Mãe

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(História contada na visão do Tessera)

Foram muitos dias de batalhas, lutas atrás de lutas, explosões de magia mudavam toda a paisagem ao redor, o sangue de inocentes manchando o chão, inocentes que lutam por pessoas poderosas que sequer se importam com suas vidinhas miseráveis, tudo estava em completo caos, nenhum dos lados estava disposto a se retirar, então chamei o guerreiro mais poderoso para uma batalha um contra um.

O guerreiro parecia um enorme mamute, com certeza causaria um enorme estrago no meu corpo magro e frágil, pelo menos antes da minha tragédia, as sombras me fortaleciam e me curavam a todo momento, apesar de toda dor, como se estivesse sendo esmagado por uma pressão absurda, mas nada que eu não pudesse suportar depois de tudo que já vivi.

Apesar do tamanho, o mamute era rápido, veio em uma investida rápida me socar contra o chão, uma cratera se abriu, mas o guerreiro passou longe de me acertar, socar uma sombra é basicamente inútil, mas esmagar um corpo ou fazê-lo em pedaços por dentro era extremamente fácil pra mim, enquanto ele pedia misericórdia enquanto sofria com muita dor, apenas finalizei com a seguinte frase: "peça misericórdia ao seu Deus, eu não sou ele!".

Todos tremeram naquele momento, o ar ficou pesado e ninguém conseguia prosseguir com a batalha, simplesmente recuaram e fugiram temendo a própria morte. As criaturas da floresta que se escondiam da batalha já estavam a voltar, vendo toda a destruição e ficando sem seu lar. Com toda destruição, todas as mortes causadas por criaturas da floresta deixaram de ser selvagens e ganharam uma visão mais voltada à justiça, ou vingança.

Depois de tanto tempo quase esqueci de quem eu era e de onde vim, decidi dar um tempo, uma trégua, tanto barulho que se torna cansativo até para os mais poderosos. Voltei para um pequeno vilarejo e fui até a uma casa isolada, que ficava ao lado de uma floresta pequena, a floresta que deu o meu nome. Chegando lá parei um pouco para respirar, pensar um pouco, então bati três vezes na porta, até escutar uma resposta: "já vai!"

Jack: Mãe? - perguntou tentando descobrir quem realmente havia gritado do fundo da casa.

Mãe: Jack?! - perguntou surpresa, com o peito batendo cada vez mais forte de saudades - O meu Jack?!

Jack: Existe mais algum? - respondeu ironicamente.

Minha mãe abriu a porta tão rápido, dava para perceber o quanto sofreu na minha ausência, provavelmente todas as notícias afetaram muito sua saúde. Ela me abraçou tão forte, quase fiquei sem respirar, ela agradecia repetidas vezes por poder me abraçar novamente, é bom saber que alguém ainda esperava por mim em casa, mas porque tanto sofrimento tem que ser vivido para isso?

Jack: Mãe, está tudo bem! - tentou afastá-la para conseguir respirar um pouco - Já pode me soltar, não vou desaparecer!

Mãe: Não, você ficou muito tempo longe! - falou com voz de choro, uma mistura de medo, felicidade, alívio e saudades enquanto apertava mais.

Finalmente minha mãe me soltou, não culpo ela, eu mesmo não consegui fazer uma visita antes, colocaria ela em risco, se tornaria um alvo da legião de heróis. Sentamos à mesa para comer e conversar, faz muito tempo que não conto as fofocas:

Mãe: Como você está? - perguntou apertando as mãos, controlando a ansiedade.

Jack: A senhora provavelmente viu as notícias! - afirmou - Apesar de serem bem sensacionalistas, elas realmente aconteceram!

Mãe: Você não é o monstro que tanto falam! - afirmou com a mão no peito, colocando sua autoridade de mãe na fala - O meu filho não é um monstro!

Jack: É apenas a forma que decidiram me chamar, no final sou apenas um inimigo dos heróis, apenas isso basta para ser um monstro!

Depois de um tempo conversando alguns homens bateram na porta, coloquei minha mão na superfície da mesa e estendi uma sombra por todo o perímetro, identifiquei quatro guardas, que estavam me caçando pelos vilarejos. Olhei para minha mãe e escondi minha presença nas sombras, ela foi até a porta atender:

Mãe: Olá?!

Guarda: Senhora, soubemos que um homem estranho veio aqui mais cedo! - perguntou com ar de autoridade - Ele é um criminoso procurado, precisamos verificar cada possível esconderijo!

Mãe: Não vi ninguém! - respondeu rapidamente - Estive em casa o dia todo, não veio ninguém!

O guarda derruba a porta com um chute e minha mãe cai para trás, ele olha para ela com total desprezo e volta a fazer perguntas: "onde ele está? Nos diga agora ou levaremos você!", mas minha mãe se recusou a responder, o guarda perdeu a paciência e tentou segurar o braço dela com força, nesse momento eu cheguei:

Tessera: Não é assim que se trata uma senhora! - falou com um desprezo tão grande que paralisou o guarda - Olhe para fora, está sozinho!

Naquele momento o guarda virou seu rosto para a porta lentamente, viu três corpos dos outros guardas dilacerados, todo seu corpo estremeceu, aquela cena não sairia mais da sua mente, não importa o que fizesse para esquecer. Ele voltou o olhar para mim e começou a chorar de desespero, pediu misericórdia como um pobre coitado, o ego que tinha já foi reduzido a pó, restou apenas o inseto que ele sempre foi.

Tessera: O seu destino é estar junto de seus companheiros! - falou erguendo o guarda pelo pescoço - Todos para o purgatório!

Naquele instante as sombras seguraram o guarda por cada membro, contorceram e partiram em pedaços, os guardas não eram mais problema nenhum, mas eu havia esquecido de um detalhe, minha mãe presenciou tudo e eu coloquei sua vida em perigo. Olhei para minha mãe e me abaixei para acalmá-la melhor, mas ela se afastava de mim, assustada com tudo o que viu. Depois de tudo apenas me desculpei pelo ocorrido e fiz ela adormecer com tranquilidade para descansar até o dia seguinte.

Quando amanheceu minha mãe acordou e preparou seu café da manhã e foi para a mesa, então bati na porta, os corpos dos guardas já não estavam mais a vista, nada faria o trauma voltar. Minha mãe abriu a porta e olhou nos meus olhos, nos encaramos por um tempo até ela falar:

Mãe: Olá, eu te conheço de algum lugar? - perguntou confusa.

Tessera: Não, na verdade eu me perdi e queria um pouco de café! - respondeu segurando toda a dor no peito.

Mãe: Claro! Vou pegar um copo! - se dirigiu até a mesa e serviu uma xícara. - Qual seu nome? Está procurando alguém?

Tessera: Meu nome é Jack! - respondeu - Estava apenas viajando, procurando um lar!

Mãe: Entendo, espero que encontre! - falou enquanto acenava após o café - Boa viagem, Jack!

Aquela foi a última vez que minha mãe falou o meu nome.

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