Epílogo

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Muita coisa aconteceu depois disso.

Todo mundo queria saber o que causou o incêndio da misteriosa Casa da Esquina e quem eram aquelas pessoas que diziam ter ficado presos lá dentro.

Os pais dos meninos ficaram emocionados e muito felizes por verem seus filhos novamente.
Eles seriam proibidos de brincar na rua sozinhos por um bom tempo...

Morgana e Lucas combinaram uma história com as crianças. Para dizer a polícia que ficaram presos em um cômodo alto da casa, e quando um dos meninos tentou acender uma vela acabou explodindo, provavelmente pelo gás velho que estava aberto ou algum produto inflável que não perceberam.

Parecia que eles tinham sido convincentes por enquanto, mas não tinham documentos e muito menos provas então teriam que ser investigados por algum tempo.

Os meninos foram examinados e, fora Nicolas que teve que engessar a mão,
obviamente não tinham nenhum sinal de abuso.
Elie era a excessão, mas evitava a todos custo que algum desconhecido chegasse perto dela.

Era libertador, encantador e principalmente novo e assustador aquele silêncio na sua mente e o jeito gentil que as pessoas a tratavam.
Era estranho receber o sorriso de alguém que não fosse Thomas, Théo e Nicolas.
Ela também dizia que não se lembrava do seu sobrenome e nem de como entrou na Casa da Esquina, se recusava a dizer qualquer coisa sobre lá.

Como Théo havia dito, a mãe dele, Tia Suzana, estava tentando resolver as coisas para a menina. Depois de ter certeza de que seu filho estava bem, é claro!

O Conselho Tutelar era um problema. Falaram que não podiam abrigar a menina e nem resolver nada já que ela não tinha ninguém para passar a tutela, e que ela deveria ser levada a um lar de adoção.

Não existiam lares de adoção por perto, além disso, Susana sabia bem que muitos não eram confiáveis.

Depois de ver Elie implorando muito para não ir para um orfanato e a pedido do seu filho, ela resolveu se tornar a tutora legal daquela menina. Só temporariamente, mas isso já foi motivo da alegria e alívio deles...

Thomas deu alguns pulinhos animado para visitar a sua amiga e segurando firme a mão de Dona Lúcia, que exalava conforto para ele... Na verdade era o perfume fedorento de lavanda!

Elie ainda estava no hospital mas era quase um sonho parar para pensar que ele realmente conseguiu escapar com ela...

Sem nem se importar com o barulho, o menino saiu correndo em direção da porta do apartamento onde ela estava internada.
Lúcia, coitada, nem conseguiu alcançar-lo mesmo estando um pouco brava com isso.

Ela entrou ofegante depois do filho, se perguntando como pode ter tantos pneus ao redor da cintura se sua rotina era praticamente assim!

Até que era fofo ver eles dois juntos. A espressão surpresa de cada um lentamente virou um sorriso imenso e a garota pulou da cama, abraçando-o, e ignorando completamente o soro (e o amigo) que havia derrubado.

-Ai! Sua doida!-
O ruivo gritou ao cair no chão antes de dar risada.

-Menina! Não se esforce tanto, pelo amor de Deus!-
A mulher se aproximou preocupada, mas antes que ela pudesse chegar perto, a criança voltou para a cama pedindo desculpas. Aquilo dava um aperto no coração...
-Está tudo bem, querida...-

Lúcia se virou para o sua "peça" e beliscou o braço dele.
-E você, não saia mais correndo sem mim desse jeito!-

-Ai, mainha!-
Ele murmurou esfregando o braço dolorido.

De repente Théo e Nicolas entraram animados.

-Shhh! O hospital é lugar de fazer silêncio!-
Advertiu, Suzana.

As três mães haviam combinado de levar seus filhos para fazer aquela visita.
Eles estavam ansiosos por isso e elas também queriam ajudar-la e conhecer melhor a amiguinha deles.

Suzana era uma mulher magrinha e de cabelo loiro, preso num rabo de cavalo baixo, e com os olhos caídos e a pele do filho.

E tinha Mariana, a mãe de Nicolas.
Thomas não mentiu quando mencionou que ela era bonita!
Era alta, daquele tipo de mulher que se veste de forma modesta e ainda consegue ser atraente e chamativa, com cabelos negros e longos, e um olhar que podia ser tanto intimidador quanto sereno.

Foi bem tranquilo. Os dois meninos abraçaram Elie e mostraram muito animados o presente que tinham trazido para ela.

Suzana colocou o embrulho sobre a cama, do lado da garota, que se afastou um pouco olhando desconfiada para o papel vermelho e brilhante.
-O que é isso?-

-Uma surpresa!-
Respondeu Théo com um sorriso radiante e Nicolas levantou a mão orgulhoso ao falar.
-Eu que ajudei a escolher!-

-Eu também! Eu não tava na hora mas eu vi no grupo!-
Comentou Thomas.

Ela pegou o presente e colocou no colo tentando sentir o que tinha dentro.
-Não vai pular nada em cima de mim, não é?-

-Você quer que eu abra para você, minha flor?-
Perguntou Mariana calmamente.

-Não.-
Ela finalmente abriu com cuidado e pegou um par de luvas de crochê, sem dedos, com tons de bege e marrom e uma pequena florzinha estampa na frente de casa uma.

A menina ficou sem palavras por um momento enquanto tirava os curativos das suas mãos.
Tinham cicatrizado.
As feridas abertas, a carne viva, se foram deixando apenas cicatrizes e uma falha na coordenação motora fina.

Ela colocou as luvas e ergueu as mãos admirando o seu novo acessório e abriu um imenso sorriso.
-Que fofinho! Eu amei, amei, amei amei!!-

O sorriso de Théo foi esboçando e ele comentou para os amigos que estavam ao lado dele.
-Ela iria gostar... De estar aqui.-

Ele estava falando de Clara.
Mesmo que tenha sido por apenas alguns dias, os três ainda sentiam a decepção de que jamais cumpririam as promessas que fizeram para ela.

Mas a simples felicidade foi se tornando cada vez mais rotineira enquanto uma hora ou outra os garotos contavam orgulhosamente as suas aventuras para as outras crianças, ou se lembrando agridocemente das coisas que passaram.

Nicolas jogou fora o chaveiro que Biatriz deu para ele.
Thomas comprou um novo boné e se sentia realizado por ter denovo a sua mãe para finalizar o seu cabelo.
Théo começou a ajudar mais em casa.
E Elie jogou fora todas as facas e estiletes que ainda tinha, inclusive as da casa de Suzana. Talvez isso não tenha sido uma boa ideia, mas na cabeça dela foi.

E a Casa da Esquina, queimada e destruída, teve seus restos transformados em uma pequena casinha pelas crianças do bairro.

-A gente precisa dar um nome para o nosso clube!-
Disse um menino de cabelo castanho e o queixo sujo de tinta.
Até que tinha ficado bem legal mas as meninas alegaram que era melhor pintar para ficar bonito e ninguém achar que aquilo era lixo.

-Boa!- Thomas balançou a cabeça animado com a ideia.
-O que vocês acham de Clube dos Homens?-

-A gente não é homem!-
Retrucou Amanda com o braços cruzados, com as outras meninas também parecendo insatisfeitas com esse nome.
Sim, é aquela mesma menina que girou a garrafa do Verdade ou Desafio que rendeu confusão para esse livro todo!

Ela era do tipo de menina simpática e com instinto de liderança mas que não levava desaforo para casa. Amanda e as outras já tinham falado com Elie, muito curiosas.
Na verdade qualquer criança se sentia muito curiosa e até assustada com aquela garota, as perguntas mais "esquisitas" que eles já fizeram para ela eram se os meninos já tinham benzido ela (Sim! Eles fizeram isso só por garantia.)
ou se o Fantasma da Casa da Esquina realmente existia, (Coisa que ela sempre respondia um "quem sabe?" com um sorriso malicioso)

Théo pensou um pouco antes de sugerir
-E o que vocês acham de Clube de Aventuras?-

Todos adoraram a ideia. E assim surgiu o Clube de Aventuras (e desventuras) daquela garotada...
Mas isso é assunto para outra história!

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