Capítulo 26

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Irma

O resfriado infernal que eu tinha pego finalmente foi embora e agora eu só me sentia indisposta.

Andrew tinha me proibido de ir para o trabalho até estar cem porcento bem e ele passava os dias me mandando mensagem para saber como eu estava e, às vezes, ele vinha me trazer comida.

Já fazia três dias desde que eu desmaiei nos braços dele.

Uma hora, nós estávamos andando na ponta dos pés ao redor um do outro e no momento seguinte ele não evitava minhas perguntas e nem meus toques. Na verdade, Andrew parecia prestes a ceder a isso que acontecia entre nós.

Sempre que ele me mandava mensagem, eu me perguntava qual seria seu próximo movimento. Ele apareceria na minha porta? Me beijaria? Diria que também estava apaixonado por mim?

Minha declaração naquela noite podia ter sido o motivo da sua mudança, mas Andrew não falou uma palavra sequer sobre isso. E enquanto ele se decidia sobre o que fazer, eu também estava pensando seriamente no que eu iria fazer se nos envolvessemos.

Claro, a teoria era linda.

Eu estava apaixonada e se ele também estivesse, era um final feliz, certo? Eu adoraria que fosse a verdade, mas eu tinha tido meu final feliz destruído algumas vezes antes e não estava disposta a passar por isso mais uma vez.

E, por mais que eu sentisse que estava finalmente vivendo depois de anos congelada no tempo, eu ainda tinha momentos em que tudo ao meu redor perdia a cor.

Meu terapeuta tinha indicado um grupo de ajuda e eu até tinha chegado a ir numa reunião. Eu costumava achar que era a única que sentia que não valia nada e que todos meus esforços eram em vão, que minha dor nunca passaria e que os dias nunca mais teriam cor.

Mas eu não era.

Depressão era algo surpreendente. Porque, ao mesmo tempo que ela te destruía de uma forma única, ela também era algo meio "padronizado". Sentir que sua vida não vale nada? Comum. Se perguntar frequentemente qual o propósito de estar viva? Normal. Não ter vontade de sair, conversar ou ter qualquer interação com outro ser humano? Apenas mais um dia normal. Querer acabar com tudo? Surpreendente comum.

Era uma doença e doenças tinham sintomas e eles podiam variar de pessoa para pessoa, mas no final eram todos sintomas da depressão.

Falar sobre o que aconteceu parecia ajudar. A aceitação doía e eu sabia que ainda tinha um longo caminho pela frente, a caixa cheia de prêmios que estava escondida no meu closet era uma prova disso, mas eu sentia que também estava respirando mais livremente ultimamente.

Não havia o peso da mortalha em meus ombros.

Os dias eram menos insuportáveis.

Eu até sentia vontade de estar com as Heartbreakers.

Mas um relacionamento poderia suportar tudo isso? Andrew poderia lidar com toda a minha bagagem? Ele parecia viver tão levemente, como se nada no mundo o afetasse. A bagunça que eu era, ele poderia aceita-la?

Eu estava descobrindo quem eu era.

Não a Irma que jogava vôlei e ia ser uma profissional. Eu estava descobrindo quem a Irma que trabalha no abrigo e sofreu uma lesão era.

Como eu poderia ser a mesma pessoa, mas ser tão diferente?

Eu ainda amava o vôlei. Mas outras coisas haviam mudado durante os anos. Meus gostos não eram os mesmo, nem mesmo as músicas que eu ouvia eram as mesmas.

E havia Andrew.

Talvez ele fosse o ponto em comum com meu eu anterior.

Porque a Irma que eu era também teria se apaixonado por ele. Não importava a época, eu sentia que me apaixonaria por ele em qualquer momento.

Tudo de nós (The Heartbreakers #3)Onde histórias criam vida. Descubra agora