10 • KD & KM

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Na Montanha das Flores e Frutas, uma caravana de gorilas sobe a montanha onde moram os grandes sábios que partiram na jornada do bastão todo poderoso. KD é um gorila albino adulto gigante que lidera a caravana junto de seu irmão gêmeo KM.

Há um pequeno macaco de 14 anos sendo arrastado contra a própria vontade entre os brutamontes. Kongo teve a infelicidade de ser sequestrado e mantido refém a um mês. Se manteve tranquilo o máximo que pôde na última semana sob fortes ameaças de morte.

KD viu como o refém definhava nos últimos dias. Mais chorava do que se alimentava. Resolveu abrandar o cárcere não por pena mas por simplesmente querer que a criatura durasse mais em suas mãos.

- Kongo, meu rapaz, vem cá. - KD puxa Kongo para perto de si, dando um sorriso de arrepiar todos os pelos do jovem primata acorrentado. Kongo engole em seco e luta para não deixar seu medo transparecer em forma de tremedeira. Agradece aos céus mentalmente por todos estarem calmos e silenciosos. A caravana segue a pé, andam lentamente para não se cansarem tanto afinal estavam indo tocar fogo em toda a aldeia e destruir seus moradores exige uma disposição muito maior do que sequestrar um simples macaco adolescente.

- Se quiser que sua namorada fique viva, vai ter que nos ajudar a chegar naquele bastão. - KD fala sem encarar o pequeno símio que logo tenta se explicar.

- E-eu ju-juro que não sei aonde esse bastão está! Por favor, KD, me deixe ir e não faça nada a-

- CHEGA! Seu miserável chorão! - KD o sacode pelo antebraço, fazendo de tudo para não partir o crânio de Kongo ao meio como uma melancia madura. Se afasta do rapaz enquanto espragueja em sua língua natal e chuta alguns capangas atrasados na caravana.

- Você tem muita sorte, garoto - comenta KM com um sorriso de dentes de ouro -, por pelo menos saber aonde vive Seis Orelhas Macaque e seu inseparável capanga Sol Wukong!

KD é o primeiro a chegar na aldeia. Alguns macacos o olham assustados, nunca se deram bem com gorilas, principalmente os raros da raça gigante.

- Velho... parado aí. - KD para bem em frente ao sábio contador de lendas.

O velho para e arregala os olhos. Reconheceu a morte em sua frente. Receber a visita daqueles gorilas podia ser o passaporte para o outro mundo.

- Só me diz uma coisa. - KD fala baixo tentando controlar a ansiedade e a raiva. Por sorte, o ancião ouve tudo e o gorila albino prossegue mas, dessa vez, urrando cada vez mais alto. - Aonde está Sun Wukong? RESPONDAAA!

- Não sei de quem está falando...

O gorila bate no peito e berra em sua língua para atacar e saquear. Em pouco tempo, parte das casas de palha se vão em meio as chamas. Mestre Yuzu consegue correr e se esconder. Consulta seus pergaminhos e encara a cicatriz em sua mão. Recita um feitiço que teletransporta os gorilas para longe dali e, para garantir a segurança dos ainda vivos mas terrivelmente feridos aldeões, cria uma barreira mágica de proteção que vai funcionar como um escudo onde ninguém pode entrar ou sair sem uma poderosa magia que anulasse essa.

- Mestre Yuzu! Muito obrigada por não entregar os meus meninos! Obrigada! Obrigada! Obrigada! - Ume chora e se agarra as vestes do ancião.

- Como... como pôde mentir para aqueles gorilas? - questiona um irado Kai, o marido de Ume. Ela se afasta do idoso.

- E quem disse que eu menti? - diz o velho sábio com um pequeno mas intenso sorriso. - Eu não conheço nenhum "Sun Wukong". Conheço o pequeno Wukong, somente. E mesmo que eu conhecesse, nunca entregaria um de nossa família.

- Ainda não entendi. - Kai se senta diretamente na terra e tenta parar de tremer enquanto luta para suavizar a sua feição de ódio.

- Pior que realmente não existe ou existiu nenhum Sun Wukong nessa ilha. Apenas Wukong. - comenta uma velha yokai bruxa muito amiga do sábio. Ela consultou, através de magia de rastreamento, alguém que teria esse nome mas nada lhe foi apresentado.

- Um deles me perguntou sobre um tal de "Six-Eared Macaque"! - comentou um macaquinho de 9 anos cheio de escoriações. - Eu também disse que não conhecia ninguém com esse nome. E faria a mesma coisa que o senhor, mestre Yuzu, caso eu conhecesse.

- Fez o certo, querido. - Ume o abraça em agradecimento.

- Essa barreira... vai durar por quanto tempo? - Kai pergunta ao se levantar, parte da tremedeira tinha ido e dado lugar a calma.

- É para durar até a volta dos meninos que foram atrás do cajado negro - Yuzu diz e acaricia as costas doloridas da correria de mais cedo -, aproximadamente 300 dias.

- Mestre, isso é loucura! - Kai sente os olhos lacrimejando. - Como não podemos sair daqui, em pouco tempo toda a comida que temos vai acabar!

- Verdade! Vamos morrer de fome! - grita um da multidão que se forma ao redor do idoso.

- Escuta aqui, seu velho imundo! - Kaz, o macaco que odiava banhos, vai até o ancião e o agarra pela gola da túnica.

- Como ousa falar assim com o mestre? Mostre respeito! - Ume separa a mão de Kaz da roupa.

- Fica calma, Ume. - Yuzu assente para ela.

- Isso, fica quieta! - Kaz range os dentes e Kai se controla para não bater nele. - Isso aqui é muito sério! Como ousa e porque esperar por aquelas pestes? O que eles vão fazer por nós? Nos salvar?

- Exatamente. Quero dizer... eu espero... - Yuzu responde seriamente, dá meia volta em si mesmo e entra na cabana para idosos mais próxima onde vai tentar se livrar da dor que está aumentando em suas costas.

Os yokais vão se dispersando assustados e Ume segue seu marido que se afasta com uma expressão sombria em seu rosto.

- Kai, aonde vai?

- Se é do bastão que precisamos... vou atrás.

- Mas-

- Apenas respeite a minha decisão. E não, você não pode vir comigo. Cuide do sábio, precisamos dele bem e vivo.

- Querido, por favor...

- Não insista.

- Como vai sair daqui?

- Com o último pó mágico de teletransporte que herdei. Prometi que usaria em emergências. É a hora certa.

Wukong & MacaqueOnde histórias criam vida. Descubra agora