A semana seguinte se passou como um borrão para Hades. Totalmente entediante.
Para ele, que adorava se movimentar e quase nunca ficar parado, foi um desafio. O que o salvou de sua morte lenta e tortuosa foram as visitas de Narcisa Malfoy e Sirius Black.
Então, entre tomar suas poções, responder coisas da sua vida para a Lady e conhecer seu padrinho – sim, ele descobriu a familiaridade com o homem, e se apossou do titulo - mais profundamente, a semana finalmente terminou e a medibruxa permitiu que ele se levantasse de seu leito.
Agora Hades se encontrava em pé no meio do quarto testando seus movimentos, com dois pares de olhos corujas em si, prontos para o pegarem caso ele caísse.
Admitia que algo quente se manifestava em seu peito com esse ato, mas não conseguia identificar a causa. Nunca foi cuidado desse jeito, e quando tinha algo minimamente próximo disso, havia um propósito.
Então quando ele testou seus músculos e equilíbrio e olhou para seu padrinho, se surpreendeu a encontrar uma emoção que era familiar no homem, em todos os momentos que estavam juntos: orgulho.
Sirius, seu padrinho, o homem que sempre esteve com ele independente da circunstancia ou aparência, esteve sempre orgulhoso de si.
Sentindo a garganta fechar e os olhos embaçarem, pigarreou e piscou para afastar aquela fraqueza de sentimentos que não conseguia entender.
Narcisa deu um sorriso triste e pequeno, vendo a bagunça de sentimentos que o menino que ela passou tanto a gostar era. Ao mesmo tempo que era neutro e limpo como uma pedra, conseguia ser transparente como uma água cristalina.
Ela via a luta interna dele para entender o que acontecia com seu corpo emocionalmente, e saber pouco de sua história fez ela entender o porquê disso. Não seria algo fácil, mas ela faria de tudo para lhe ajudar nessa nova jornada.
Sirius não conseguiu esconder suas lágrimas e logo correu e abraçou Hades, não notando como seu corpo ficou rígido pelo toque humano. Mas o garoto não comentou nada, ou afastou o homem. Apenas deu batidas leves em suas costas enquanto seu padrinho ria e chorava ao mesmo tempo.
- Ok Sirius, chega né. Você está esmagando o menino. - Narcisa, que nunca deixava nada passar, notou o que estava acontecendo e logo interferiu.
Hades riu da cara de cachorro sem dono de seu padrinho, que o havia soltado com um enorme bico em seus lábios.
- Podemos ir? - Perguntou, ansioso para conhecer a residência que iria viver.
Os dois adultos concordaram e Sirius abriu a porta para sua prima, que seguiu para o corredor iluminado.
A casa era quase do mesmo estilo da qual ele vivia antes. Grandes janelas de vidros, carpete sob seus pés, mobílias de madeira antiga e cara, muitos quartos inutilizados, salas para cada tipo de coisa…
O que ele notou de estranho foi a falta de quadros ancestrais nos corredores, muito menos nas salas de descanso, que era algo tradicional no mundo bruxo.
Quando perguntou isso, Sirius enrijeceu e suas feições se contorceram em nojo.
- Eu não vou conviver todos os dias ouvindo mais dos mortos do que já tive que aguentar ouvir quando estavam vivos. – Sua voz era carregada por um ódio vivo.
Narcisa, que estava ao seu lado, se aproximou e passou a mão levemente por suas costas, lhe dando um olhar acolhedor quando ele lhe olhou.
- Já acabou, querido primo. - Era a primeira vez que Hades via o tom carinhoso e delicado dirigido pela mulher a ele. Geralmente era sempre algo mais rígido e engraçado, como uma mãe educando seu filho. Aparentemente era o jeito deles de se lidarem. - Você tem a nós agora, e a ele também, você sabe.
Hades franziu o cenho quando notou Sirius olhar para uma pulseira de couro em seu pulso esquerdo, com um pingente talhado em madeira de um lobo uivando.
O suspiro que ele deu foi tão cheio de sentimentos, que Hades involuntariamente se aproximou mais do homem e passou o braço por seus ombros, mesmo se sentindo um pouco desconfortável com o ato.
Sirius se aproximou mais dele e balançou a cabeça melancolicamente, dizendo baixinho:
- Acho que não Cissa, acho que não.
O assunto morreu, porém, quando eles passaram por uma porta de madeira pesada com a maçaneta dourada com o brasão da casa Black, e Hades tropeçou em seus próprios pés, fazendo os outros dois rirem quebrando o clima tenso que tinha ficado.
Em sua frente a maior biblioteca que ele já havia presenciado se elevava sobre eles, como uma mar de livros novos e desconhecidos prontos para serem desvendados.
Dezenas de prateleiras enfileiradas lado a lado, do chão ao teto empilhadas com conhecimento do mais antigo ao atual.
Hades estava parado no meio do piso de madeira brilhante, com a boca aberta e os dedos coçando por não saber por onde começar a exploração.
- Acho que quebramos ele.
- De fato, quebramos ele. Perdi meu afilhado pelos próximos meses, já estou até vendo.
Hades ouviu aquilo apenas ao fundo, com sua mente trabalhando em estratégias de por onde começar, e quantos livros ele teria que ler por dia para conseguir terminar todos antes de morrer de velhice.
- Acho que cometemos um erro, prima. Ele não vai querer sair daqui nem para nossa ultima parada. O presente que preparei com tanto amor e carinho para ele. - Sirius provocou, se aproximando de Hades e batendo em seu ombro, fazendo seus olhos verdes voltarem a focar na realidade e lhe olhar curiosamente.
- Presente?
- Presente. - Confirmou.
- Para mim? - Ele estava extremamente confuso agora, esquecendo até dos livros.
- Para você, filhote. - Com paciência, Sirius confirmou mais uma vez.
- Mas… Por que?
- Não precisamos de uma ocasião especial para dar presentes, meu querido. - Comentou Narcisa, lhe dando um sorriso doce.
- Mas…
- Sem “mas”, meu bem. Você não está curioso? - Narcisa viu a incerteza nos olhos do seu garoto, e quase bufou em descontentamento. “O que aquele monstro havia feito com a criança para ele ter medo até de um presente?”
- Tudo bem, vamos. – Hades respondeu por fim, incerto.
No mesmo corredor da biblioteca, que ficava no segundo andar juntamente com os quartos secundários e escritórios, havia uma porta toda feita de vidro, mas aparentemente encantada no momento para não se ver através dela.
Esta era a ultima porta que faltava, tendo em vista que eles saíram do terceiro andar, que ficava os quartos principais. Ido para o primeiro, onde ficava a cozinha, dormitórios dos elfos e salas de jantar sociais e privadas como também o salão de baile. Também havia as masmorras, um andar abaixo do solo, onde ficava o laboratório de poções e algumas salas vazias para estudos e duelos.
Parando em frente a porta de vidro, olhou para trás vendo Sirius e Narcisa lhe retornarem o olhar em expectativa, de braços dados e totalmente ansiosos.
Se virou para frente e levou os dedos a maçaneta de bronze e a girou fazendo a porta se abrir, revelando o jardim mais lindo que ele não ousava se quer imaginar.
Era uma estufa de três andares, pegando a parte de trás da casa completamente.
As escadas brancas eram cobertas por videiras que se entrelaçavam em seu corrimão.
Penduradas por correntes de bronze às vigas sobre o teto de vidro, haviam vasos de plantas que escorriam seus galhos sobre o recipiente, fazendo o teto todo dar uma impressão de ser uma cascata de galhos e folhas.
No chão haviam sessões de todas os tipos de plantas e flores que se podiam imaginar, algumas sendo extremamente raras.
Hades se encontrava preso no chão com a boca aberta e os olhos verdes brilhando, correndo por todos os cantos, sem fala.
- Uau… - Conseguiu encontrar sua voz fraca, ainda olhando todos os detalhes e cores em sua volta.
- Não conseguimos fazer ao ar livre porque o clima aqui não é propício para muita delas. Cada sessão é encantada e monitorada pelos elfos para permanecer na temperatura perfeita de cada grupo delas.
- Eu… nem sei o que dizer. Sério! Como você fizeram isso? - Hades estava completamente embasbacado.
- Desde que te conheci vim montando esse projeto, e agora finalmente ficou pronto. Vá explorar enquanto eu e Cissa tomamos um chá, para nos encontrar apenas chame por Mandy, a nossa elfo e ela lhe dirá como. - E viraram e saíram, bem mais leves e felizes, refletindo os sentimentos do outro bruxo.
Hades nem se deu ao trabalho de olhar para eles, apenas vagou pelos corredores de tapetes de gramas dando toda a sua atenção a cada flor e planta que conseguia reconhecer ou que nunca havia visto. O que ele agradeceu eternamente, foi que cada uma delas era catalogada com uma placa explicando seu nome e informações cruciais. O que daria para ele pesquisar mais a fundo depois.
Em intervalos regulares, haviam bancos de madeira postos entre as sessões, e quando Hades passou por uma que deveria ter um, estranhou quando encontrou uma parede de folhas tampando o que deveria ser a parede de vidro.
Quando tirou as folhas do caminho e entrou, notou que era diferente do outro espaçado. Não haviam plantas no teto, ou flores pelo chão, na verdade não havia nenhuma flor no local.
Uma pequena arvore de cerejeira estava no meio da clareira, com um balanço ao seu lado. Dava para ver perfeitamente o céu lá fora, as montanhas e vales que se estendiam a quilômetros de distancia, os riachos que cruzavam as terras desertas.
Era como um paraíso.
Seus olhos se encheram de lagrimas, e ele caiu de joelhos.
Aquele espaço… Uma representação do que já havia sido um refugio para ele.
O jardim secreto.
Um lugar que passou seus melhores momentos com o homem que amava como um pai.
Um lugar de paz e acolhimento.
Seus ombros se livraram da tensão que nem sabia que tinha, e uma pequena lagrima escorreu de seu olho direito, involuntária.
Hades sentiu seus olhos arderem e algo pingar em sua mão.
Olhou para cima para ver como era possível estar chovendo ali dentro, mas então a umidade desceu pelo seu pescoço e ele levou a mão ao rosto, apenas para se surpreender com esse fato.
Se levantando apreçado, foi para uma parte espelhada da parede de vidro, e notou seu nariz vermelho e um rastro molhado em sua pele pálida.
Ele chorou!
Como era possível, ele não sabia. Achava realmente de todo seu coração que nunca mais poderia fazer tal coisa.
Olhou mais uma vez para o pingo em sua mão e levou o dedo da outra mão a ela, sentindo a textura, e riu.
Gargalhou alto na verdade, verdadeiramente feliz.
Poderia ele se acostumar com esse sentimento misterioso e raro? Quem sabe.
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Grindelwald e o Herdeiro do Caos
Fanfiction(EM ANDAMENTO) Depois de se livrar do atual lorde das trevas e sequestrar Harry Potter, Grindelwald o cria para ele pensar que é seu pai, entretanto, a única coisa que ele quer do agora pequeno Hades, é que ele seja um soldado perfeito, frio e insen...