de quem é a culpa?

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Nicolas já queria colocar o plano em prática, queria esquecer e acabar logo com aquilo tudo.
Mas também queria aproveitar a lembrança do sorriso dela antes de tudo esfriar...

O único calor que sobrou era o da pequena lamparina dançando no chão.
Olhando para o vazio e se esforçando para seguir em frente, ele pegou a lamparina e vagou corredor a frente. Apenas olhando para a luzinha como se fosse um raio de esperança recuperando forças para crescer.

Talvez ainda precisasse de tempo.

Lentamente, seus passos foram se apressando, até ele começar a correr sem rumo.
Quem sabe ele pudesse fugir daquele pesadelo só correndo?

Suas pernas não sentiam dificuldade com o esforço. Já estava acostumado a fazer isso todo dia durante as tardes de brincadeiras, mas sua respiração estava ofegante. O movimento balançava violentamente as mechas escuras dele, enquanto seu coração bombardeava cada vez mais sangue pelo corpo para que seus pulmões aguentassem, tanto a correria quanto a ansiedade.
Não parou até que chegasse no quarto de Elie.

É claro que ele havia decorado o caminho! Estava no mapa que Clara tinha feito, e ele não era besta!
Por sorte, não tinha ninguém lá dentro.
E o garoto pegou algo que talvez fosse perigoso demais para a sua pequena consciência...

Enquanto voltava para o quarto. Ele se perguntou se alguém tinha jogado alguma praga ou coisa do tipo nele.
Porque todas as pessoas que ele odiava estavam aparecendo naquela noite??

No meio do caminho estava aquela capeta. Horrível e estranha como sempre, estava de costas, olhando para alguma coisa no chão.

Ele gelou ao ver o que ela estava olhando, e pela primeira vez, Elie se assustou ao ver o menino. Coçando freneticamente as suas ataduras e com os olhos completamente vazios.

No chão, bem diante deles, estava Théo. Caído no chão com alguns cortes no braço, os olhos fechados e nenhum sinal de vida.

Ele sacudiu o garoto na tentativa de acordar-lo. Não conseguia pensar. Nem percebeu se o amigo estava respirando.

Sabia.. ELE SABIA QUE ISSO IRIA ACONTECER ALGUMA HORA!
Nicolas se levantou e gritou com a fantasma, perguntando o que diabos ela tinha feito.

Ela recuou com mesma espressão vazia e perdida, e gritou meio desesperada.
-E-EU NÃO SEI! Eu...-

O garoto nem esitou antes de pegar a k9 que guardou na bermuda e apontar para ela.
Mas agora, suas mãos tremiam ao colocar o dedo no gatilho. Ele estava bravo, mas também assustado. Sempre pensou que isso poderia acontecer mas aquela garota aos poucos pareceu tão miserável e até legal...

Então Bia estava certa! Ela realmente gostava de enganar as suas vítimas...

Elie arregalou os olhos ao ver a arma apontada para ela. Foi como se tudo tivesse parado, e aquele momento fosse decisivo para mudar tudo por completo...
Foi essa a sensação sufocante, até que a garota de um leve sorriso.

Seu sorriso se alargou e aos poucos se tornou uma risada alta e aguda. Nicolas mudou para um olhar de confusão e desprezo e abaixou a arma sem entender qual era a graça.
-Ta coringando, minha filha?-

-Eu já sabia que vocês fariam isso...- ela abafou a risada depois de vários minutos de crise
-Mas me ameaçar assim? Uau! Eu não esperava que vocês fossem tão burros!-
Ela parecia levar aquilo na brincadeira, acreditando perfeitamente que ele jamais puxaria o gatilho.
Mas na verdade era engraçado. Era muito engraçado o quanto ela foi imbecil a ponto de achar que alguém seria capaz de gostar dela...

O moreno apontou a arma de novo. Desesperado por alguma defesa. No fundo sempre foi medroso como Théo, só nunca confiou nos outros o bastante para mostrar isso, e agora todos os seus mecanismos de defesa estavam cem por cento.
Seu corpo inteiro tremia e sentiu uma sensação de sufoco.
-É MELHOR VOCÊ TOMAR CUIDADO!-

Ela se aproximou e ainda com um sorriso sádico, encostou a testa na pistola.
-Você é quem deveria tomar cuidado comigo!-

Lá no quarto, Thomas acordou agoniado com o pesadelo que teve. Um pesadelo sem pé nem cabeça em que estava sozinho naquele mesmo lugar escuro que tinha em que tinha encontrado o Thomas de Olhos Brilhantes.

Passou a mão pelos cachos ainda com o coração acelerado se acalmando, até que percebeu que estava sozinho.
O ruivo chamou pelos três amigos, procurando por todos os cantos do cômodo, arrancando as colchas e jogando tudo no chão desesperado.

Naquele corredor escuro, a pequena criança não entendeu direito o que estava acontecendo na cena que era iluminada apenas pela fraca lamparina. Seus olhos se ajustaram a luz e ficaram perplexos ao ver a garota por quem ele tinha depositado sua confiança e amizade daquele jeito...

Elie estava fazendo alguma coisa com o estilete... Até que o menino chegou perto o suficiente para ver a fantasma em cima de Nicolas, pronta para dar o próximo golpe. A garota se virou para para ele completamente fora de si, com sangue manchado na bochecha e os olhos vazios e arregalados.

Os dois paralisaram com medo dela, e a fantasma congelou ao perceber que Thomas alí em frente. O moreno choramingava, segurando o corte profundo da sua mão.

-O que você fez?-
Ele virou a cabeça para ver Théo caído no chão e a sua voz quase não saiu. Não conseguia sentir raiva ou medo naquele momento, só tinha a sensação de ter sido traído e de que tudo ao seu redor estava desabando...

De repente, Elie avançou nele violentamente, empurrando-o até bater de costas contra a parede. Thomas fechou os olhos e tentou afastar ela, já prevendo que seria o próximo a ser machucado.
Mas ao invés de bater nele, ela enfiou com força, o estilete no papel de parede.
-Por que?... Por que eu sempre tenho que estragar tudo???
Eu devia ter trancado vocês no quarto! EU SEI QUE É DIFÍCIL MAS POR QUE FICAM SAINDO ASSIM SEM ME AVISAR?-

Ele franziu a testa e gritou de volta.
-ACHA MESMO QUE VAMOS ESPERAR POR VOCÊ PARA SAIR DAQUI?!-

A fantasma levantou o rosto para olhar para ele. Um rosto com raiva, mas prestes a desabar nas lágrimas que surgiam...
-Eu devia ter te matado quando tive a chance! É TÃO DIFÍCIL DE VER? Todo o esforço que eu tive para proteger e esconder vocês dentro desse inferno?
Um choro começou a surgir.
-M-mas... Parecia que você gostava de mim...
E foi tão legal...
Eu podia simplesmente ter matado vocês três... Eu podia finalmente cumprir a dívida com o Parasita e voltar a viver...-
Ela puxou a blusa com desespero, fechando os olhos e balançando a cabeça para tentar conter as lágrimas e gritou.
-Eu já sinto esse corpo apodrecendo em mim!-

O ruivo começou a chorar também. Ele nunca tinha imaginado Elie chorando. Nunca nem tinha ouvido palavras tão pesadas...

Mas a menina desabou por completo quando viu ele chorar junto e agarrou os braços dele, implorando e tremendo.
-E-Eu sinto muito! Por favor! Eu nunca quis te fazer chorar!-

-VOCÊ É UMA MENTIROSA!! OLHA O QUE VOCÊ FEZ!-
O garoto finalmente empurrou ela, tão forte que a fez cair sentada no chão. Ele correu em direção ao amigo desmaiado no chão e sacudiu ele na esperança de acordar-lo, mas nada adiantou. Ele abraçou Théo com toda a força, tremendo, mas aliviado por sentir a respiração dele.

Enquanto isso, Nicolas se levantou furioso denovo. Tinha perdido a arma, então agarrou a menina pela blusa.
-Você... É uma idiota! Uma traidora! Quem você pensa que é?? Você é a pessoa mais egoísta que eu já vi na vida!-

Elie arranhava o punho dele para tentar fazer ele soltar, e quando puxou o cabelo do garoto, Nicolas ergueu a mão para bater nela.
Mas foi impedido por um chute que Thomas deu nele.

Com o amigo desacordado nos braços, o ruivo estava com a respiração curta. Olhando para eles com um olhar que nunca tinha mostrado antes. Parecia ter perdido a sua esperança e brilho, e expressava um desgosto com raiva.
-PAREM COM ISSO VOCÊS DOIS! ESTÃO ME DANDO DOR DE CABEÇA!-

E saiu segurando Théo firmemente, sem dizer mais nada, provavelmente atrás de alguma ajuda. Deixando as duas crianças descabeladas e machucadas de tanto brigar, alí sem saber como reagir.

O culpado daquilo tudo iria ser caçado mais tarde...

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