Capítulo final

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Hela observava Nidhogg em um invólucro semi-transparente negro, era um embrião em um ovo. Suas asas feitas de sombras e fluidos sombrios se dissolveram após a grande batalha. Também diminuíra, não era mais que um pequeno lagarto preto agora, envolto em sono e remodelação no interior de sua nova membrana. Hela pousou o ovo nas raízes de Yggdrasil com cuidado, ramos o envolveram e o conectaram a árvore. Nidhogg era fruto dela, afinal, e dela renasceria.

Pela primeira vez em muito tempo as cavernas de Nastrond não guardava nenhuma alma, apenas silêncio. Knud onservava a saída, empoleirado em um dos galhos da grande árvore. Hela assentiu para ele e começou sua escalada. Suas runas penetraram a árvore, Knud pousou em seu ombro bem a tempo de se fazerem um com as raízes e serem transportados até a fissura que dava acesso à Midgard.

Sentia pela perda das almas que se foram para sempre na grande batalha, também pelos gigantes e pelos deuses. A morte era aquela sensação de impotência, de limite, algo sem solução, que no fim dava luz a qualquer sentido. Afinal, era Hela que mediava qualquer sepultura, que dava luz à história dos homens que apodreciam sob a terra ou viravam cinzas em uma pira. Mas Hela gostava de pensar que as almas que se foram, assim como Nidhogg, voltariam ao lar: a grande árvore do mundo; e algum dia dariam lugar a nova vida.

Não havia mais um único rei. Odin e seu nome foram levados pelos ventos para os confins do passado. Mas ainda havia deuses que ainda se lembrariam dele e de seus ancestrais. Em algum lugar, Balder ascendia, para emprestar sua luz e bondade ao mundo uma vez mais. E para as almas que restaram em Hel foi dada a escolha de renascer nos mundos e assumir novas formas, tal como Knud havia escolhido.

Hela e Knud caminhavam em uma floresta nevada entre vales. O novo sol se chocava contra sua pele, mais potente que o anterior, fazendo-a cintilar. Knud brincava, mergulhava sua cabeça negra na neve e chacoalhava, tal como fizera no lar de Uller, quando acordou em seu novo corpo de ave. Ele encarou Hela por breves momentos, abaixo seus olhos de rapina escarlates tinham pequenas letras de mesma cor: Mannaz, que significava memória e ehwaz, confiança e companheirismo.

Knud alçava voo entre os galhos. Fez questão de derrubar neve sobre Hela, que lhe lançou um ou outro xingamento e, em resposta, ele guinchou, rindo. 

A Herdeira de HelOnde histórias criam vida. Descubra agora