Grindelwald e o Herdeiro do Caos

Precipício

O odor de sangue e fezes, misturados, preenchiam o ambiente mal iluminado e úmido.

— Eu sei que você está aí, baby. Vem pra mim, vem? — Hades deu um sorriso de lado, mesmo que ninguém mais pudesse ver. — Prometo que vai ser rápido.

E realmente seria.

Ele estava cansado, quase esgotado.
A chave de portal o levou para uma emboscada, no meio de alguma cidade abandonada da América do Norte.

Mais de vinte bruxos o cercaram em uma emboscada, lançando feitiços anti-aparatação, impedindo ele de fazer qualquer coisa a não ser lutar.

Mas não pode se dizer que Hades Peverell não gostava de um bom desafio.

Suor escorria pelos seus poros, fazendo sua pele brilhar por baixo de todo o pano que o escondia. A adrenalina ainda corria por suas veias, fazendo seus ouvidos zumbirem e suas mãos tremerem, sendo visível mesmo com todo o sangue a cobrindo.

Ele quase conseguia ouvir os gemidos de satisfação de sua adaga, vermelha sangrenta, feliz por ter fatiado tantas peles lisas e frágeis.

Um barulho a sua esquerda chamou sua atenção, e viu quando um pedaço de pano escapou pelo lado do muro.

Seus dentes brancos reluziram em um sorriso assassino, enquanto caminhava lentamente, para sua última presa.

*

— Você não acha que está sendo dramático, Dray? — Pansy perguntou, enquanto lixava suas unhas da mão, ao seu lado nas confortáveis poltronas do salão comunal da sonserina.

— Claro que não. Eu sei o que aconteceu... em partes. — Sussurrou a última parte. — Mas eu sei que foi ele, só não sei como.

— Você tá fumando muito cocô de unicórnio, se quer minha opinião. — Blaise se pronunciou pela primeira vez depois de ouvir, pela segunda vez, as paranóias do amigo sobre Hades Peverell.

— Não. Não quero sua opinião. Vocês nunca acreditam no que eu falo, é incrível. Quando um dementador me beijar, vocês não chorem por mim. — E se levantou, com um bico nos lábios, indo para o outro lado do salão em direção aos dormitórios, com a capa esvoaçante em seus calcanhares.

— Ele está andando muito com Snape. — Pansy suspirou, deixando sua unha de lado enquanto seguia o amigo com os olhos.

Draco seguiu Hades na noite passada querendo encontrar respostas, mas foi preenchido com mais um turbilhão de perguntas. Sem saber exatamente o que estava acontecendo.

Andava pelos corredores, ainda desertos pela hora, perdido em pensamentos. Até que o barulho de uma porta se fechando, no único corredor que só havia seu quarto e o do outro menino, o fez agir por impulso e se esconder atrás de uma armadura.

Os passos foram ficando mais próximos, porém vacilantes, como se a pessoa estivesse mancando. Aquilo fez Draco franzir o cenho e estreitar os olhos, prestando mais atenção e se encolhendo mais, diante da aproximação.

Não pensou duas vezes antes de seguir o rapaz, que passou por ele sem olhar para os lados.

Seu coração estava acelerado, em expectativa sobre onde essa aventura iria levá-lo hoje.

Diferentemente da outra noite, ele conseguia ver o rapaz hoje. Suas costas eretas e rígidas, sua postura altiva, o balançar do seus cabelos encaracolados castanhos. Se estreitasse bastante os olhos, quase conseguiria ver a linha marcada do maxilar do outro menino.

Mas algo o estava incomodando.
Algo aconteceu ontem, para hoje o rapaz estar neste estado. Quase parecia que havia uma certa tensão em seus ombros, como se só por respirar lhe causasse dor.