raiva, medo e curiosidade

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Enquanto isso, os garotos entraram e perceberam que estava tudo limpo e arrumado, nem parecia uma casa velha!
E dobrados encima das camas havia cobertores muito brancos e limpos e pijamas.
Eram conjuntos de camisa e bermuda de algodão, cada um era de uma cor combinado com a camisa que os meninos usavam: de Thomaz azul, Nicolas vermelho e Théo amarelo-claro.

Se trocaram, fizeram sua higiene e não dormiram,

Nicolas estava tentando raciocinar um jeito de sair dalí sem a ajuda da garota, ele tinha certeza de que ela tinha armado aquilo.
Mas não conseguia de jeito nenhum. Estava com muito medo de sair naquela floresta estranha ou de andar pela enorme construção.
E francamente, o clima frio, agradável e hospitaleiro não ajudava muito...

Thomas tinha um turbilhão de perguntas sem respostas: como Elie morreu?
Por que ela não estava no Cêu?
Quem é o dono desse lugar?
Por que ela tinha tanta afeição por aquele homem?

Apesar de estar precupado com seus pais, ele havia decidido que iria caçar todas as respostas custe o que custasse.

E nosso loirinho medroso estava sentado completamente envolvido com o cobertor, mesmo com a luz ligada, estava apavorado e tremendo.
Via figuras macabras por todo lado

Até que deu espirro.

-Saúde!- respondeu uma vozinha desconhecida

-Obrigado...- ele limpou o nariz até que se tocou.
-Pera! QUEM TA AÍ?!-

De alguma forma, ele deu um pulo que em um instante ele estava de pé na cama com os punho fechados.
Suas pobres pernas ficaram ainda mais trêmulas.

-Aqui do lado!- disse a voz baixa e suave como uma melodia.

A cabeça do menino foi surgindo lentamente junto com um par de olhos chorosos e assustados, para perto do criado-mudo que ficava ao lado da cama.

Lá em cima estava uma escova de cabelo, daquelas da era vitoriana, um pequeno vaso lilás com flores frescas e uma caixa de música.

A caixa tinha uma pequena pintura de bosque na tampa, e dentro, uma delicada bailarina de porcelana.

Théo caiu da cama ao ver a bailarina virar seu olhos brilhantes e azuis para ele.

-O Céus! Você esta bem?-
A bailarina levou as mãos a boca.

Já sentado no chão, Théo esfregava as costas doloridas.
-Meu Deus... depois disso eu não me impressiono com mais nada!-

Aquela fina peça de porcelana, tão linda e delicada que parecia que iria quebrar só de olhar, sua pele e seus cabelos eram brancos como a neve.

Eles estavam presos a um coque e com algumas mechas anduladas na frente, seu collant era lilás com
alças finas e ao invés de um tutu prato, ela usava uma saia de tule branca e quase transparente.

Ela carregava algo nas mãos.
-Me desculpe! Não queria ter te assustado.-

-Sem problemas, já estou acostumado!-

Ele chegou mais perto do móvel e se agachou para ficar na altura dela.
-CARACA! TOY STORY é real! Você é tipo
A Bailarina de Cera?-

Ela achou engraçado a sua comparação.
-Quem me dera ter um soldado de chumbo!
Ninguêm entra aqui a um tempão, sabia? Então não fique preucupado com os monstros, eles não vem para cá.-

Théo percebeu que ela segurava a sua própia perna, que estava quebrada e separada do resto do corpo e seu rosto tinha algumas rachaduras.
-O que aconteceu com você?- ele perguntou.

-Sabe que eu nem sei!- a bailarina olhou para a perna
-Estou assim, desde... desde....-

Enquanto ela pensava, ele foi até onde tinha deixado as suas roupas e pegou no bolso da bermuda, uma fita adesiva.
-e-eu posso te ajudar?-

A bailarina apenaz assentiu com um olhar surpreso. O menino, depois de cortar um pedaço de fita, pegou a perna e com todo o cuidado, encaixou no lugar dando algumas voltas de fita adesiva.
Ela esticou e dobrou a perna algumas vezes, se levantou e com um sorriso genuíno no rosto e deu alguns rodopios sobre a perna remendada.

-Agora eu me lembro!- disse na ponta dos pés.
-me lembro de estar em uma apresentação perto de uma construção antiga, e do palco cair, e de aparecer aqui, e de uma garotinha com um sorriso psicótico para mim!-

Théo interrompeu
-esta falando da Elie?-

No fundo ela ficou feliz por ele interromper-la. Não queria se lembrar de qualquer forma...

-Sim! Ela mesma!- a porcelana colocou a mão atrás da cabeça envergonhada
-Eu não sou muito boa em decorar nomes!-

-Sabe...- ela juntou as mãos parecendo um pouco incomodada
-Uma coisa que eu percebo nela, e queria muito saber o motivo, é que... ela tem um sorriso tão bonito, mas parece que carrega uma dor tão grande.-

A bailarina percebe o assunto delicado que havia tocado e colocou as mãos nas bochechas.
-Ó que cabeça a minha! Eu ainda nem me apresentei!
E estendendo a mão disse - Eu sou Clara, Maria Clara! E você?-

-Me chamo Théo!-
E também mudando de assunto
-Eu e meus amigos ficamos presos aqui, Elie vai nos ajudar a sair.-

-Ó pobrezinhos! Lhes desejo boa sorte!
Eu até gostaria de sair tambêm, mas como eu iria me virar com um corpo de porcelana e 12 cm de altura?-
Sorriu como se estivesse rindo da própia desgraça.

O garoto teve uma ideia.
-Por quê não vem com a gente Clara? Você pode ficar na minha casa, eu iria te ajudar,-

-hmmm... e-eu vou pensar a respeito.- disse Clara com um sorriso agradecido.
A décadas, ninguém tinha sido tão gentil com ela assim mas não sabia se podia aceitar aquela gentileza...

Os dois ouviram a porta rangendo e ficaram em alerta. O loiro deu um suspiro de alívio ao ver um cachinho ruivo saltar para dentro do quarto.
-Oieeeeee!- Thomas entrou devagar.

-Achei que você se sentiria melhor se eu ficasse com e você e também...
JESUS CRISTO! TOY STORY É REAL!-

Ele surtou ao ver a bailarina se macher.
-THÉO. SAI DAÍ. DEVAGAR.-
O menino se ajoelhou diante da boneca.
-PELO AMOR DE DEUS, PODE LEVAR TUDO QUE EU TENHO SÓ NÃO LEVA A MINHA VIDA!-

-THOMAS CALMA! NÃO É A ANABELLE NÃO!-

-A não?-

-E como eu iria machucar alguém? Olha para mim! Eu sou de porcelana!-
disse a albina com um sorriso meio irônico.

Após o garoto se acalmar e ser apresentado a aquela boneca peculiar, os três subiram na cama e ficaram conversando sobre os mais variados assuntos, ela parecia não saber de muita coisa sobre a casa e eles contaram tudo que tinha visto lá fora.

Théo soltou um suspiro enterrando costas nós travesseiros
-Sabe...eu fico mais calmo com vocês aqui, mas eu ainda estou morrendo de medo.-

-Tudo bem! Eu também fico com medo o tempo todo.- ela sorriu.
-Se é assim, eu vou cuidar de vocês!
Afinal eu sou mais velha!-

-E eu vou ajudar!- disse o ruivo animado.

Um tempo se passou e eles adormeceram.

Ela deu um beijo rosto do loiro e voltou para a caixa.

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