Dezenove

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NOTAS: postando esse no dia 31 de agosto para lhes lembrar que apenas Hades vai estar em Hogwarts 1 de setembro 🤡

Depois de pedir para seu elfo levar seu casaco para a lavagem, e pegar outro quase igual – apenas com detalhes em prata diferente – conseguiu finalmente dar atenção ao seu livro pelo resto da viagem.

Mesmo absorto em sua leitura, sua runa de audição estava ativa, permitindo estar atento a tudo que acontecia em seu redor, em segundo plano.

Hades nunca confiava em nada. Nem ninguém.

Então quando escutou passos distantes e uma voz avisando para eles colocarem o uniforme que estava quase chegando a Hogwarts, ele travou a porta para não ser perturbado, e trocou as vestes.

Diferente dos tradicionais uniformes obrigatórias, as suas eram feitas com um tecido mais fino e delicado, feito especialmente para não irritar suas runas, que deixavam sua pele extremamente sensível.

Completamente pretas, para antes da seleção, caiam perfeitamente em seu molde.

Sentiu a velocidade da locomotiva diminuir, e por uma última vez naquele dia, chamou seu elfo, Dippy.

- Sim, Senhor Hades. – Apareceu a pequena criatura, um pouco mais confiante em sua presença.

- Dippy, você tem acesso as alas de Hogwarts, certo?

- Sim, senhor. Não há restrições para elfos domésticos nesta escola de magia.

- Ótimo. Quero que venha sempre que eu chamar. Se puder, mantenham meu dormitório e roupas sempre limpas. Não confio em outra pessoa para essas tarefas. E mais uma coisa. – Fez uma pausa, olhando para fora da janela transparente, vendo o crepúsculo ir embora dando lugar a uma noite estrelada. – Ainda não sei como vai ser, mas espero ter um quarto só para mim. Quero que ponha suas próprias proteções mais poderosas por cima das minhas camadas.

Os olhos do elfo se arregalaram. Ele piscou algumas vezes os globos oculares verdes, surpreso.

- Senhor. Longe de mim o questionar, mas... – Contorceu as mãos em frente sua barriga.

- Pode falar livremente, você sabe.

- Achei que apenas o diretor poderia modificar as alas de Hogwarts, senhor.

- Eu tenho algumas cartas na manga, Dippy. – Piscou Hades, ajeitando uma última vez a gravata em seu pescoço. Sempre impecável.

- Entendo, e fico extremamente honrado por essa oportunidade de confiança, senhor. Prometo dar o meu melhor.

- Eu sei que vai. Pode ir. – Bateu de leve na cabeça da criatura, que alcançava seu quadril.

O elfo, ainda se acostumando com o comportamento estranho do seu mestre, travou por apenas alguns segundos, antes de sumir.

Hades destravou a porta, checando uma última vez seu vagão, vendo que não havia deixado nada para trás. Conferiu seu bolso, sentindo sua carteira com feitiço extensivo, que continha todos os seus bens que não confiava em deixar longe de sua presença. Nunca.

A varinha anciã estava esquecida no coldre em sua mão esquerda.

Sentindo-se preparado, abriu a porta e saiu para o corredor já vazio, descendo do trem e encontrando um pequeno grupo de alunos menores indo em direção a um caminho que levava a um lago, onde continha alguns barcos sem guia. 

Um gigante gritava animadamente:

- PRIMEIROS ANOS, AQUI! NOVATOS, VENHAM POR AQUI. ALUNOS NOVOS, POR FAVOR, AQUI. – Ah, olá Rony, Hermione, como foram as férias? – Parou por um momento para prestar atenção em dois alunos que foram lhe cumprimentar.

Hades porém, parou de lhe dar atenção e viu o resto dos alunos se dirigirem para carruagens no início da estrada.

Ele olhou para os dois caminhos que tinha como opção, e deu uma bufada nasal.

Não iria entrar naquele barco nem que lhe lançassem um império.

Quando chegou perto das carruagens, algo lhe chamou a atenção.

Havia estudados sobre eles, os Testrálios. Até então, nunca tinha tido oportunidade de ver eles.

Mas de todas as mortes que presenciou ou causou, era óbvio que ele poderia ver o animal peculiar.

Sem perceber, se aproximou da criatura, e ela moveu sua cabeça reptiliana, levantando seus olhos completamente pretos de encontro ao seu.

Hades sentiu um sentimento de solidão se alojar em seu peito, lhe causando angústia.

Ele conhecia esses sentimentos, tentava os reprimir todos os dias, durante anos.

Mas algo também acompanhou a emoção.

Esse era um pouco mais difícil dele identificar.

Prazer?

Não.

Felicidade?

Tampouco.

Talvez liberdade?

Afinal, a solidão e a liberdade não são uma linha tênue?!

Uma voz delicada, porém, lhe tirou dos pensamentos:

- Lindas criaturas, não acha?

Hades olhou para o lado, e teve que descer o olhar, pois a pessoa que estava lhe acompanhando batia no meio da sua cintura. Seus cabelos loiros estavam presos por um rabo de cavalo torto, e haviam pequenas flores – já murchas – entre os fios.

Em suas orelhas haviam dois brincos de rabanete – com sua varinha apoiada na orelha esquerda – e em seu pescoço um cordão feito de alguma raiz estranha que tinha cheiro de alfarroba.

Hades voltou seus olhos para a criatura, tentando encaixar em sua mente as duas palavras para fazer uma frase coerente. Trestalios e lindos? Nah.

Mas permaneceu quieto, um pouco incomodado por sua presença estranha.

- Você é o filho das trevas, não é? – Perguntou dessa vez baixinho, mas com um ar sonhador, sempre delicado.

Hades olhou para ela de novo, com o cenho franzido.

Como assim filho das trevas?

Ela sabia de seu “pai”?

- Não se preocupe. Ninguém vai descobrir. – disse isso com tanta certeza, que fez Hades prestar mais atenção nela. 

Inclinou sua cabeça para o lado, a avaliando melhor. Por baixo de todos aqueles apetrechos peculiares, olhos azuis sonhadores, havia aquele toque que conhecia bem.

O saber.

Uma descendente de vidente.

Raros hoje em dia.

Seus olhos azuis tinham um toque acinzentado, quase brancos. Imperceptível para quem não soubesse onde procurar.

Ela então desviou os olhos dos dele, se voltando para a criatura em sua frente, e fazendo carinho em suas orelhas, como se fossem enormes cães fofos.

- Aliás, me chamam de DiLua. Eles acham que eu não sei do apelido. Mas até que gosto. Tirando toda a gozação baseada, é um bom nome.

Houve um momento de pausa entre eles, porém, antes que o assunto se encerrasse, Hades falou:

- Por que não me diz como gosta de ser chamada? – Achando que estava conversando sozinha, esse ato surpreendeu ela. 

Mas o sorriso que saiu de seus lábios, fez ele desviar os olhos. Era como se o sol estivesse quente demais onde ela estava. Quase podia lhe queimar.

- Luna seria perfeito. Apenas Luna.

Hades não olhou mais para ela, se virando de costas. Tentando esconder um sorriso mínimo que insistia em querer aparecer.

- É um prazer lhe conhecer, Luna.

Então entrou na carruagem, deixando para trás um sol que exalava o brilho de mil estrelas.

Grindelwald e o Herdeiro do Caos Onde histórias criam vida. Descubra agora