela disse e eu sorri. — Ah, droga. Eu pareço a Rainbow.

— Rainbow?

— Uma amiga. Ex-amiga. Não sei. – ela falou se afastando e passou a mão pelo cabelo. Ela parecia ansiosa. — Essa merda com Denver me fez esquecer das outras merdas. Céus. – ela disse, andando de um lado para o outro. — Droga. Droga. Droga. Droga.

— Ei, Irma. – falei, tocando seu braço. Ela parou e me olhou. Seus olhos estavam cheios de desespero. — Fica calma. O que aconteceu?

— Eu queria poder fugir.

— De que?

— De mim mesma. Eu sou um maldito barco afundando, Andrew. Que porra eu faço? Eu já estou dando o meu máximo e isso não é o suficiente. Não é suficiente nem pra mim e nem pra quem eu amo. O quê eu preciso fazer pra acertar? Pra melhorar? – ela falou, sua respiração estava mais pesada. Eu a puxei para mais um abraço. O que diabos eu deveria falar nessa situação? Como eu poderia melhorar isso? — Eu só queria melhorar, mas continuo cometendo os mesmos erros. De novo e de novo. É a porra de um ciclo vicioso que eu não sei como sair.

— Eu acho que você sabe. – falei e ela me olhou. Haviam lágrimas não derramadas em seus olhos. Desespero em cada centímetro dela. — Você me perguntou isso, hoje de manhã. O primeiro passo, você sabe qual é. Mas esse nem é o mais importante. 

— Eu preciso ir embora. – ela disse, se afastando.

— Irma. – eu chamei, mas ela não respondeu. Eu a vi sair pela porta, sem fazer nada. Fechei minhas mãos em punhos. Eu não podia ir atras dela.

Eu não podia salva-la. Essa luta era uma que eu não podia encarar, porquê apenas Irma conhecia o inimigo.

Tudo de nós (The Heartbreakers #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora