Irma
Abri a porta do abrigo, olhando para meu celular. A mensagem dele brilhava na minha tela e eu queria simplesmente gritar de frustração.
Denver: já passou tempo o suficiente, Irma. Nós precisamos conversar.
Eu tinha tomado muitas decisões duvidosas quando estava na faculdade, não me arrependia de quase nenhuma. Mas ter namorado Denver Hayes realmente tinha deixado um gosto amargo na minha boca.
Havia várias razões para isso.
Claro, eu sabia que eu tinha sido a malvada da história. Fui eu quem terminou com ele e eu tinha sido bem cruel ao fazer isso. Mas meu mundo tinha acabado de desabar e eu estava em pedaços e por mais que eu o amasse naquela época, eu não o queria perto de mim. Eu não queria ninguém perto de mim.
Eu sabia que ele me amava, mas eu tinha me tornado incapaz de corresponder a esse amor.
O que não significava que não machucou quando ele foi e transou com outra garota uma semana depois da gente terminar.
Eu tinha ficado com raiva na época, mas acima disso eu tinha me sentido machucada. Porque eu sentia que merecia isso também.
Agora, ele queria voltar para minha vida. Não havia essa possibilidade. Eu tinha o amado antes, quando eu ainda sentia algo além de raiva e tristeza. Eu não era a Irma que ele costumava amar.
Um latido na parte de trás do abrigo, onde os animais ficavam me tirou do meu devaneio. Pisquei confusa com a porta aberta. Violet só chegaria depois do almoço hoje.
Quando entrei na sala, encontrei um homem sentado no chão, com sete filhotes de cachorro correndo ao redor dele, puxando sua camisa e tudo o que estava ao alcance da boca deles.
Filhotes eram terríveis.
Mas eu não conhecia o homem. Nunca o tinha visto. Eu me lembraria de um homem assim.
Tossi e ele me olhou assustado. Então, voltou seu olhar para os filhotes, que me encararam por dois segundos e começaram a correr pra mim.
Eu cuidava dos sete todos os dias desde que eles chegaram aqui a um mês. Eles me conheciam e estavam felizes por me ver.
— Zangado, Soneca, Mestre, Dunga, Dengoso, Atchim e Feliz. – falei e o filhotes pularam alegremente ao meu redor. Eu ri pra eles. — Como vocês estão?
Aqui era o único lugar no mundo onde eu podia ver sentido na minha vida.
— Você os nomeou como os sete anões? – o homem perguntou. Ele estava de pé parado na minha frente e eu me impressionei com sua altura. Eu era uma jogadora de vôlei, tinha pouco mais de 1,70m mas essa cara conseguia superar minha altura. Seus olhos castanhos me encaravam risonhos. Ele parecia um cara simpático.
— Eu estava sem ideias. E eles são sete. – respondi dando de ombros e ele riu.
— Isso te torna a Branca de Neve?
— Se eu for, você vai me beijar se eu morder uma maçã envenenada e morrer temporariamente? – perguntei seca e ele sorriu.
— Não sou príncipe encantado. – ele disse e eu tirei um momento para encara-lo. Não foi meu momento mais educado, mas eu era uma Heartbreaker, então foi justificado. Ele era alto, sua pele tinha um tom oliva, seu cabelo era castanho escuro assim como seus olhos e ele tinha uma barba escura que era bem charmosa.
Ah, e ele parecia ter uma bunda ótima.
— É, eu acho que não é. – falei e ele inclinou sua cabeça, como se estivesse tentando me entender. Eu deveria avisá-lo que isso era uma tentativa em vão, nem eu me entendia mais. — Suponho que você seja Andrew, o novo veterinário?
— Sim, Andrew DiSanto. – ele estendeu sua mão e eu a peguei, apertando. — E você é Irma Keller, a chefe desse lugar. – ele disse e eu assenti. Isso me poupava de explicações.
— Violet te explicou como as coisas funcionam? – perguntei, soltando sua mão e me abaixando e pegando o Zangado. — Os filhotes foram vacinados?
— Sim e sim. – ele respondeu, se abaixando ao meu lado. Dunga correu para ele, que o pegou. Eu o olhei. Ele era um homem bonito. — Eu ainda tenho o emprego?
— Por enquanto, sim. – respondi, colocando Zangado de volta no chão e pegando o Soneca. Quando eu tivesse algum tempo, eu daria uma olhada no seu currículo e decidiria o que fazer com ele.
— Você vai conferir um por um? – ele perguntou, parecendo curioso. Havia interesse em seus olhos, eu só não sabia se era por mim ou pelo que eu estava fazendo.
Já fazia algum tempo que eu não me importava com as outras pessoas ou se elas ligavam para mim. Hoje era um dia bom. Talvez a depressão que sugava a minha vida fosse me dar uma folga. Talvez eu pudesse voltar a ser quem eu era, mesmo que fosse só um pouco.
— Sim.
— Quer ajuda?
— Não. Você pode limpar as gaiolas enquanto eu olho eles. – falei, apontando para a sala onde ficavam os gatos. A maioria deles eram pestinhas temperamentais. Normalmente era eu ou Violet que fazia isso, mas já que ele estava em fase de testes, ele poderia lidar com essa dor de cabeça.
— Certo. – ele concordou, se levantando. Eu o observei ir, prestando atenção na bunda dele. Eu estava certa, era uma bunda muito boa. — Irma. – ele chamou e eu tirei meus olhos da sua parte traseira. — Você estava olhando a minha bunda? – ele perguntou e eu pisquei atordoada.
— Uh, não. – respondi e ele ergueu uma sobrancelha. Ah, ele realmente era bonito. — Eu estava distraída pensando em algo. Desculpe se pareceu que estava encarando sua bunda. – eu menti descaradamente. Eu tinha crescido com um irmão mais velho e tinha sido uma Heartbreaker, além de jogar poker eu também ganhei ótimas habilidades para mentir.
— Eu vou deixar essa passar. – ele disse e entrou na sala dos gatos. Por alguma razão, algo quente subiu pelo meu peito e eu coloquei a mão na boca tentando impedir de sair.
Então, depois de muito tempo, eu dei uma gargalhada alta e sincera.
Eu mal podia esperar para contar isso para as Heartbreakers, pensei.
Então sem aviso algum, a angústia me cobriu novamente.
Eu as amava. Elas eram minhas irmãs, mas também eram parte de algo extremamente doloroso para mim.
Estar com elas me machucava, assim como estar sem elas também me machucava.
Não havia caminho fácil quando se tratava das Heartbreakers. Mas eu tinha aprendido que não importa o que, nós sempre estaríamos lá uma para a outra. Mesmo quando eu não queria que ninguém estivesse comigo.
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Tudo de nós (The Heartbreakers #3)
RomanceIrma Keller era a ponteira do time de vôlei da Kennesaw State. A garota que ia jogar em um time profissional. Aquela que brilhava dentro de quadra. Mas em seu último jogo pela universidade, Irma sofreu uma lesão que destruiu seu joelho e seus sonhos...